Um país onde
tudo pode e nada é sério. Os poderes se constituem à base dos financiamentos
privados de campanha eleitoral, o que resulta na formação de quadros, na
composição do legislativo e do executivo, completamente mercantilizados,
comprometidos a restituírem aos financiadores nada menos que o dobro do
investimento feito.
Desse modo, os partidos
perderam a expressão ideológica e programática que faziam umas siglas
diferentes das outras. Há políticos que
começam a angariar adesões com a explícita afirmação de que fidelidade
partidária e ética “são conversa para boi dormir”. Doadores expõem de imediato suas
condições: “entro com R$
800.000,00 mas quero pelo menos R$ 1.600,00 de volta.” Isto por baixo, no âmbito dos pequenos municípios,
para os quadros de vereadores e de prefeito.
E nenhuma campanha se faz com apenas um doador. Multipliquem-se esses valores por 10, por
100, por 1.000, para se ter uma ideia de quanto os pagadores de impostos terão
que desembolsar para os ocupantes dos cargos e seus costas largas. E quando se trata de eleições para a esfera
estadual e para a federal, como as do ano que vem(2014), esses valores se
tornam infinitos.
Esses costumes vêm se
acumulando há algumas décadas. Desde que
se abriu o financiamento para empresas.
Se antes as pessoas físicas abusavam do poder econômico, com a adesão
das jurídicas, o abuso extrapolou os limites pensáveis. Resultou na privatização de todas as
atividades públicas, direta ou indiretamente.
O poder do
povo, pelo povo e para o povo virou ficção.
A governança, a partir dos municípios, gira em torno de interesses
privados. O estado de direito, a
democracia plena funciona a partir dos R$ 10.000,00. Quem se inclui nessa faixa de renda para cima
tem os poderes agindo a seu favor. Apenas,
0,03% da população brasileira têm renda média acima desse valor. Quer dizer que 99,97 estão abaixo desse
patamar. Quase o total. Onde está a democracia para o povo?
Os que têm renda familiar de
R$ 291 a R$ 1.019,00 por pessoa são mais da metade da população. E são
considerados ‘classe média’. E os
pobres, então, que formam a base da pirâmide social?
Os critérios são falsos para
estabelecer essa divisão de classes.
Quem tem renda de dois salários mínimos (R$ 1.350,00), neste caso, se
enquadra na classe média. E pensar que
dois salários mínimos dão apenas para a metade das necessidades de uma família
viver de acordo com o mínimo necessário
estipulado pela Constituição Federal!?
Esses privilegiados 0,03% da
população (renda acima de R$ 10.000,00) têm a favor deles tudo: o direito de
usar meios ilícitos para conquistar eleições e serem contemplados pela
presunção da inocência e pelos “embargos infringentes”, como demonstrou o
Supremo Tribunal Federal com a turma do Mensalão recentemente. Jogaram o novo
julgamento para o primeiro semestre de 2014, talvez para rolar, rolar e
rolar... De uma só tacada, o Supremo
livrou os condenados (ala liderada pelo PT) e os a serem julgados (ala liderada
pelo PSDB). As calendas gregas ficam de
braços abertos para acolher essas procrastinações.
Quando as elites dirigentes
vivem nesse estado de impunidade e fazem o que querem das leis e do direito,
não é de se estranhar que a massa esteja desnorteada, espelhada em maus
exemplos dos crimes que provocam a falta de escolas, de saúde, de moradia e de
vida digna. Não se implanta a
moralidade, locupletam-se todos, já filosofava o genial Stanislaw Ponte Preta
(Sérgio Porto), nos anos 60. O Crime
Organizado, o Narcotráfico, os assaltos a casas lotéricas são a imitação da
plebe do vandalismo das castas dominantes.
E chega tão perto, não mais
como ficção de filme de terror, o conflito de grupos rivais, como o tiroteio de
anteontem, quarta-feira, no Horto Florestal de Ubá, em plena multidão. Apavorante, mas muito menor do que tudo o que
está contido no processo do mensalão, ação 470, onde a Suprema Corte assegurou
aos réus a máxima oportunidade de defesa que, na prática, resulta em nada.
A Plutocracia disfarça uma
ditadura financeira e alimenta a farsa de que vivemos em regime de plenos
direitos democráticos desde a promulgação da Constituição de 1988, 25 anos, a
mais duradoura das nossas cartas magnas com presidentes ‘eleitos’ diretamente
pelo povo. O povo ‘elege’ entre os
previamente escolhidos pelos donos do capital, que representam os mesmos
interesses.
Estamos vendo que com uns e
outros a riqueza nacional vai sendo transferida para o domínio das
multinacionais: Lá se foram a CSN, a Vale do Rio Doce, o monopólio da
distribuição do petróleo, a exploração dos vários campos descobertos pela
Petrobras, e agora o campo de Libra, o maior achado do mundo, que os
governantes propõem entregar ao domínio estrangeiro, quando a legislação
restante permite ficar diretamente com a estatal brasileira, sem depender de
licitação.
Há tanta riqueza para
distribuir para aqueles 0,03% da casta financeira, enquanto o trabalhador tem
de se resignar com um quarto do que precisa para manter a família em suas
necessidades básicas de sobrevivência.
Quando apuramos a renda per
capita do município e da união, constatamos que em um e em outro há
possibilidade de a família receber a renda de que precisa e sobra mais da
metade para manter a máquina pública.
Isto só não
acontece, porque os governantes deixam de promover a justa distribuição da
renda. E fica essa casta corrupta com
todos os benefícios do trabalho do povo e das nossas riquezas naturais. Nessa “democracia” fica para os exploradores
o filé, e para o povo as favas.
O clima de violência nada
mais é do que conseqüência.
(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)