Até meados do Século passado, o poder
econômico incomodava os sonhos de um regime socialmente justo, mas tinha
limites enquanto a legislação impedia a participação direta de empresas nas
campanhas eleitorais. Por isto havia partidos e candidatos que chegavam ao
poder com programas e ações que contemplavam, de algum modo, as aspirações e
necessidades da classe trabalhadora. Era clara a existência de Direita e
Esquerda nos espaços dos poderes legislativos e nos executivos.
A descaracterização dos partidos e
candidatos veio depois da abertura às pessoas jurídicas (empresas) de participação
direta nas doações e financiamento de campanhas eleitorais. O voto vinculado imposto pela Ditadura
Militar para os cargos de Presidente, Governador, Prefeito e seus Vices deu aos oportunistas sequiosos de
poder a chance de fazerem as composições mais esdrúxulas e contraditórias para
somar apoios sem compromisso com princípios e programas.
Nos postos mais altos, a avacalhação
começou com Fernando Henrique Cardoso, até então um sociólogo que fora exilado
político e participara das lutas pela justiça social. Ministro da Fazenda no curto governo de Itamar
Franco elaborou o Plano Real, após contato com os papas do FMI, nos Estados
Unidos. Voltou como um cão amestrado, e
recomendava que esquecessem tudo o que ele escrevera e falara até então. Tinha vendido a alma ao Diabo. Continuou
ainda desfrutando de sua imagem de “esquerdista”, sociólogo que seduzia tanta
gente. E foi buscar na extrema Direita
aliança com Marcos Maciel(PFL) a coligação esperta. É como se FHC conquistasse
as massas e a juventude sonhadora, e Maciel a garantir aos neoliberais que
poderiam ficar tranquilos. Dalila(Maciel)
cortara o cabelo de Sansão(FHC).
O Plano Real, com a estabilização da
moeda, conseguia deter a inflação, e a nova moeda chegava a superar o Dólar,
uma façanha maquiavélica, graças à artificialidade da estabilização, ancorada
nas criminosas privatizações das empresas estatais rentáveis, que enchiam o
Tesouro de moedas podres durante o tempo necessário para iludir o povo com a
importação de eletrodomésticos e sua penetração nos lares da classe média com
relativa facilidade.
Ganhou o primeiro mandato sem esforço, e governou buscando apoio de um Congresso Nacional vulnerável às
vantagens da troca por cargos e por ganhos extras. Não havia reeleição. A concessão de canais de rádio e televisão
para os congressistas serviu de moeda como as primeiras práticas do Mensalão, a
fim de conseguir emenda na Constituição para dar-lhe direito a concorrer a um
segundo mandato. Às vésperas das
eleições, o real dava sinais de esgotamento e ameaçava trazer de volta a
inflação. Manobras de sua equipe
econômica evitaram despencar a moeda brasileira e, aos trancos e barrancos,
ganhou um segundo mandato.
Deu asas às privatizações escandalosas,
com características de crime de lesa pátria.
O maior exemplo foi a venda-doação da Cia. Vale do Rio Doce, entregue
por preço inferior a um décimo de seu valor real. Os lucros que eram do Tesouro Nacional
ficaram com os grupos estrangeiros, que ainda tiveram financiamento do Banco
Nacional do Desenvolvimento Econômico em condições de “pai para filho”. Entre muitos outros males ao povo brasileiro,
criou o fator previdenciário, que desvaloriza as aposentadorias acima de um
salário mínimo.
No fim desse segundo mandato o
descontentamento era geral. As ruas
pediam mudança de partido e de perfil de candidato. Lula vinha disputando há quatro mandatos. Tinha aparente história na Esquerda, com seu
Partido dos Trabalhadores (PT). O perfil
de metalúrgico diferia do doutor em sociologia com formação na Sorbone. E
diferia do candidato José Serra, saído da manga do colete de FHC. Pouca gente sabia que Lula e PT tinham sido
forjados na bigorna da Ditadura pelas mãos do bruxo Golbery do Couto e Silva. Ao povo parecia a mudança, a esperança, a
transformação. Repetiu a aliança de
FHC. Teve em José Alencar(PL) o vice, com perfil ideológico de
Marco Maciel. Venceu as eleições numa explosão de desabafo do povo, cansado de
experimentar os conservadores de formação acadêmica.
Como seu antecessor, Lula manteve o
ritmo das privatizações e as demais medidas.
Tudo o que criticara em campanha, repetiu como se fosse uma reencarnação
do ainda vivo Fernando Henrique Cardoso. Os programas Bolsa-Escola, Vale Gás e
semelhantes ficaram resumidos no Bolsa-família, um assistencialismo permanente,
tirado principalmente dos aposentados de vencimento médio. As regalias concedidas ao sistema financeiro
continuaram. A concentração de renda cresceu.
Ela que vinha dos mais de 50% do PIB nas mãos dos 10% mais ricos,
atingiu e ultrapassa os 75%. A
composição da base aliada no Congresso a troco de ministérios e outras
vantagens fez vazar o tumor do Mensalão iniciado nas arrecadações de fundo de
campanha e persistido no exercício do poder. Em torno do PT, partidos que antes iam da
extrema direita à extrema esquerda, passaram a girar como satélites, dentro do
fisiologismo mais escandaloso que se possa imaginar. Antigos inimigos como Sarney, Collor, Maluf, passaram
a comer na mesma mesa dos que um dia estiveram no exílio ou na luta armada
contra a Ditadura e a entrega da soberania nacional.
Veio Dilma com Michel Temer a tira-colo. O povo mais uma vez pensou que era algo
diferente. Afinal, o Brasil nunca tivera uma mulher presidente, que quer se
impor como “presidenta”, e nada mudou.
Existe em comum entre esses presidentes: visita aos Estados
Unidos antes de se declararem candidatos.
Ter contato com os organismos econômico-financeiros e com o próprio
presidente do Império das Américas. Tudo indica que nesses contatos recebem
passa-porte para suas pretensões de candidatos. E, certamente, o aval para o
financiamento de suas campanhas.
Esse modelo de dependência dos organismos financeiros para
gerar recursos para as campanhas funciona para os candidatos a governadores de
estado e para prefeitos. Quem não passar
por esse “beija-mão”, mal consegue
registro na justiça eleitoral. As
pesquisas evitam citá-los. Quando aparecem, têm 1%.... às vezes até 6%. Enquanto isto, dois vão polarizando as “intenções
de votos” e sendo mostrados como concentradores da preferência popular. Estes estão comprometidos com os mesmos
interesses das classes dominantes. E delas recebem os altos
financiamentos. É como pegar uma moeda e
jogar para cima. Com qualquer resultado,
os financiamentos retornam com gordas vantagens para os financiadores;
empreiteiras, fornecedoras de material para a máquina pública, instituições
financeiras. São os aquinhoados pelas
privatizações, terceirizações, doações, que fazem o povo brasileiro pagar os
mais altos impostos da América Latina.
Depois de longo tempo escancaradas essas práticas abusivas, a
falta de ética, decoro, honestidade, vergonha dos agentes públicos, um protesto
por R$ 0,20 de aumento de passagens em São Paulo, no mês passado, fez o país explodir de canto a canto, nas
cidades de maior porte, onde as respectivas populações, principalmente jovens,
se sente livre dos grilhões opressores das
oligarquias locais. As ruas se encheram de protesto contra todo o complexo
político-administrativo. E caíram por terra os formatos de partidos, seus
membros e todas as instituições em torno dos quais giram.
Imagem: Blog Agravo
Agora, de nada adiantam palavras sinceras ou enganosas. Todas
e todos perderam a credibilidade. A palavra da presidente, em rede de TV e
rádio, foi abafada por vaia generalizada. Palavras ao vento.... “e o vento levou...” Não são só as palavras da presidente. Agora as palavras dos políticos o vento
leva.
As eleições de 2014 provavelmente terão alto grau de
corrupção. Talvez votarão somente os
eleitores que se corrompem a troco de vantagem.
Ninguém estará acreditando em promessas. Propostas de mudança de forma
de governo não interessam. Há presidencialismo
bom e ruim. Há parlamentarismo bom e
ruim. Os votos proporcionais ou
distritais também os há de um jeito e de outro.
O que o povo quer são mudanças de comportamento dos agentes públicos,
com mais critério nos gastos e menos sede de impostos. O povo quer e precisa de
saúde, educação, salários capazes de atender à sobrevivência digna da
família; distribuição de renda, respeito
na relação administrador/contribuinte. Está difícil imaginar o coletivo político e
pensar descobrir um que não esteja praticando ou compactuando com ato lesivo à
economia popular.
Todos sabem que, querendo ou não, seremos sempre governados
por políticos. Que a omissão piora cada
vez mais o quadro. Mas chegou a um ponto
que é preciso parar, refletir, pensar uma saída.
Para isto tem que haver
uma trégua. Começar tudo de baixo para cima. O dono da coisa pública tem de
promover as reformas, pacíficas, mas revolucionárias. Tem de estabelecer
limites para a remuneração dos agentes públicos. E parâmetros entre os seus
ganhos e o dos trabalhadores. Tem de estabelecer o financiamento público
exclusivo de campanha, a possibilidade de interromper um mandato, o impedimento
de candidatura por quem tenha a probidade comprometida, o afastamento de quem tenha sido condenado em qualquer instância,
até que o condenado prove sua inocência, com inversão do ônus da prova.
Mudar é preciso. E o
povo está alerta para saber quem e como se promoverão essas mudanças.
(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
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