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A Estrada de Ferro Leopoldina Railway,
depois de encampada no início dos anos 50 pelo governo brasileiro, desempenhava
relevante papel social em nossa região, quando ligava o Rio de Janeiro a Ponte Nova
e chegava até Caratinga. Era meio de
transporte barato para cargas e passageiros e sujeito a menores riscos de
acidentes se comparado às rodovias. Seus
operários recebiam justa remuneração para manutenção da estrutura de seus
trilhos, com base em pedras britadas e dormentes, durante algum tempo de
madeira, depois de ferro. Construíam
suas casas às margens da ferrovia e fortaleciam o mercado das cidades por onde
passava. Fonte de emprego seguro que
dava suporte aos trabalhadores para manterem suas famílias e ajudar
parentes em situação menos favorável.
A ferrovia é o segundo meio de transporte
mais barato, atrás apenas da hidrovia. E
o país tem no ferro a matéria prima necessária para a produção de suas
máquinas, vagões, classes e os trilhos. A siderurgia veio em meados do Século passado a fim de processar essa transformação. Para se ter uma ideia do quanto seus
custos são baixos, basta comparar um trecho de estrada asfaltada com outro de
mesma distância composta de dois trilhos e dormentes. E a durabilidade da ferrovia é muitas vezes
superior à rodovia, além da capacidade de volume transportado. Enquanto o “cavalo” de uma carreta puxa
apenas uma carroceria, a máquina de trem arrasta um comboio de dezenas de
vagões. O número de passageiros de um
ônibus é incomparavelmente inferior aos viajantes de várias classes de
trem. Essas capacidades deixam clara a
diferença de custo de uns e outros.
Por outro lado, a economia de divisas
no transporte ferroviário fica evidente, quando percebemos que o seu material
não depende de importação. No transporte
rodoviário os pneus, embora produzidos com a borracha da nossa Amazônia, suas
fábricas são Goodyear, Firestone e outras marcas estadunidenses, e com
durabilidade limitada. Não há razão
lógica para a substituição do transporte ferroviário pelo rodoviário, a não ser
interesses econômicos de grupos multinacionais que encarecem a locomoção de
pessoas e o preço de mercadorias transportadas.
UM RETROCESSO INEXPLICÁVEL*
“A involução
da malha ferroviária ilustra com perfeição a situação da infra -estrutura
brasileira. O ideal seria que ela tivesse, pelo menos, 55.000 quilômetros de
extensão.”
Essa substituição impatriótica e
prejudicial à economia popular tomou corpo a partir da Ditadura Militar. E
Visconde do Rio Branco, como todas as cidades que serviam de itinerário para a
Estrada de Ferro Leopoldina, sentiu os efeitos danosos da privatização da
estrada de ferro, que levou à sua extinção, à queda do emprego de qualidade
para o trabalhador, e do mercado local.
Os países desenvolvidos, principalmente
os de dimensões continentais, têm nas ferrovias seu principal meio de
transporte. A substituição ocorrida no
Brasil, e sentida diretamente aqui, corresponde a uma ação criminosa, de lesa
pátria, pois contraria os interesses do país e de seu povo. E leva os
trabalhadores, que poderiam estar ocupados na ferrovia, a se submeterem ao
subemprego de salários irrisórios de um sistema responsável por uma crescente
concentração da renda e da riqueza, que torna o Brasil um dos países mais
injustos do mundo.
A transformação que vemos em Visconde
do Rio Branco é um retrato do Brasil. Testemunhamos aqui a força de trabalho
mal remunerado produzir a riqueza da terra que vai para fora. Fica a migalha para o povo. E o grosso dessa
produção fica em poder de poucos, que vão acumulando, acumulando. Com os bens acumulados uma minoria tem cada
vez mais poder em uma espiral sem fim, sem limites, que faz do trabalho um
objeto de mercado, e do trabalhador uma peça qualquer, como engrenagem de uma
gigantesca máquina. Depois de velha, ou
quebrada, é jogada fora, descartada como sucata humana.
São histórias paralelas a da nossa
Leopoldina e a do nosso povo. Ela foi Railway
que servia para canalizar nossos valores para os ingleses. Encampada, teve valor nacional e serviu ao
nosso povo. Privatizada, virou sucata
para favorecer às multinacionais exploradoras de nossas estradas de
asfalto. Agora se anuncia a sua volta, para
ligar Uruaçu(Goiás) a Campos dos Goytacazes(Rio de Janeiro), nestes tempos de
Petróleo e Pré-Sal no litoral fluminense.
As privatizações estão ocorrendo em todos os setores rentáveis da
economia brasileira. As rendas no setor
energético vão destinar 90% aos grupos privados predominantemente
estrangeiros; o governo brasileiro fica
com os restantes 10%. Essa estrada vai passar em parte da zona da Mata mineira,
coincidente com trecho da antiga estrada que um dia ligou a Paróquia de São
João Batista a Campos(RJ). Depois de Viçosa,
passará por Ervália, São Geraldo,
Guiricema, São Sebastião da Vargem Alegre, Miraí, Muriaé.... até chegar ao destino das riquezas no fundo
do mar. São Geraldo e Guiricema são partes da Comarca de Visconde do Rio Branco
e fazem divisa com a sede, que, no entanto, verá o trem de longe, não mais como
a Maria Fumaça, talvez nem ouvirá o seu ruído que as tecnologias modernas
eliminam. Vemos de perto os efeitos das
desnacionalizações que atingem até sentimentos piegas de um regionalismo
abafado pelo efeito da globalização predatória.
Lá foi o trem!!!!!
Imagem: Turista
(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
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