No meio estudantil os jovens sabem hoje quem são Renan Calheiros, José Sarney, José
Genuíno e similares, como uma tomada de
consciência repentina impensável há dois meses.
Como em um passe de mágica, saíram da total alienação política para o
conhecimento de que o sistema de educação e a expectativa de seu futuro se
encontram no pior estágio de toda a história da república. Tudo por causa do
abuso que “eleitos” fizeram e fazem do poder.
Antes pensavam na forma de alcançar um
curso superior, nas diversões próprias ou impróprias de sua idade, nas extravagâncias,
nas baladas e nos estudos como algo traçado, programado pelos pais no curso da
vida. Havia certa preocupação em relação ao que fariam daqui a alguns anos,
quando desejariam estar livres das cobranças e vigilância dos paternas: o sonho de
independência, somente possível com a emancipação econômica, por meio de um
trabalho seguro e com rendimento que cobrisse a sobrevivência e a possibilidade
de compra de um imóvel para morar, acompanhado de complemento para gozar férias,
passear e conhecer o mundo, como tantos outros fazem.
Mas o sonho esbarrava na realidade da
vida dos pais. Não havia como escapar de diálogos com colegas ou monólogos em reflexões
isoladas. Como alguns podem fazer tudo
aquilo que desejam, e tantos mal conseguem o necessário para comer e morar e
muitos outros nem isto?
A televisão cobre o país inteiro,
mostra o esplendor do circo, mas omite o drama da população. Isto fica por conta da Internet. Neste ponto, explode a indagação: por que é
assim? De indagação em indagação, descobrem
que a gastança, o esbanjamento, correm por conta dos políticos, que, ao mesmo
tempo, desviam muito dinheiro para eles mesmos, seus familiares e
protegidos. Descobrem que o brasileiro
comum paga os mais altos impostos da América Latina, para sustentar os
políticos mais caros e mais corruptos do mundo.
As dúvidas, as trocas de idéias passaram
a dominar nos grupos no ambiente escolar, nas redes sociais da internet, em
todos os setores onde a busca do ensino superior predominava. E foi tomando corpo nas capitais e nos demais
municípios onde faculdades e universidades criavam o clima da busca das causas
de tantas desigualdades que iam além dos problemas puramente estudantis. Afinal,
os estudantes, por razões diversas, passam também pelos hospitais e veem os
corredores lotados de doentes sem atendimento.
Nas suas idas e vindas cruzam com crianças de rua, com mendigos, passam
por filas de desempregados, escutam reclamações de subempregados sobre o muito
que trabalham e o pouco que recebem. Assistem aos telejornais noticiarem as
construções dos suntuosos estádios de futebol onde se gastam fortunas em
contraste com as verbas para a educação e para a saúde. E, para essas construções, muitas famílias
são deslocadas de seu acostumado habitat para destino incerto.
Esses contrastes mexiam com a cabeça de
cada um nos momentos solitários e passaram a ser assunto predominante nos campi
universitários, nos pátios das faculdades, nas mesas de bares, nos intervalos
das noitadas dançantes, em todos os lugares onde os jovens se encontrassem. Uns se locomovem de carro sobre estradas mal
conservadas e passam pelos inconstitucionais pedágios que caracterizam a
bitributação e abalam o direito de ir e vir.
Outros trepidam nos coletivos em péssimas condições de conservação e
caros para passageiros de baixa renda.
Todos ficam sabendo que as obras para
conservação de rodovias são superfaturadas e, na maioria das vezes, ficam pela
metade. E sabem também que as empresas
de ônibus e as empreiteiras bancam as campanhas políticas dos candidatos e
depois cobram os financiamentos de maneira fraudulenta e os eleitos se tornam
reféns, para facilitar a abertura dos cofres públicos a favor dessas empresas. Essa dinheirama que sai pelo ralo faz falta
para a educação onde os estudos poderiam ser de graça para todos. Do mesmo modo, o povo é mal servido na saúde.
Profissionais da saúde e da educação, mal remunerados, trabalhando em ambiente
sem estrutura adequada, sentem-se incapazes de um desempenho eficaz.
Em um raciocínio simples, os jovens vêm
percebendo que todas as medidas ou falta delas que levam a esse descalabro são
decididas por prefeitos, governadores, presidentes da república, senadores,
deputados federais e estaduais, vereadores, que ganham rios de dinheiro, favorecem
parentes e amigos, que enriquecem de uma hora para outra.
Os jovens que passaram tantas gerações
indiferentes a tudo isto, de repente sentiram despertar aquela indignação de
seus avôs e bisavôs dos anos 40, 50, 60 e que parecem ter feito uma pausa em
68... do século passado e entraram no túnel do ópio e adormeceram até a
situação chegar ao fundo do poço de agora.
É como se o baque com o solo fizesse
despertar para a realidade. E o questionamento
que se fez silencioso e isolado por algum tempo, virou indignação nacional, em
um circuito provocado pelo grito contra o aumento abusivo das passagens de
ônibus em São Paulo. Eram R$ 0,20 na
individualidade, que se tornavam milhões no coletivo para benefício
injustificável de uns poucos. Aquele abuso estava sendo um jeito de ser da
classe política aliada ao lado podre da
classe empresarial sem ética nem respeito com a população. Viravam gigantescos
impérios empresariais, com prejuízo para as pequenas e médias empresas a dançar
na corda bamba para tentar sobreviver, pagar a pesada carga tributária, estudos
dos filhos diante de um mercado interno fraco, porque toda a massa monetária
está sendo desviada para os 10% mais ricos, que ficam com mais de três quartos
de toda a renda produzida. Esses dez por
cento privilegiados os jovens vão descobrindo que são os políticos, os seus
protegidos e os corruptores.
As manifestações explodidas no país
inteiro refletiram a descrença em uma classe que, de qualquer maneira, decide o
preço do arroz, do feijão, do leite, do livro, dos impostos, dos ingressos nos
estádios de futebol. Com todo esse poder
de decisão ficou tão desgastada e desacreditada, como ficaram os militares
durante a ditadura que durou tenebrosos 21 anos. Naquele período, filhos de militares eram
discriminados por seus colegas na escola. Hoje, os filhos de políticos vivem o
mesmo drama, porque no ambiente da família a reclamação contra políticos é
constante.
Aí está a revolução cultural. Uma
tomada de consciência. Um impasse.
A juventude agora se interessa em tomar
posição. Revolta-se contra um Senado que
elegeu por quatro vezes José Sarney, duas vezes Renan Calheiros, ambos que já
estiveram à beira de cassação de mandato por problemas judiciais. Observa a Câmara dos Deputados que elegeu
Henrique Eduardo Alves. Uns e outros
abusam na farra de passagens e de viagens a jato por conta dos cofres públicos
para ver jogo de futebol. Esses presidentes, eleitos pela maioria das
duas casas mostram a qualidade (ou fala dela) do Congresso Nacional e, por
extensão, das assembléias legislativas e câmaras de vereadores. Todos usam os mesmos expedientes perdulários
com o dinheiro público que falta para os serviços de alcance social. Se está assim o Legislativo, do mesmo jeito o
Executivo, nos seus conchavos com as empreiteiras, empresas de ônibus e outras.
E o impasse está nisto: descrédito e
desmoralização da classe política. E,
fatalidade, ela é quem decide toda a vida da nação. Estamos a pouco mais de um
ano de novas eleições. Falta tempo hábil
para correção. Tudo precisa mudar. Todos
os poderes são exercidos por políticos.
É imperativo mudar o modelo dos partidos, o comportamento e o perfil dos
agentes políticos, a distribuição da renda.
E não há tempo para se fazer transformação que vigore para as próximas
eleições devido ao princípio da anuidade.
Se o otimismo permitir acreditar que os
eleitos no ano que vem farão as mudanças, elas somente poderão começar a valer
a partir de 2016.
Os movimentos de protesto tomaram um
fôlego. Deram uma trégua. Mas indignação continua, com tendência a crescer, à
medida que outros segmentos sociais ainda adormecidos despertem pelo grito
crescente dos inconformados.
A revolução cultural tem a vantagem de
ser desarmada e de estar fora do alcance das armas. Ela afasta qualquer pretexto de uso da violência
que, se houver, já nasce condenada.
Este impasse poderá provocar nas
eleições de 2014 a manifestação inédita da vitória do voto nulo. Talvez os
válidos ocorram por conta dos votos de cabresto e dos comprados.
Esperar para ver!
(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
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