segunda-feira, 9 de abril de 2012

Demolição de casas no centro da cidade corre a todo vapor. A nem todos agrada

09/04/2012 

Na última sexta-feira, 6, comentamos a demolição dos sobrados Sr. Antônio da Silva Valente, na Rua Voluntários da Pátria; e do Sr. Chicre Amin, na Rua Floriano Peixoto – Morro do Cemitério.  Naquela mesma noite, pouco tempo depois de postada a matéria, recebemos de Marco Aurélio Carone(BH), filho do ex-prefeito Jorge Carone Filho e sobrinho de outro ex-prefeito, Julinho Carone, a seguinte mensagem:
com tristeza li no seu jornal que a casa de meu padrinho Chicre Amin foi demolida. Indago se ela não era tombada? Fiquei sabendo que a casa que era dos herdeiros do meu tio Julinho também teria sido comprada parece que em um leilão no Rio de Janeiro pelo Cadedo, que seria o dono da casa do Chicre. Será que ela também será demolida?”( 6 Apr 2012 22:41:46 -0700)
Sobrado da família de Chicre Amin - Casa Santo Antônio - Rua Floriano Peixoto. Demolida. Imagem: Isah Baptista

Para esclarecimento ao público, devemos informar que a casa que pertencera à família de Júlio Carone fica ao lado do sobrado do Sr. Chicre Amin.
Respondi ao Marco Aurélio o que sabia:
“Não sei dizer se a casa era tombada. Sobre a do Julinho não tenho notícia.  Dona Theresinha Almeida Pinto, Diretora do Museu Municipal está sempre atenta para esses casos de tombamento. Vou procurar saber dela.
Ali daquele lado há algumas casas que mereciam ser tombadas. Logo depois da casa do Chicre, seu padrinho, existe a casa que foi da Mariazinha do Zé Fogo. Você deve saber quem é. A Mariazinha era a cantora que fazia Verônica na Semana Santa.  Eu soube que o herdeiro dela vendeu a casa há tempos por R$ 200.000,00, não tenho certeza.  Pelo andar da carruagem, talvez ela também venha a ser demolida. A especulação imobiliária está comendo solta nos pontos históricos do centro da cidade.” (7 de Abril de 2012, 2:59).
Casa da Mariazinha(ela na sacada). Demolida. Rua Floriano Peixoto - Morro do Cemitério. Imagem: Isah Baptista


No mesmo dia 07/04/12, sábado, dona Theresinha Almeida Pinto responde:
“Li sua mensagem e tenho a dizer-lhe o seguinte:  realmente, o interesse imobiliário e o desinteresse do poder político estão juntos. Deixei o cargo de Presidente do Conselho, justamente por isso. É impossível lutar de forma tão desigual. Quanto às casas mencionadas, elas não eram tombadas, mas eram inventariadas, o que, realmente, nada significa, ao que parece.”
Nota-se um tom de desabafo e descontentamento nas palavras da Diretora do Museu do Patrimônio Público Municipal.
Para inflamar o clima dos que desejam preservar prédios históricos no centro da cidade, constamos na manhã desta segunda-feira que os três prédios em série já deixaram de existir: a do Julinho, do Chicre Amin e da Mariazinha. Estavam os lotes vazios cercados de tapume. Logo a seguir, existem a casa do José Werneck e a Clínica Santana, para se chegar à Trav. José Geraldo Reis. Não sabemos se esses dois últimos prédios estão na mira da demolição. A Clínica Santana apresenta aspecto sólido com aparência bem conservada.
Na certa, a opinião pública vai se dividir entre a conservação histórica e as demolições em nome do progresso para construir espigões, às vezes em condomínio fechado, para acesso à camada privilegiada da população detentora de alta renda, enquanto  os médios e pobres vão sendo deslocados para os altos dos morros, no isolados bairros populares e COHABs,  onde nem sempre chega o transporte coletivo. E as subidas e descidas íngremes, de ida e volta ao trabalho, provocam cansaço, baixo rendimento, pouco tempo para repouso e lazer. As bicicletas são fáceis nas descidas. Nas subidas têm que ser carregadas.    
Neste momento, precisamos conhecer alguns números.
Visconde do Rio Branco tinha, em 2009, 37.228 habitantes – com uma renda per capita de R$ 13.390,47
Em 2010, o IBGE contou 37.942 habitantes(crescimento de 1,02%) - com uma renda per capita estimada na proporção do crescimento populacional, teria chegado a R$ 13.527,05.
Em 2011, por estimativa, a população atingiu 38.353 habitantes(+1,08%) – com a renda per capita estimada na mesma proporção, teria chegado a R$ 13.673,13. 
Isto dá uma renda per capita  mensal de R$ 1.139,42.
A renda per capita – por habitante - tem a participação até de um bebê no ventre materno. A compra dos remédios para a mãe, as consultas pagas pelo cliente ou pelo Sistema de Saúde contribuem para formar o Produto Interno Bruto que, dividido pelo número de habitantes, mostra a renda per capita.  Por conseguinte, todos contribuem.
Isto que dizer que uma família formada por quatro pessoas contribui para a formação da renda do município com R$ 4.557,68 mensalmente.
Se para cada família fossem  destinados os R$ R$ 2.323,21 do salário mínimo constitucional de fevereiro, sobrariam R$ 2.234,47, para o Município, o Estado e a Federação manterem sua máquina.  E as famílias teriam o necessário para sobreviver condignamente com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, reajustado periodicamente, de modo a preservar o poder aquisitivo.
Se houvesse a justa distribuição da renda produzida por todos, deixaríamos de ter uma sociedade tão desigual, onde todos tivessem oportunidade de morar e viver sem tantas diferenças. 
Durante as construções desses espigões e possíveis condomínios fechados, os operários vão transitar como formigas, carregando sacos cimento na cabeça, subindo perigosos andaimes, fazendo massa e reboque. Outros carregarão canos para água e esgoto, instalarão torneiras. Serão os protagonistas principais enquanto a alvenaria sobe até chegar aos arremates. No final talvez terão festa de inauguração.  Depois desse espetáculo de construção, as cortinas e se fecham. E eles, que fizeram a massa de cimento, ficarão como o personagem da música CIDADÃO, de Zé Ramalho.
O trabalhador que produz aquela renda e aquela riqueza, fica marginalizado, e tem que voltar para o seu canto, no alto do morro, ou na beira do rio e aguardar para ver se seu domicilio resiste ao próximo temporal.
(Fontes de pesquisa: IBGE e DIEESE)

(Franklin Netto – taxievoce@hotmail.com)

Nenhum comentário:

Postar um comentário