segunda-feira, 9 de abril de 2012

Discurso de Brizola no Exílio - Encontro de Lisboa

09/04/2012 - Segunda-feira, 15:06



.....Aí está, então, uma posição da maior importância, como definidora da nossa autenticidade.


Continua...
Muitos poderão dizer, mas isto é o socialismo! Perfeito, nós não nos preocupamos muito com etiquetas. Temos que buscar uma definição enraizada no povo, na História, no contexto da realidade, nas tradições, que seja perfeitamente inteligível e compreendida pelo nosso povo. É possível que uma outra definição teórica possa ser mais perfeita, mas a definição que precisamos é aquela que tem que ser absorvida, entendida pelo povo. Acho que o trabalhismo já está incorporado à vida do nosso povo, e através dele nós podemos buscar as posições e as definições que necessitamos.
Gostaria de me referir ao seguinte: na hora em que nós definimos este arco que abrange a nossa base social, já seremos levados às duas prioridades que devem fazer parte essencial de nossas definições. São as duas prioridades máximas do trabalhismo brasileiro. Quero me referir ao nosso compromisso incondicional com as populações marginalizadas da vida brasileira, e antes disso com as nossas crianças e os nossos jovens que estão sendo condenados à degenerescência.
(Aplausos). De nada nos adiantarão as definições, as mais bem elaboradas, se não partirmos concretamente dessa posição. Todo o progresso, todo o desenvolvimento terá cheiro de carne humana se nós não encararmos o problema das nossas crianças e dos marginalizados. É inaceitável que existam vinte milhões de crianças carentes no Brasil! Que existam
milhões de crianças engrossando o marginalismo, vítimas inocentes, candidatas até mesmo à deficiência mental e loucura por subnutrição, por falta de assistência e pela miséria. Eu tenho tomado contato com dados horripilantes provenientes até da Câmara dos Deputados, recolhidos através de uma CPI onde se constatou que existem quase três milhões de crianças abandonadas, praticamente sem pai, sem mãe, sem procedência, sem nome, sem nada, perambulando pelas ruas e estradas. Não! Isto não tem razão de ser, é inaceitável para nós! E eu acho que aí já surge, por exemplo, não somente uma definição, mas um compromisso do nosso partido que é o de assistir, desde a barriga da mãe, assistir, acolher, escolarizar, alimentar e educar todas as crianças do nosso País. (Aplausos).
Igualdade de oportunidades. Muitos dirão: Isto é sonho, utopia. Nós temos que assumir esse compromisso. E estou convencido que a sociedade brasileira, nesta altura, tem todas as condições para resolver essa questão, não apenas sob o ponto de vista de quadros humanos, mas sob o ponto de vista de condições materiais. Porque todo o desenvolvimento que lá podemos ter, para nós, não vale nada se não tiver condições, no mínimo, de dar de comer e assistir a essas vítimas inocentes que são as crianças, o futuro da Nação. Tal é a grandeza desse problema que não é apenas um problema, pois
compromete o futuro, os destinos da nacionalidade. Aí está, por exemplo, um grande problema nosso. Inarredável, não temos discussão a esse respeito. Quero dizer aos companheiros que não é uma afirmação assim que estou fazendo levianamente. Eu tenho uma experiência vivida neste setor. Posso dizer que é plenamente possível, é mais que possível resolver. Quisera que todos os problemas brasileiros tivessem condições como este para serem resolvidos. Que é necessário é haver humanismo, solidariedade humana, uma outra mentalidade. É preciso que se instituam em nosso país, urgentemente, governos com mentalidade sensível a uma realidade como esta.

Continua na próxima Edição:

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