Essa história de CLASSE MEDIA a
partir de míseros duzentos e poucos reais e com teto baixíssimo é um absurdo.
Se não fosse de chorar eu pensaria que é PIADA, digna dos mais autoritários
Governos.
Mas há, nessa questão toda da CLASSE
MÉDIA uma grande fratura que acabará mal para o Governo.
Talvez até influenciado pela
experiência chilena, ou sabendo do peso da classe média no Brasil – as
professorinhas de Minas Gerais...! - o PT, desde o início, em
2003, pensou em duas coisas: GOVERNABILIDADE, para não ser
atropelado por uma SURPRESA de um Congresso inequivocamente
conservador e CLASSE MÉDIA, independentemente de filigranas
conceituais, pela importância que ela tem na formação da
opinião pública . É ela que lê e ouve jornais, aliás, da
grande mídia.
Até aí tudo bem, no Sendero de se ter
chegado ao Governos por via eleitoral , com débil
respaldo embora majoritário, mas sob o olhar desconfiado das classes proprietárias,
do dito mercado financeiro e porque não dizê-lo, das forças armadas . Tratava-se,
aparentemente, de um PROJETO de CONSTRUIR A HEGEMONIA DA ESQUERDA NA
SOCIEDADE BRASILEIRA. Algo muito influenciado pela tese gramsciana que
vinha ocupando o lugar do velho estalinismo entre nós .
Mas aí, o que passa?
Não se pode associar GOVERNABILIDADE,
a partir dos PARTIDOS que hoje fazem parte da BASE ALIADA do Governo, com
endosso da CLASSE MÉDIA ao projeto do PT.
Por que?
Porque os Partidos que aí estão não
representam NADA, muito menos a classe média tradicional, que mais peso tem na
formação da opinião pública. O PMDB, por exemplo, nada tem a ver com a
Democracia Cristã de Eduardo Frei, no Chile de Allende. São
excrescências institucionais que FINGEM SENTIR QUE É DOR A DOR QUE DEVERAS
SENTEM. Ou não sentem. São estruturas oligárquicas, tradicionais, sem qualquer
CONEXÃO REAL com a SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA e seus principais
interlocutores, hoje aninhados em ONGs. SINDICATOS ASSOCIAÇÕES etc.
A BASE ALIADA até ajuda a Governança,
IMPEDINDO tentativas de IMPEACHMENT, à la HONDURAS e PARAGUAI. Mas não respalda
social e ideologicamente. Basta acompanhar as redes sociais para se verificar a
ojeriza que a classe média tem com seus políticos. A
consequência é que a OPOSIÇÃO vai para a grande mídia, alimentada,
aliás, pelas gordas verbas da publicidade oficial, sob o argumento
de que detêm maiores índices de audiência..Uma verdadeira arapuca, alimentada
pelo Governo...
E daí advém outro problema: O novo
socialismo , inaugurado pelo PT, contrariamente aos modelos clássicos da social
democracia européia, que consistia numa redistribuição capital/trabalho mais
equitativa, se fundamente na transferência de renda da classe média alta para
os mais pobres. E aí, então, para não criar um conflito aberto com a classe
média em geral, o Governo ideologiza e enaltece o aparecimento de
uma nova classe média, por baixo. O resultado é o Russomano, em São
Paulo, um candidato, precisamente, destes novos “desejantes”, criado
pelo democratismo petista, como diria Renato Janine Ribeiro, ao associar PT,
com aspirações democráticas por um mundo material melhor. Ou seja, tudo fazendo
para obter o apoio da classe média, a qual, aparentemente, ainda dá à Dilma altos
índices de aprovação, o PT, como Partido, que tem em Lula um verdadeiro ícone,
está abrindo fraturas cada vez maiores na consciência crítica brasileira – como
evidencia o artigo de Kliass - e está se divorciando da
classe média. A mais alta, como bem diz Adriano Benayon, que nem sequer é rica,
em termos internacionais – um pai de família que ganhe sete mil reais, deixa
três para o Governo (INSS +IR) e vive com quatro mil, com os quais tem que
pagar Plano de Saúde, Escola para os filhos e despesas com o carro
porque o sistema de transporte público não funciona, acaba, na verdade com uma
disponibilidade liquida de mil dólares mensais, um bom salário mas longe de ser
fonte de ódios de classe ou base para reconstrução social. O grande
problema da concentração da renda no Brasil não é resultado dos
altos salários da classe média, mas da elevadíssima concentração da
propriedade, intacta - e até fortalecida - sob o Governo
petista.

Quais são essas "vozes" da nova classe média?
Renda do capital
ainda é renda do capital, assim como renda do trabalho continua sendo renda
trabalho. Por mais que a remuneração mensal dos despossuídos tenha evoluído, o
conceito de classes sociais e seus conflitos de interesses continuam valendo
para a análise do modo capitalista de produção.
Paulo Kliass
A Presidência da República está
colocando em marcha uma delicada operação política, que pode trazer
conseqüências perigosas para a análise e a compreensão de nossa realidade
social e econômica. Tudo começou com o anúncio, por parte da Secretaria de
Assuntos Estratégicas (SAE), do lançamento de um novo programa, considerado
prioritário no âmbito do governo. Foi batizado com o nome de “As Vozes da Classe Média”.
Em tese, nada demais a chamar atenção, não é mesmo? Afinal, esse tema da classe média tem ocupado as páginas dos grandes jornais de forma crescente, ao longo dos últimos tempos. No entanto, vale a pena chamar a atenção para alguns elementos do entorno desse programa em especial e do simbolismo político envolvido com o fato. O atual titular da SAE é o dirigente do PMDB/RJ, Wellington Moreira Franco, que substituiu o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães desde o início do mandato da Presidenta Dilma. O órgão mais importante de sua pasta, porém, é o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), que era presidido desde 2007 pelo economista Marcio Pochmann, professor da UNICAMP e pesquisador crítico das correntes mais conservadoras dos vários campos das ciências sociais. Sob tais condições, o ministro carioca pouco conseguia influenciar na política interna do instituto.
As mudanças na direção do IPEA: de Pochmann a Neri
Em tese, nada demais a chamar atenção, não é mesmo? Afinal, esse tema da classe média tem ocupado as páginas dos grandes jornais de forma crescente, ao longo dos últimos tempos. No entanto, vale a pena chamar a atenção para alguns elementos do entorno desse programa em especial e do simbolismo político envolvido com o fato. O atual titular da SAE é o dirigente do PMDB/RJ, Wellington Moreira Franco, que substituiu o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães desde o início do mandato da Presidenta Dilma. O órgão mais importante de sua pasta, porém, é o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), que era presidido desde 2007 pelo economista Marcio Pochmann, professor da UNICAMP e pesquisador crítico das correntes mais conservadoras dos vários campos das ciências sociais. Sob tais condições, o ministro carioca pouco conseguia influenciar na política interna do instituto.
As mudanças na direção do IPEA: de Pochmann a Neri
Convencido a disputar a prefeitura de Campinas pelo PT, Pochmann pediu demissão do cargo e Dilma optou há poucos dias pela nomeação definitiva de outro economista: Marcelo Neri, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV/RJ). Com esse passo, a avaliação reinante nos corredores do poder é que o conservadorismo tem todas as possibilidades de retornar às áreas dirigentes do IPEA. Independentemente de sua competência técnica e suas qualidades profissionais, o novo presidente do órgão representa grupos e correntes ligados à ortodoxia econômica e à ressonância de todo o pensamento neoliberal em solo tupiniquim. Afinal, as posições da FGV são mais do que conhecidas nesse domínio.
O lançamento do novo programa “Vozes da Classe Média” é a perfeita expressão política de mais um movimento de mudança no interior do governo. Neri é um estudioso da questão da distribuição de renda e coordenou recentemente uma publicação chamada “A nova classe média – o lado brilhante da base da pirâmide”, onde todo o foco reside nessa suposta nova composição de classe social em nossas terras. Do ponto de vista político, o trabalho articulado pelo pesquisador da fundação carioca cai como sopa no mel para os dirigentes políticos governistas. Tanto que a própria Presidenta fez referência pública ao autor, em um evento no Rio de Janeiro, ainda em abril passado, elogiando e recomendando a leitura da obra. Bingo: o recado político estava dado, para quem quisesse ouvir. Talvez tampouco seja mera coincidência o fato do PT não ter lançado candidato a prefeito no Rio de Janeiro e do governo federal apoiar o peemedebista Eduardo Paes, sempre ao lado do governador Sérgio Cabral, também do PMDB e muito prestigiado pelo núcleo duro de Dilma. O círculo se fecha.
Já Pochmann, havia lançado um livro com interpretação bastante diferente desse oficialismo chapa branca. A Editora Boitempo publicou há pouco a obra “Qual classe média?”, que chama a atenção logo de início pelo ponto de interrogação no próprio título. Como estudioso sério e crítico, o ex-presidente do IPEA lança uma série de indagações a respeito da suposta unanimidade em torno desse “novo” conceito de classe média. E demonstra que não se pode confundir a inegável melhoria nas condições de renda na base da sociedade com a transformação em sua estrutura de classes sociais. Com a devida vênia de nossa Presidenta, eu recomendaria também a leitura do livro de Pochmann. No entanto, por se tratar de um estudo que não compartilha desse clima de oba-oba ufanista e irresponsável, ele não é tão útil nem funcional para alavancagem da política governamental no varejo e no cotidiano. Afinal, a honestidade intelectual exige alguns “poréns” e algumas observações de reparo metodológico. Xi, lá vem o chato do Paulo Kliass outra vez... Pois é, são os ossos do ofício!
“Voices of the poor” e “Vozes da classe média”: do Banco Mundial à SAE
Em sua apresentação oficial, está dito que o programa “Vozes da classe média” pretende servir como parâmetro para a elaboração de políticas públicas pelo governo federal. Talvez não seja por outra simples coincidência que ele tenha recebido esse nome. Na verdade, trata-se de uma quase versão para o português de um conhecido programa do Banco Mundial lançado lá em 2000, na virada do milênio, que é chamado de “Voices of the poor” (Vozes dos pobres). Era uma tentativa de ouvir e estudar o fenômeno da pobreza ao redor do mundo, incluindo países como Brasil, Etiópia, Índia, Indonésia, Uzbequistão, entre outros. Mas para além desse vício de paternidade, o caminho que o governo pretende adotar agora contém graves equívocos metodológicos. Como a idéia é sempre elogiar o suposto sucesso da política de melhoria das condições da população da base da pirâmide, entra em marcha um verdadeiro “vale-tudo” no sentido de organizar, rearranjar e espremer os números e os dados estatísticos. O objetivo é oferecer resultados convincentes e belas conclusões. Tudo perfeito e adequado para o recheio do discurso oficial, a ser faturado politicamente.
Parte-se de um fato inegável: ao longo dos últimos anos, a política de transferência de renda (via programas como Bolsa Família) e a política de valorização do salário mínimo foram o carro chefe de uma transformação significativa nas condições da população mais pobre em nosso País. Com elas vieram também a ampliação dos benefícios concedidos pela previdência social, a melhoria das condições no mercado de trabalho e o acesso ao crédito. No entanto, também é amplamente reconhecido que a política econômica desse período continuou a favorecer e beneficiar as camadas mais ricas de nossa sociedade, por meio da política de juros elevadíssimos (que só começou a mudar no último ano), das isenções fiscais, das desonerações tributárias, da ampliação da privatização e toda a sorte de benesses dirigidas ao capital em geral e ao setor financeiro em particular.
Assim, apesar de ter ocorrido uma melhoria na distribuição na base da sociedade, o restrito topo da pirâmide foi ainda muito mais beneficiado. E como os níveis da desigualdade e de concentração são muito elevados, o aspecto significativo seria analisar o que ocorreu com os 0,5% mais ricos na comparação com os 99,5% restantes. Se pegarmos faixas amplas com os 10% ou 20% das famílias com maior renda, estaremos misturando alhos com bugalhos e as conclusões serão, obviamente, apressadas e equivocadas. Isso porque os dados utilizados vêm da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE, onde apenas uma pequena amostra do total das famílias responde a um extenso questionário de forma voluntária. Com isso, os domicílios familiares de renda mais elevada tendem a subestimar as informações fornecidas a respeito dos valores e das fontes de seu rendimento efetivo.
Os números do programa e as conclusões equivocadas
De acordo, com o programa “Vozes da classe média”, os limites para fazer parte desse novo recorte de “classe” são os seguintes: de R$ 291 a R$1.091 como renda mensal familiar per capita. Dessa forma, as conclusões são uma maravilha! Mais de 50% da população brasileira estão nesse perfil – um total superior a 100 milhões de pessoas. Então, vamos lá verificar – na realidade concreta da vida real - quem está enquadrado dentro dessa inovadora definição de “nova classe média” e quem já está recebendo uma renda tão elevada que está até acima desse nível, passa a fazer parte das elites, da classe alta.
Consideremos o caso de um jovem casal, sem filhos. Um dos cônjuges recebe um salário mínimo e o outro está desempregado. Sua renda mensal é de R$ 620, o que nos permite concluir uma renda per capita de R$ 310 a cada 30 dias. Imaginemos ainda que seus vizinhos sejam um casal com 2 filhos, onde os pais trabalham e recebem cada um deles salário mínimo também. A renda mensal da família é de R$ 1.240, com uma renda per capita de R$ 310, como no caso anterior. Vejam que ambas as famílias são integrantes da “nova classe média”, pois estão acima do patamar mínimo de R$ 291, o que lhes permitiria a chave de acesso ao paraíso do consumo, segundo as capas das revistas semanais penduradas nas bancas de jornal. Pouco se fala a respeito da qualidade dos serviços públicos que recebem, como saúde, educação, saneamento, transporte público, etc. O que importa é a renda auferida.
Cabe ao leitor optar: o estabelecimento arbitrário desses valores seria ato de ingenuidade ou de maldade? Afinal, não é lá muito difícil contabilizar os níveis de despesa mensal dessas unidades familiares: o transporte coletivo numa grande cidade; o aluguel de moradia em péssimas condições; as contas de água, luz e telefone celular; o gás para cozinha; as compras de cesta básica e seus complementos; etc. Ora, o retrato é de uma sobrevivência nesse nível básico, que não permite quase nenhuma capacidade de poupança, nem o usufruto das boas condições de vida. Quem teria a coragem de afirmar que esses indivíduos seriam integrantes da “nova classe média”? Em sentido oposto, Pochmann nos oferece uma interessante reflexão a respeito do fenômeno, na apresentação de seu livro:
“O adicional de ocupados na base da pirâmide social reforçou o contingente da classe trabalhadora, equivocadamente identificada como uma nova classe média. Talvez não seja bem um mero equívoco conceitual, mas expressão da disputa que se instala em torno da concepção e condução das políticas públicas atuais.”
Por outro lado, tão ou mais impressionantes são as conseqüências da definição casuística do limite superior para o enquadramento em “nova classe média”. Imaginemos outra vez a situação de um casal típico de assalariados, com um filho. Ele acabou de conseguir um emprego numa empresa automobilística no ABC e recebe o piso da categoria. Ela é empregada de um banco e também recebe o piso salarial assegurado pelos acordos dos sindicatos com a FENABAN. A renda mensal do trio familiar supera R$ 3.300, com um equivalente per capita superior aos R$ 1.091 do programa oficial do governo. Dessa forma, a conclusão é assustadora: pasmem, mas essa família de trabalhadores não seria mais integrante da “nova classe média”. Em função dessa “estupenda” remuneração mensal, eles já teriam sido alçados à condição da elite, fazem parte das classes altas da sociedade brasileira! Uma loucura, para dizer o mínimo!
Trabalhadores ou classe média?
As políticas desenvolvidas ao longo da última década contribuíram para a melhoria das condições de vida da maioria da população. No entanto, o elevado grau de desigualdade social e econômica nos coloca ainda entre os países mais injustos do planeta. Assim, não se “acaba com a pobreza” da noite para o dia, apenas com uma canetada, estabelecendo um limite arbitrário de renda de forma injustificada. O caminho é longo e passa pelo aprofundamento das políticas de distribuição de renda. Não será por força dos limites quantitativos constantes de um eventual Decreto que o Brasil amanhecerá menos pobre ou menos injusto.
Reconhecer as significativas transformações ocorridas com a população de menor renda em nosso País ao longo dos últimos 10 anos não nos permite tentar avançar na deturpação dos dados da realidade. Não se pode ser conivente com a utilização política e eleitoral de informações viesadas, com o fim exclusivo de propiciar análises encomendadas para usufruto do governo de plantão. Renda do capital ainda é renda do capital, assim como renda do trabalho continua sendo renda trabalho. Por mais que a remuneração mensal dos despossuídos tenha evoluído, o conceito de classes sociais e seus conflitos de interesses continuam valendo para a análise do modo capitalista de produção.
Paulo Kliass é Especialista em
Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal e doutor
em Economia pela Universidade de Paris 10.

Nenhum comentário:
Postar um comentário