Maioria dos ministros do STF confirma que Reforma da Previdência foi comprada
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Hoje, os Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurelio Mello, Celso de Mello e Ayres Britto deram o seu voto no julgamento do “núcleo político” do processo denominado como “Mensalão”, afirmando que efetivamente houve compra de votos de parlamentares para a aprovação de medidas de interesse do Poder Executivo no início do governo Lula, tais como a Reforma da Previdência.
Desta forma, estes 3 ministros se somam aos outros 3 que também já haviam se manifestado neste sentido (Joaquim Barbosa, Luiz Fux e Gilmar Mendes), além da Ministra Rosa Weber, que apesar de não ter colocado expressamente em seu voto, também confirmou ao jornal Folha de São Paulo de hoje que houve compra de votos.
Assim, forma-se maioria dentre os 10 Ministros da Suprema Corte, confirmando a ilegalidade na aprovação de uma reforma neoliberal, imposta pelo FMI, e que retirou direitos históricos dos trabalhadores para viabilizar o pagamento da dívida pública. O Ministro Celso de Mello chegou inclusive a questionar a validade dos atos aprovados pelos parlamentares que se venderam, sugerindo simplesmente a inconstitucionalidade de tais atos.
Nove anos depois da aprovação de uma reforma nefasta, que incrivelmente taxou os aposentados e pensionistas, ceifou a integralidade e a paridade, reduziu as pensões, postergou as aposentadorias e abriu caminho para a privatização da previdência por meio dos fundos de pensão, a mais alta corte do país confirma grave ilegalidade em sua aprovação.
Enquanto dezenas de milhares de servidores se deslocavam para Brasília, lotando milhares de ônibus na noite de 5 para 6 de agosto de 2003 para realizar a grande “Marcha dos 100 Mil”, a base do governo na Câmara adiantava em um dia a votação desta reforma, cujo texto-base foi aprovado em primeiro turno ainda naquela madrugada, para fugir da pressão popular, sabe-se agora, em troca de dinheiro.
Portanto, abre-se um forte caminho para ações judiciais que visem a anulação desta reforma.
No princípio era Portugal
28/9/2012 14:25, Por José Luis Fiori -
do Rio de Janeiro

O Castelo de São Jorge foi utilizado como residência
real por D. Afonso Henriques depois da reconquista de Lisboa aos mouros, em
1147
O sistema mundial em que vivemos – interestatal e
capitalista – surgiu na Europa, e só na Europa, entre 1150 e 1450, de um longo
conflito sistêmico entre “feudos” e “centros imperiais” de poder, que
conseguiram transformar suas “economias naturais” em economias capitalistas
mais poderosas do que a dos seus rivais. Neste período, a Península Ibérica
cumpriu um papel decisivo, na formação do próprio sistema e no início da sua
expansão para fora da Europa. Os reinos de Castela, Leon e Aragão, que se
transformaram no núcleo político do Império Habsburgo, que dominou a Europa,
durante o século XVI, sob a batuta de Carlos V e Felipe II. Mas antes dos
espanhóis, foi o reino de Portugal que se estruturou primeiro,
como estado nacional, e foi ele também que liderou o primeiro século da
expansão mundial da Europa, depois da sua conquista de Ceuta, em 1415.
Portugal nasceu de um
pequeno “feudo” – situado entre os rios Minho e Douro – que se rebelou contra
Leon e Castela, em 1143, e depois travou uma guerra expansiva de mais de dois
séculos, em duas frentes: contra os muçulmanos, ao sul, e contra os espanhóis,
ao leste. Foi neste período de guerra quase contínua com os “mouros” e os “castelhanos”
que se formou o estado português, depois da “reconquista” de Lisboa, em 1147, e
da expulsão definitiva dos árabes, do Algarve, em 1249; e depois da assinatura
do Tratado de Paz, de 1432, referendando a separação e o reconhecimento mútuo
entre Portugal e Castela, algumas décadas após a Revolução de
Avis, de 1385. Mas foi só no século seguinte à expulsão muçulmana de 1249, que
Portugal criou as estruturas legais, tributárias e administrativas do seu
estado moderno.
O mesmo estado que seguiu se expandindo, durante
mais um século e meio, depois da paz com os castelhanos, até construir o
primeiro grande império marítimo da história moderna. O impulso inicial desta
expansão “para fora” não parece ter tido um objetivo nem um sucesso mercantil
imediato, e só promoveu a ocupação e a colonização dos territórios
conquistados, depois de 1450, na Ilha da Madeira. Além disto, o empreendimento
português contou com ajuda externa, mas se financiou sobretudo através da
capacidade tributária do novo estado, e da riqueza de suas Ordens Militares
religiosas – em particular, os Templários, sucedidos pela Ordem de Cristo,
depois do seu fechamento em 1312 – que forjaram em conjunto uma verdadeira
máquina de guerra, conquista e tributação.
Na altura de 1147, a economia portuguesa era local,
e o seu comércio era feito em espécie. Mas depois de 1249, houve um aumento
constante da circulação nacional de mercadorias, a partir da reforma monetária
e do tabelamento de preços, promovido por D. Afonso III, na década de 1250.
Em 1293, D. Diniz criou a primeira Bolsa de
Mercadorias do país, com um sistema de seguros para os navios e cargas
portuguesas, e durante toda a segunda metade do século XIII, foram criadas mais
de 40 feiras comerciais, responsáveis pela ativação de um incipiente mercado
nacional. Até o século XVI, o estado português foi o maior proprietário de
terras do país, e atuou como uma espécie de “banco de financiamento” das
atividades econômicas públicas e privadas.
Foi só em 1500, que o governo
português conseguiu criar o seu sistema de títulos da divida pública
consolidada, e só foi depois de 1540 que esta espécie primitiva de “capitalismo
de estado” foi cedendo lugar ao desenvolvimento de um capitalismo privado de
grandes companhias mercantis. Entretanto, este processo foi interrompido em
1580, pela incorporação de Portugal pelo império espanhol de Felipe II, e
depois, pela submissão diplomática, financeira e comercial definitiva de
Portugal, à Holanda e à Inglaterra, a partir de 1640.
Esta história pioneira de Portugal deixou algumas
lições sobre a formação do sistema inter-estatal e do próprio capitalismo:
i. O primeiro estado nacional europeu já nasceu
dentro de um sistema de poderes competitivos;
ii. Suas fronteiras territoriais, sua unidade
política, e sua identidade nacional foram construídas por duas guerras que
duraram mais de 200 anos;
iii. Estas guerras “nacionais” se prolongaram
imediatamente, num movimento de expansão “para fora”, na direção da África,
Ásia e América, que durou ainda mais um século e meio;
iv. Estas guerras e conquistas não tiveram
inicialmente um objetivo prioritariamente mercantil, mas assim mesmo, no longo
prazo, tiveram um papel decisivo na criação e expansão de uma economia de
mercado e de um capitalismo nacional incipiente;
v. Neste período, esta economia nacional de forte
cunho estatal, não alcançou a se “privatizar”, nem chegou a criar um sistema
nacional de bancos e crédito capaz de mobilizar o capital financeiro português,
o segredo do sucesso posterior da Holanda e da Inglaterra;
vi. Por fim, se pode dizer que Portugal teve um
papel decisivo no “big-bang” do “sistema interestatal capitalista”, que está
vivendo uma nova explosão expansiva neste início do século XXI.
José Luis Fiori é professor titular
de Economia Política Internacional da UFRJ e coordenador do Grupo de Pesquisa
do CNPQ/UFRJ “O Poder Global e a Geopolítica do Capitalismo”.

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