segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Crescente corrupção política desperta na juventude inconformismo saneador


                  




         A juventude sai da apatia a que foram levadas gerações passadas,  pelos mecanismos sutis do sistema dominante.

         Sempre os jovens eram os primeiros a se rebelar quando os donos do sistema se revelavam incapazes técnica ou moralmente para conduzir os destinos do país, ou das mais simples paróquias, com suas questiúnculas e mazelas, ao deixarem de lado o interesse público a favor os seus próprios bens.

          E não é só isto.  Até as questões internacionais mexiam com o comportamento dos jovens, sobretudo no meio estudantil.  Por terem maior acesso à educação e ao conhecimento, sabiam mais sobre questões humanitárias e deveres de um povo e seus governantes. 
         
          Na década de 40, a União Nacional dos Estudantes teve grande influência sobre a decisão do Governo Vargas para entrar na Segunda Guerra, apesar do repúdio aos Estados Unidos por suas atitudes imperialistas em relação aos demais  países da América, com exceção do Canadá.  Mas estava em jogo uma questão humanitária: o extermínio de judeus e comunistas(holocausto), na expansão doentia de Hitler.  

          Ações de solidariedade faziam parte de um modo de ser da geração daquela época, em ocorrência de catástrofes e tragédias que afetassem qualquer segmento da humanidade.

         Este era o procedimento da juventude que emergia a cada ano até o enfrentamento da Ditadura Militar de 64. 

         A estratégia sub-reptícia da Ditadura tinha origens internacionais.  Nos fins dos anos 50 do Século passado, na Inglaterra surgiram os Beatles; nos Estados Unidos Elvis Presley. Em 1969 fez-se o Festival de Woodestok, com apologia da cultura hippie, afirmativa de uma contra cultura, como negação de hábitos saudáveis quase de maneira radical, como trabalho, higiene, família, responsabilidade; e, ao mesmo tempo a difusão das drogas com o slogan de “é proibido proibir”.

         A que levava tudo isto?

         - À mudança de comportamento da juventude no seu espírito de rebeldia, para a letargia, o conformismo, nas “viagens” causadas pelo ópio da “paz e amor”.

         O Estado – que formalmente combatia o uso e comercialização da droga – na verdade, incentivava sua disseminação. Os focos de resistência às arbitrariedades iam se transformando em grupos alienados pela passividade, e alienantes pelos ganhos fáceis de um negócio “clandestino”, sem imposto, e com mercadoria de fácil aceitação.  Criou-se a mentalidade de que os jovens fora desses grupos eram “caretas”.   E os seus ativistas eram “cabeças”. 

         E a juventude se dividia entre os que lutavam contra a Ditadura e suas torturas, como guerrilheiros e grupos de protesto, e os da “paz e amor”.
 A programação radiofônica, patrocinada predominantemente por empresas estadunidenses, desdenhava a música de raiz, e expandia as “paradas de sucesso” com rock and roll e suas mensagens de ritmos alucinantes, subliminarmente alucinógenos.  O samba,  as canções brasileiras, os chorinhos viraram lixo na programação do dia a dia.  Pixinguinha, Noel Rosa, Ary Barroso, Maysa, Dolores Duran, Ataulfo Alves perderam a voz e a vez.  Mal sobreviveu uma Elis Regina porque militou no grupo de protesto e tinha seu público rebelde.

         A Jovem Guarda foi a versão brasileira da alienação vinda de fora.

         Neste clima político-cultural, a estratégia internacional para os países dominados fez surgir o Partido dos Trabalhadores, ardilosamente preparado para absorver as insatisfações da classe trabalhadora, em conflito direto com a doutrina trabalhista, de cunho nacionalista vinda da Revolução de 30. 

         A projeção do PT e sua figura maior, Lula, aconteceram em plena Ditadura, com divulgação aberta da Rede Globo, a maior aliada do Regime de Exceção, a partir do ABC paulista, onde se encontra grande conglomerado de multinacionais.  Na estratégia destinada a dividir a classe trabalhadora e aniquilar a doutrina nacionalista, a mídia entreguista pôs nas cabeças mais vulneráveis ao modismo  que a “onda” era ser petista.  E que seria um partido nascido nos cérebros das universidades para as portas de fabrica. E que tinha inspiração doutrinária elevada, de justiça social e de ética inquestionável. 

         Com essa imagem, com o apoio midiático e o apelo de modernismo, o partido apareceu, demonstrando de início um radicalismo moralizante de “não fazer coligação com ninguém”, como paladino da ética e da retidão.  Manteve essa postura até chegar às primeiras prefeituras de capitais.

         Na primeira candidatura ao governo de São Paulo, Lula ficou em quarto lugar. Depois disputou a presidência e perdeu três vezes.  Na quarta decidiu aceitar apoio de qualquer partido e se coligou com a extrema direita do neoliberalismo com José de Alencar para Vice(PL). A essa altura, quando já existia o Mensalão pelas bandas do PSDB, com Eduardo Azeredo, Marcos Valério e seus comparsas, o PT entrou no jogo e conviveu folgadamente com tudo isto que ele antes dizia combater.  Usou de todos os meios para justificar os fins de arrecadar fundos para campanha. O episódio do assassinato de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André-SP,  ilustra a crueldade dos meios,  e revela verdadeiramente a Máfia petista que agora o Supremo Tribunal Federal(STF)  está mostrando num retrato sem retoque.

         O arco que faz a coalizão de governo, ora no plano federal, ora no estadual, compromete todo o quadro político nacional, desde a presidência da república até os 5.568 municípios brasileiros.

         O estímulo, a tolerância, a impunidade, afinal, o “uso do cachimbo que faz a boca torta” aliaram-se ao financiamento privado de campanha para verticalizar a corrupção. Mensalão não foi só a distribuição de dinheiro para os partidos aliados pelo Caixa 2 de Marcos Valério; nem só o quanto teria sido pago a cada parlamentar para votar a favor dos interesses do governo.  Mensalão está na formação dessa famigerada coalizão, onde o apoio de partido é trocado por ministérios, secretarias e demais cargos.  Por isto, os partidos perderam sentido. São moedas de troca, siglas de aluguel, balcões de negócio.  Mensalão são os votos comprados no Senado, na Câmara Federal, nas Assembleias Legislativas, nas Câmaras Municipais, nas noitadas de véspera de eleição, nas bocas de urna.  De tudo, muito pouco se tem prova. Ladrão não dá recibo de seu roubo.

         Há a evidência, mas não há a prova material.  Tudo mundo sabe, mas ninguém prova.  De tudo, muito pouco se apura. E, do que se apura, muito pouco se pune.

         Por tudo que transcorre ao longo do tempo, das evidências de que a classe política perde cada vez mais em qualidade, do cansaço de esperar por dias melhores, dos enriquecimentos ilícitos...  a juventude que procura manter a esperança também se cansou.  Grande parcela volta a questionar e a se indignar.  A geração do “paz e amor” envelheceu.  A corrupção cresceu tanto, que ficou escancarada, latente, evidente.  Os detentores dos poderes ganham e gastam de maneira perdulária.  Enriquecem de maneira incompatível com seus ganhos, apesar de serem elevados.  Fazem farra com o dinheiro público e impõem aos trabalhadores pesados impostos e baixíssimos salários.
 
         A juventude que tem seus sonhos naturais vê pouca possibilidade nesse jogo desigual.  E pensa que essa “Constituição Cidadã”, que deu aos membros do poder legislativo a prerrogativa de legislar em causa própria,  precisa ser refeita.  Como e por quem?

         Essa de 1988 foi elaborada por um Congresso Constituinte.  Todos sabem agora que a fórmula não deu certo.  Nem poderia.  A tentativa será uma Constituinte Exclusiva. E essa Constituinte tem que ser formada de cidadãos e cidadãs acima de qualquer suspeita, com o compromisso de não legislar em causa própria.  E impedir que os futuros legisladores façam o mesmo.  Isto só será possível se ela for composta por quem não tenha cargo político e se comprometa a não se candidatar por, pelo menos, dois mandatos(oito anos).

         Esperar  que esse Congresso de Sarney & Cia. abram essa possibilidade é utopia. Mas precisamos acreditar na utopia a partir de uma pressão popular que encha as praças mais do que nas Diretas-Já.  Tem que virar um clamor nacional dentro das casas, nas praças, nas ruas, nas igrejas, nos cinemas, nos teatros, na televisão(?), no rádio(?), nos jornais(?), na Internet.   Tem que sacudir os tímpanos de quantos tenham ouvidos para ouvir.

         A juventude quer e é capaz deste fenômeno. Nela está o entusiasmo que contagia, sem violência, sem vandalismo, sem trauma.  Mas como eco da verdade, da vontade, da determinação.

        À juventude pertence o futuro.  Em defesa desse futuro é que ela agora dá o seu grito de inconformismo. E quer a transformação através de uma nova Constituição Federal, uma Estadual e a Municipal, todas feitas por quem esteja fora do poder e se comprometa por oito anos a não se candidatar.

(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
  
                           

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