A juventude sai da apatia a que foram
levadas gerações passadas, pelos
mecanismos sutis do sistema dominante.
Sempre os jovens eram os primeiros a se
rebelar quando os donos do sistema se revelavam incapazes técnica ou moralmente
para conduzir os destinos do país, ou das mais simples paróquias, com suas
questiúnculas e mazelas, ao deixarem de lado o interesse público a favor os
seus próprios bens.
E não é só
isto. Até as questões internacionais
mexiam com o comportamento dos jovens, sobretudo no meio estudantil. Por terem maior acesso à educação e ao
conhecimento, sabiam mais sobre questões humanitárias e deveres de um povo e
seus governantes.
Na década de 40, a União Nacional dos
Estudantes teve grande influência sobre a decisão do Governo Vargas para entrar
na Segunda Guerra, apesar do repúdio aos Estados Unidos por suas atitudes
imperialistas em relação aos demais
países da América, com exceção do Canadá. Mas estava em jogo uma questão humanitária: o
extermínio de judeus e comunistas(holocausto), na expansão doentia de Hitler.
Ações de solidariedade faziam parte de um modo
de ser da geração daquela época, em ocorrência de catástrofes e tragédias que
afetassem qualquer segmento da humanidade.
Este era o procedimento da juventude
que emergia a cada ano até o enfrentamento da Ditadura Militar de 64.
A estratégia sub-reptícia da Ditadura
tinha origens internacionais. Nos fins
dos anos 50 do Século passado, na Inglaterra surgiram os Beatles; nos Estados
Unidos Elvis Presley. Em 1969 fez-se o Festival de Woodestok, com apologia da
cultura hippie, afirmativa de uma contra cultura, como negação de hábitos
saudáveis quase de maneira radical, como trabalho, higiene, família, responsabilidade;
e, ao mesmo tempo a difusão das drogas com o slogan de “é proibido proibir”.
A que levava tudo isto?
- À mudança de comportamento da
juventude no seu espírito de rebeldia, para a letargia, o conformismo, nas “viagens”
causadas pelo ópio da “paz e amor”.
O Estado – que formalmente combatia o
uso e comercialização da droga – na verdade, incentivava sua disseminação. Os
focos de resistência às arbitrariedades iam se transformando em grupos
alienados pela passividade, e alienantes pelos ganhos fáceis de um negócio “clandestino”,
sem imposto, e com mercadoria de fácil aceitação. Criou-se a mentalidade de que os jovens fora
desses grupos eram “caretas”. E os seus ativistas eram “cabeças”.
E a juventude se dividia entre os que
lutavam contra a Ditadura e suas torturas, como guerrilheiros e grupos de
protesto, e os da “paz e amor”.
A programação radiofônica, patrocinada
predominantemente por empresas estadunidenses, desdenhava a música de raiz, e
expandia as “paradas de sucesso” com rock and roll e suas mensagens de ritmos
alucinantes, subliminarmente alucinógenos.
O samba, as canções brasileiras,
os chorinhos viraram lixo na programação do dia a dia. Pixinguinha, Noel Rosa, Ary Barroso, Maysa,
Dolores Duran, Ataulfo Alves perderam a voz e a vez. Mal sobreviveu uma Elis Regina porque militou
no grupo de protesto e tinha seu público rebelde.
A Jovem Guarda foi a versão brasileira
da alienação vinda de fora.
Neste clima político-cultural, a
estratégia internacional para os países dominados fez surgir o Partido dos
Trabalhadores, ardilosamente preparado para absorver as insatisfações da classe
trabalhadora, em conflito direto com a doutrina trabalhista, de cunho nacionalista
vinda da Revolução de 30.
A projeção do PT e sua figura maior,
Lula, aconteceram em plena Ditadura, com divulgação aberta da Rede Globo, a
maior aliada do Regime de Exceção, a partir do ABC paulista, onde se encontra
grande conglomerado de multinacionais.
Na estratégia destinada a dividir a classe trabalhadora e aniquilar a
doutrina nacionalista, a mídia entreguista pôs nas cabeças mais vulneráveis ao
modismo que a “onda” era ser
petista. E que seria um partido nascido
nos cérebros das universidades para as portas de fabrica. E que tinha
inspiração doutrinária elevada, de justiça social e de ética
inquestionável.
Com essa imagem, com o apoio midiático
e o apelo de modernismo, o partido apareceu, demonstrando de início um
radicalismo moralizante de “não fazer coligação com ninguém”, como paladino da
ética e da retidão. Manteve essa postura
até chegar às primeiras prefeituras de capitais.
Na primeira candidatura ao
governo de São Paulo, Lula ficou em quarto lugar. Depois disputou a presidência e
perdeu três vezes. Na quarta decidiu
aceitar apoio de qualquer partido e se coligou com a extrema direita do
neoliberalismo com José de Alencar para Vice(PL). A essa altura, quando já
existia o Mensalão pelas bandas do PSDB, com Eduardo Azeredo, Marcos Valério e
seus comparsas, o PT entrou no jogo e conviveu folgadamente com tudo isto que
ele antes dizia combater. Usou de todos
os meios para justificar os fins de arrecadar fundos para campanha. O episódio
do assassinato de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André-SP, ilustra a crueldade dos meios, e revela verdadeiramente a Máfia petista que
agora o Supremo Tribunal Federal(STF) está
mostrando num retrato sem retoque.
O arco que faz a coalizão de governo,
ora no plano federal, ora no estadual, compromete todo o quadro político
nacional, desde a presidência da república até os 5.568 municípios brasileiros.
O estímulo, a tolerância, a impunidade,
afinal, o “uso do cachimbo que faz a boca torta” aliaram-se ao financiamento
privado de campanha para verticalizar a corrupção. Mensalão não foi só a distribuição
de dinheiro para os partidos aliados pelo Caixa 2 de Marcos Valério; nem só o
quanto teria sido pago a cada parlamentar para votar a favor dos interesses do
governo. Mensalão está na formação dessa
famigerada coalizão, onde o apoio de partido é trocado por ministérios,
secretarias e demais cargos. Por isto, os
partidos perderam sentido. São moedas de troca, siglas de aluguel, balcões de
negócio. Mensalão são os votos comprados
no Senado, na Câmara Federal, nas Assembleias Legislativas, nas Câmaras
Municipais, nas noitadas de véspera de eleição, nas bocas de urna. De tudo, muito pouco se tem prova. Ladrão não
dá recibo de seu roubo.
Há a evidência, mas não há a prova
material. Tudo mundo sabe, mas ninguém
prova. De tudo, muito pouco se apura. E,
do que se apura, muito pouco se pune.
Por tudo que transcorre ao longo do
tempo, das evidências de que a classe política perde cada vez mais em
qualidade, do cansaço de esperar por dias melhores, dos enriquecimentos
ilícitos... a juventude que procura
manter a esperança também se cansou.
Grande parcela volta a questionar e a se indignar. A geração do “paz e amor” envelheceu. A corrupção cresceu tanto, que ficou escancarada,
latente, evidente. Os detentores dos
poderes ganham e gastam de maneira perdulária.
Enriquecem de maneira incompatível com seus ganhos, apesar de serem
elevados. Fazem farra com o dinheiro
público e impõem aos trabalhadores pesados impostos e baixíssimos
salários.
A juventude que tem seus sonhos
naturais vê pouca possibilidade nesse jogo desigual. E pensa que essa “Constituição Cidadã”, que
deu aos membros do poder legislativo a prerrogativa de legislar em causa
própria, precisa ser refeita. Como e por quem?
Essa de 1988 foi elaborada por um
Congresso Constituinte. Todos sabem
agora que a fórmula não deu certo. Nem
poderia. A tentativa será uma
Constituinte Exclusiva. E essa Constituinte tem que ser formada de cidadãos e
cidadãs acima de qualquer suspeita, com o compromisso de não legislar em causa
própria. E impedir que os futuros
legisladores façam o mesmo. Isto só será
possível se ela for composta por quem não tenha cargo político e se comprometa
a não se candidatar por, pelo menos, dois mandatos(oito anos).
Esperar
que esse Congresso de Sarney & Cia. abram essa possibilidade é
utopia. Mas precisamos acreditar na utopia a partir de uma pressão popular que
encha as praças mais do que nas Diretas-Já.
Tem que virar um clamor nacional dentro das casas, nas praças, nas ruas,
nas igrejas, nos cinemas, nos teatros, na televisão(?), no rádio(?), nos
jornais(?), na Internet. Tem que
sacudir os tímpanos de quantos tenham ouvidos para ouvir.
A juventude quer e é capaz deste
fenômeno. Nela está o entusiasmo que contagia, sem violência, sem vandalismo,
sem trauma. Mas como eco da verdade, da
vontade, da determinação.
À juventude
pertence o futuro. Em defesa desse
futuro é que ela agora dá o seu grito de inconformismo. E quer a transformação
através de uma nova Constituição Federal, uma Estadual e a Municipal, todas
feitas por quem esteja fora do poder e se comprometa por oito anos a não se
candidatar.
(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
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