A campanha se intensifica na reta
final. A propaganda sonora chega a cansar, quando, a cada 05 minutos, as mesmas
mensagens ferem nossos ouvidos, como se os próprios divulgadores não
acreditassem no que propagam.
É
compreensível. A esta altura, a maioria dos eleitores tem seus votos definidos.
Mas a parcela indecisa poderá ser decisiva para o resultado. Cada postulante disputa palmo a palmo o naco
flutuante.
Neste período, nem toda proposta ou
promessa pode ser levada a sério.
Daqui a uma semana saberemos quem foi
eleito o prefeito da cidade e quais serão os vereadores. Alguns mudam completamente o comportamento, o
modo de tratar o eleitorado e os “programas” de governo, após as eleições.
São palpáveis as diferenças entre candidato e
governante a ser empossado, ou no exercício do mandato. Agem assim os
discípulos de Maquiavel. Para estes, o
palanque é o foro adequado para falar o que o povo quer ouvir. E o cargo tem a função de determinar as
medidas a que o povo deve se submeter.
O critério do financiamento privado de
campanha e de manutenção de partidos faz dos eleitos prisioneiros dos
financiadores, que cobram seus investimentos de volta, com acréscimo de pelo
menos 800%. Ótimo negócio!
Para quem
sobra a conta?
- Para o
eleitor, naturalmente, que agora se transforma em ‘contribuinte’.
Para cobrir essa conta, o recurso são
os expedientes inconfessáveis: licitações fraudulentas, superfaturamento de
obras, de compra de material, de serviços prestados de fato ou supostamente, de
verbas de publicidade, de viagens desnecessárias ou inexistentes.
O Ministro Joaquim Barbosa tem sido um
guerreiro na instância de Supremo Tribunal Federal para punir vários crimes de
corrupção, dentro do esquema conhecido como Mensalão. Mas a Máfia envolvida nessa prática é muito
maior do que a boa intenção de um ministro, que praticamente age isolado no
meio de uma rede onde se encontram até alguns de seus parceiros de toga. Os conflitos no STF têm provocado bate-bocas
que extrapolam os limites do Tribunal para os alardes da grande mídia.
A rede da corrupção tem sentido
vertical e horizontal. Vai de
presidentes da república aos simples vereadores. E atinge o arco dos três
poderes. Por isto, muitas vezes,
investigações da Polícia Federal são interrompidas. E criminosos detidos por
corrupção passiva e ativa são postos e liberdade. Vários processos são colocados nos passos de tartaruga da Justiça,
na tentativa de serem levados à prescrição.
Como o hábito vai de cima em baixo, nas
eleições municipais as punições de inelegibilidades ficam colocadas em
banho-maria. E os processos de improbidade administrativa, vistos sob a ótica
da Lei da Ficha Limpa, entram no rol da fórmula de “isto dá em nada”.
De fato, em cada município a população
fica sabendo de quem não teve contas aprovadas pelos tribunais de conta. E, às vezes, um mesmo político está
enquadrado em vários delitos administrativos, que dariam punição de inelegibilidade. E nunca se tem notícia da eficácia dessa nova
Lei, que tanto despertou no povo esperança de haver limpeza na vida pública,
para que o erário viesse a ser usado com parcimônia, sem servir para
enriquecimento ilícito de quem faz do poder um privilégio para dele se
beneficiar, e sufocar o povo com as despesas injustas e prejudiciais.
Na raiz de todos esses problemas está o
caráter dos maus agentes políticos. E
para favorecê-los existe o financiamento privado de campanha, criado pelos
próprios, ou por seus parceiros na dilapidação do erário e na espoliação do
contribuinte.
Ao considerarmos que existe a Lei da
Ficha Limpa, temos de reconhecer que algum passo tem sido dado na intenção
popular de ver os atores da vida pública agirem com lisura. Mas é um passo tímido diante dos resultados
alcançados e de serem exceção os políticos de bom caráter.
Isto, porém, não justifica as pessoas
de bem ficarem distantes e indiferentes à política. Pelo contrário, quanto pior
o quadro, maior é a necessidade de os justos lutarem para mudanças e
transformações. Nem que se tenha de pregar para as paredes. Como disse Martin Luther King, “o que mais
incomoda é o silêncio dos bons”. Enquanto
estes se calam, os outros se locupletam, mentem, enganam cinicamente. Fazem apologia e endeusam Nicolau
Maquiavel. E fazem os ossos de Bertold
Brechet se esfregarem e romper a sua campa.
O povo sentiu que o país precisava de
uma Lei Ficha Limpa. E conseguiu sua
aprovação. Mas a legislação não se
cumpre automaticamente por si mesma.
Precisa de um Poder Judiciário melhor do que o Legislativo.
Esse Poder que não emana diretamente das
urnas precisa de maioria de Ficha Limpa também, para fazer cumprir as leis
depurativas de todos os poderes.
Ora, o STF tem a prerrogativa de zelar
pelo cumprimento da Constituição que determina, por exemplo, um salário mínimo quatro
vezes maior do que o que vigora, no momento R$ 622,00. Esta Constituição promulgada em 1988, há 24
anos. E o Supremo ainda não viu esse
descumprimento da Carta Magna.
Ah! Sim. Entendi. A Justiça é cega!
A campanha para eleição nos municípios
deveria, como as que virão daqui a dois anos, ser um período de reflexão e
pregação cívica, sobre os valores da cidadania, no caminho da justiça social.
Mas precisamos de muita evolução desde a base da pirâmide social até os
segmentos do alto, para atingir esse nível.
(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerias@gmail.com)
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