Naquele 24 de agosto de 1954, o Golpe Militar foi adiado por 10 anos. Os órgãos de imprensa serviçais aos Estados Unidos e porta-vozes dos golpistas da extrema direita brasileira pressionaram e difamaram o presidente mais popular do Brasil.
Essas forças eram contra sua política nacionalista a favor dos trabalhadores. Desde a Revolução de 1930, Getúlio vinha transformando a vida institucional e social do Brasil. Criou o direito do voto para a mulher, os institutos de aposentadoria e pensão para os trabalhadores, as férias, domingos e feriados remunerados, o voto universal e secreto, o salário mínimo, estabilidade no emprego; – direitos institucionalizados na Consolidação das Leis do Trabalho(CLT).
Defendeu a descoberta e exploração do Petróleo brasileiro, que os cientistas estadunidenses liderados por Walter Link insistiam em negar existir. Criou, para este fim, o Conselho Nacional do Petróleo. Realizou auditoria na dívida externa e fez concluir que o Brasil passava de devedor a credor dos Estados Unidos. Foi, de fato, o criador do Estado Brasileiro, que vinha da República Velha sem organização institucional e sob o domínio dos “coronéis” latifundiários para quem o poder era dos que possuíam mais terras e armas.
Getúlio implantou a Revolução Industrial e deu início à saída do Brasil da situação de país “essencialmente agrícola”. Com esta série de medidas disciplinou as relações entre Capital e Trabalho, com a jornada de oito horas, com intervalo para refeições. Antes, o levantar e o pôr do sol é que determinavam a hora de começar e de encerrar o trabalho, com duração mínima de doze horas.
No seu primeiro governo, enfrentou a Revolução de 1932, liderada pelo Estado de São Paulo, e a Intentona Comunista de 1935. Chefe de Governo Provisório até a Constituição de 1934, foi eleito presidente constitucional até 1937, quando descobriu a articulação de um golpe para 1938, chefiada por Plínio Salgado. Naquele contexto dos reflexos de 32, de 35 e a ameaça para 38, antecipou-se aos golpistas e implantou o Estado Novo em 1937.
Aliou-se aos Estados Unidos, como único país da América Latina, para participar da Segunda Guerra Mundial, contra o IIIº Reich, onde Alemanha, Itália e Japão se uniam para a expansão doentia de Hitler, que misturava domínio de outros países e genocídio de judeus e comunistas(Holocausto).
Ganha a Segunda Guerra, os Estados Unidos acobertaram os grupos conservadores brasileiros, com forte penetração nas Forças Armadas, a darem o golpe de gabinete e derrubarem Getúlio, em 1945.
Sem ter cassados seus direitos políticos, criou o Partido Trabalhista Brasileiro, pelo qual foi eleito deputado federal por 7 Estados e Senador pelo Rio Grande do Sul e por São Paulo, optando pelo Senado Federal.
Estava comprovada sua força política, com base na classe dos trabalhadores. E assim chegou de novo à presidência da República pelo voto direto em 1950, com folgada maioria sobre seu principal adversário Marechal Eduardo Gomes(UDN). Em 1951, reassume o cargo. Intensificou a industrialização do país, combateu a política recessiva do seu antecessor Marechal Eurico Dutra, que havia congelado o salário mínimo. E criou a Petrobras no segundo semestre de 1953, apesar das sabotagens que enfrentava contra sua criação. Em abril de 1954, criou a Eletrobrás. Seu plano de desenvolvimento tinha cunho puramente nacionalista, o que contrariava os interesses estrangeiros, principalmente estadunidenses.
As pressões contra seu governo cresciam e tinham na época os “Diários Associados”, de Assis Chateaubriand, e a Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda, como instrumentos de ataques a seu governo. De toda a grande imprensa, somente o jornal Última Hora era seu defensor.
Com o Golpe Armado, os militares na chamada “República do Galeão” pressionavam para a nova “renúncia” do presidente.
Em 05 de agosto, Carlos Lacerda sofre um atentado, sai ferido, e é morto o Major Vaz, na Rua Toneleros(Copacabana). Era o pretexto que faltava para o grupo reacionário da extrema Direita. Acusaram Gregório Fortunado, segurança de Getúlio, como autor do atentado. Este foi assassinado na prisão.
Contra as pressões crescentes, Getúlio respondia que só sairia morto do Palácio o Catete. Naquele 24 de agosto de 1954, leva um tiro no peito, em seus aposentos. Deram ao fato a versão de suicídio. Nos bastidores da política há versões de que pode ter sido um de seus assessores diretos – com trânsito livre entre os militares - o autor do disparo. Antes, Vargas escrevera a Carta Testamento que passou à história. A sua morte adiou o Golpe Militar para 1964, sofrido por João Goulart, seu herdeiro político, provavelmente assassinado no exílio.
Cópia da Carta-testamento de Getúlio Vargas, 24 de agosto de 1954:
Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.
Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.
Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.
"Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.
"Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.
"E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte.
Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.
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— Getúlio Vargas
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(Frankin Netto - conscienciadamta@gmail.com )
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