Professora Theresinha de Almeida Pinto
“Se persegues o passado, nunca irás capturá-lo. Somente pela manifestação do presente poderá o passado falar”.
Em matéria de preservação de memória, nada mais certo do que esta declaração do famoso arquiteto norueguês S. Fehn.
Para nós, rio-branquenses, que estamos realizando o primeiro festival de cinema da cidade, nada mais justo, no momento, do que lembrar o Cinema Brasil. Ele é, sem dúvida, a fonte inspiradora que nos induz a fazer uma releitura de tudo o que ele representou para nós, no passado.
Constituído como razão social, com o nome de Empresa Teatral Rio-branquense, em 1910, sendo, portanto, uma das mais antigas casas de cinema do estado de Minas Gerais, sua inauguração oficial deu-se em 1915. Hoje ele é um bem tombado pelo patrimônio Histórico de Visconde do Rio Branco, não só em razão de sua estrutura física, de estilo eclético, comum no princípio do século 20, mas, também, pelo que ele representou, culturalmente, dentro de nossa sociedade.
O som estridente da sirene que faz as chamadas para a exibição dos filmes do primeiro festival de cinema de Visconde do rio Branco é o mesmo que fazia as chamadas para as sessões do Cinema Brasil. Ele é a reminiscência sonora de uma época feliz, em que o cinema fazia a alegria do povo, despertando ora risos, ora lágrimas, ora xingamentos e as mais variadas e divertidas opiniões, declaradas em voz alta, nos momentos mais emocionantes do desenrolar do filme!
Junto à lembrança da sirene, também ficou a lembrança do pipoqueiro e toda a parafernália exigida para a fabricação da pipoca e do algodão doce, que era, diariamente, montada por ele, em frente ao cinema, para a alegria das crianças e dos adultos, fossem quais fossem as condições climáticas.
E ficou também a lembrança de pessoas como a usineira D. Alice Bouchardet, que possuía duas cadeiras cativas na plateia, a de D. Glória Camacho Lacerda, a mais fiel frequentadora do Cine Brasil, presença garantida até nos filmes reprisados, a de Antônio da Silva Valente, o “Sô Valente”, técnico-eletricista que dava assistência à máquina projetora, e que só assistia as sessões do cinema assentado na cadeira de número 100, que era por ele reservada antes do início do filme. Não se pode esquecer também da pianista Julieta Braga, que fazia o fundo musical para os filmes mudos. Ainda fizeram parte desse passado de glórias as Cias. de Teatro que vinham do Rio de Janeiro, como as de Procópio Ferreira e Virgínia Lane, sem falar nas apresentações dos teatros locais, dos shows da famosa fadista portuguesa Ester de Abreu, das grandes estrelas da música popular brasileira, Emilinha Borba e Marlene, das inesquecíveis festas de formatura, das convenções políticas e tantas e tantas outras coisas mais que ali aconteceram.
Como disse Fehn, só é possível fazer o passado falar pela manifestação do presente.
O festival de cinema de Visconde do Rio Branco é uma forma ideal de reviver os tempos de glória do cinema e, de um modo especial, os tempos de glória do Cinema Brasil. Que sua memória não seja apenas um marco nos anais da cultura de nossa cidade. É preciso que nós, cidadãos rio-branquenses, possamos dar continuidade a esse passado, tentando recompor seu ”espírito” e, com isto, fazê-lo falar ao futuro.
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