Foi uma
semana memorável a realização do Festival de Cinema de Visconde do Rio Branco “Geraldo
Santos Pereira”, que nos fez reviver bons tempos em torno do histórico Cine
Brasil. A matéria de Dona Theresinha de Almeida Pinto publicada na edição de
ontem reforça uma volta ao passado, com os olhos no futuro.
Marcando o
elo entre um tempo e outro, o Festival contou com participantes de todas as
idades, onde cabe a bela expressão de Jacynto Batalha “Um Passeio No Tempo”.
Um grupo de
jovens forma a equipe de produção e atores liderados por Erick Leite na Café
Pingado Filmes, para buscar a memória de um rio-branquense sonhador, apesar de
seus 90 anos, que estava em plena atividade quando o Alzheimer o afetou –
Geraldo, o irmão gêmeo de Renato Santos Pereira, ambos nascidos na acolhedora
Água Limpa.
Erick,
Rogério, Cristiane Moreira e seus companheiros tiveram uma convivência com
nossa gente de maneira tão afetiva, descontraída, sem formalidades, que os
sentimos muito próximos como conterrâneos e irmãos. Nosso povo, em plena Praça, os viu com muito
carinho.
No seu
trabalho de contar a história de Geraldo por meio de depoimentos de sua esposa,
filha, companheiros de trabalho e amigos, há também o laço entre gerações. Ao mesmo tempo presenteia sua terra natal com
o privilégio de fazer aqui o lançamento de tão importante obra, ao abordar um tema verdade, na figura
brilhante de Geraldo Santos Pereira.
O contexto
de unir platéia, tela, sirene, pipoqueiro em uma bela noite sob o Luar de Rio
Branco, bem em frente ao Cine Brasil, leva-nos de volta a um passado, no
ambiente dos anos 50, quando, num raio de dois quilômetros ouvia-se o ruído agudo emitido a partir da torre daquela
casa de espetáculos, que tinha seus frequentadores cativos lembrados por Dona Theresinha.
O público da
época, como um todo, variava em hábitos e preferências. E a programação dos filmes parecia buscar se
adequar a cada tipo expectador, conforme os hábitos, gostos e
possibilidades. De segunda a sexta-feira
passavam-se filmes variados, em sessão única, com jornal da tela e o filme da
noite. Aos sábados havia o jornal, um faroeste e um seriado, mais ao gosto dos
operários, sobretudo os cortadores de cana que tinham a semana pesada no facão
e o pagamento semanal, na tarde do mesmo sábado. O cinema lotava. A “galera” vibrava com Tim Holt, Rock Lane,
Roy Rogers, Tarzan(Johnny Weissmuller), John Wayne, em ações de muito
soco e tiroteio. Aqueles “cowboys” influenciaram muito nosso meio rural, a
partir dos anos 60, desde quando se deu maior fluxo migratório da roça para a
cidade. E cresceu uma cultura “Country”,
alienígena. Nosso sertanejo começou a perder sua identidade bem caracterizada
pelas duplas Alvarenga & Ranchinho e Tonico & Tinoco.
Imagem: www.hollyoowdiano.com
Imagem: www.hollyoowdiano.com
Nos anos 50, esse público ia ao cinema predominantemente
de bicicleta. No beco do Cinema, entre suas paredes e muros, elas ficavam
amontoadas umas em cima das outras, com ou sem cadeado, sem qualquer controle. Na calçada em frente era do mesmo modo. Todos
assistiam às sessões. Na saída, cada um pegava a sua e voltava para casa
tranquilamente. Não havia notícia de roubo. Às vezes alguém até confundia. Montava
em uma, pensando que era a sua. Mas, tão logo notasse a diferença, voltava e ‘destrocava’.
Era uma vida simples, modesta. Mas cada um tinha noção
do que era seu. E o respeito ao patrimônio alheio era dominante. O trabalhador tinha orgulho de dizer:
- Trabalhei e comprei.
O surgimento da televisão trouxe conforto. Ninguém
precisa sair para ver um filme. A tecnologia levou tudo para dentro de casa.
Tirou o público/receita do cinema e inviabilizou a sua existência em cidades de
menor porte.
O tempo vem dizer que o lazer “cinema” não é só ver o
enredo de um filme. Há aquela magia
desde o som da sirene – o canto agudo de uma cigarra -, o cheiro de pipoca, o
pirulito, as balas no bolso, a corrida para achar um bom lugar, o lanterninha,
a abertura das cortinas, o namoro no escurinho, o beijo roubado ou escondido, a
bronca quando a fita arrebenta, a fila para comprar entrada, o contato
inesperado com conhecidos, as novas amizades enquanto a fila anda.... Nada disto se consegue sentado numa poltrona
solitária diante de um aparelho de DVD.
O lazer cinema é um parque, um espaço, um ambiente
amplo, espontâneo e envolvente. Tem muito de sociabilidade, de convívio, de
descontração em grupo, de troca de opinião. Cada um vê um mesmo filme de
maneira diferente.
Depois de um filme policial, um faroeste, ou um
romance, era comum os companheiros de platéia saírem contando um para o outro a mesma história que todos viram.... e, não raro, discutindo, divergindo de certas
cenas, ou do desenrolar do enredo.
Tudo isto é muito saudável para fortalecer a
convivência, estimular o raciocínio e reforçar a memória. Ativa neurônios. É atividade coletiva.
A experiência deste 1º Festival de Cinema de Visconde
do Rio Branco “Geraldo Santos Pereira” faz mais do que provocar saudosismo.
Mostra a conveniência de sua continuidade, da prática de cultura social.
Cinema é uma arte que faz o povo pensar....
(Franklin Netto)
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