quinta-feira, 9 de agosto de 2012

FESTIVAL DE CINEMA DESPERTOU LEMBRANÇAS DO PASSADO




Foi uma semana memorável a realização do Festival de Cinema de Visconde do Rio Branco “Geraldo Santos Pereira”, que nos fez reviver bons tempos em torno do histórico Cine Brasil. A matéria de Dona Theresinha de Almeida Pinto publicada na edição de ontem reforça uma volta ao passado, com os olhos no futuro.

Marcando o elo entre um tempo e outro, o Festival contou com participantes de todas as idades, onde cabe a bela expressão de Jacynto Batalha “Um Passeio No Tempo”. 
Um grupo de jovens forma a equipe de produção e atores liderados por Erick Leite na Café Pingado Filmes, para buscar a memória de um rio-branquense sonhador, apesar de seus 90 anos, que estava em plena atividade quando o Alzheimer o afetou – Geraldo, o irmão gêmeo de Renato Santos Pereira, ambos nascidos na acolhedora Água Limpa.

Erick, Rogério, Cristiane Moreira e seus companheiros tiveram uma convivência com nossa gente de maneira tão afetiva, descontraída, sem formalidades, que os sentimos muito próximos como conterrâneos e irmãos.  Nosso povo, em plena Praça, os viu com muito carinho.

No seu trabalho de contar a história de Geraldo por meio de depoimentos de sua esposa, filha, companheiros de trabalho e amigos, há também o laço entre gerações.  Ao mesmo tempo presenteia sua terra natal com o privilégio de fazer aqui o lançamento de tão importante  obra, ao abordar um tema verdade, na figura brilhante de Geraldo Santos Pereira.

O contexto de unir platéia, tela, sirene, pipoqueiro em uma bela noite sob o Luar de Rio Branco, bem em frente ao Cine Brasil, leva-nos de volta a um passado, no ambiente dos anos 50, quando, num raio de dois quilômetros ouvia-se  o ruído agudo emitido a partir da torre daquela casa de espetáculos, que tinha seus frequentadores cativos lembrados por  Dona Theresinha.

O público da época, como um todo, variava em hábitos e preferências.  E a programação dos filmes parecia buscar se adequar a cada tipo expectador, conforme os hábitos, gostos e possibilidades.  De segunda a sexta-feira passavam-se filmes variados, em sessão única, com jornal da tela e o filme da noite. Aos sábados havia o jornal, um faroeste e um seriado, mais ao gosto dos operários, sobretudo os cortadores de cana que tinham a semana pesada no facão e o pagamento semanal, na tarde do mesmo sábado.  O cinema lotava.  A “galera” vibrava com Tim Holt, Rock Lane, Roy Rogers, Tarzan(Johnny Weissmuller),  John Wayne, em ações de muito soco e tiroteio. Aqueles “cowboys” influenciaram muito nosso meio rural, a partir dos anos 60, desde quando se deu maior fluxo migratório da roça para a cidade.  E cresceu uma cultura “Country”, alienígena. Nosso sertanejo começou a perder sua identidade bem caracterizada pelas duplas Alvarenga & Ranchinho e Tonico & Tinoco












Imagem: www.hollyoowdiano.com
                                  Imagem: www.hollyoowdiano.com



Nos anos 50, esse público ia ao cinema predominantemente de bicicleta. No beco do Cinema, entre suas paredes e muros, elas ficavam amontoadas umas em cima das outras, com ou sem cadeado, sem qualquer controle.  Na calçada em frente era do mesmo modo. Todos assistiam às sessões. Na saída, cada um pegava a sua e voltava para casa tranquilamente. Não havia notícia de roubo. Às vezes alguém até confundia. Montava em uma, pensando que era a sua. Mas, tão logo notasse a diferença, voltava e ‘destrocava’.

Era uma vida simples, modesta. Mas cada um tinha noção do que era seu. E o respeito ao patrimônio alheio era dominante.  O trabalhador tinha orgulho de dizer:

- Trabalhei e comprei.

O surgimento da televisão trouxe conforto. Ninguém precisa sair para ver um filme. A tecnologia levou tudo para dentro de casa. Tirou o público/receita do cinema e inviabilizou a sua existência em cidades de menor porte.

O tempo vem dizer que o lazer “cinema” não é só ver o enredo de um filme. Há aquela  magia desde o som da sirene – o canto agudo de uma cigarra -, o cheiro de pipoca, o pirulito, as balas no bolso, a corrida para achar um bom lugar, o lanterninha, a abertura das cortinas, o namoro no escurinho, o beijo roubado ou escondido, a bronca quando a fita arrebenta, a fila para comprar entrada, o contato inesperado com conhecidos, as novas amizades enquanto a fila anda....   Nada disto se consegue sentado numa poltrona solitária diante de um aparelho de DVD. 

O lazer cinema é um parque, um espaço, um ambiente amplo, espontâneo e envolvente. Tem muito de sociabilidade, de convívio, de descontração em grupo, de troca de opinião. Cada um vê um mesmo filme de maneira diferente. 

Depois de um filme policial, um faroeste, ou um romance, era comum os companheiros de platéia saírem contando um para o outro a mesma história que todos viram.... e, não raro, discutindo, divergindo de certas cenas, ou do desenrolar do enredo.
 
Tudo isto é muito saudável para fortalecer a convivência, estimular o raciocínio e reforçar a memória.  Ativa neurônios.  É atividade coletiva.

A experiência deste 1º Festival de Cinema de Visconde do Rio Branco “Geraldo Santos Pereira” faz mais do que provocar saudosismo. Mostra a conveniência de sua continuidade, da prática de cultura social.

Cinema é uma arte que faz o povo pensar....



(Franklin Netto)  


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