quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Retrospectiva do 1º Festival de Cinema de Visconde do Rio Branco “Geraldo Santos Pereira” - Rebelião em Vila Rica




Retrospectiva do 1º Festival de Cinema de Visconde do Rio Branco “Geraldo Santos Pereira”

Rebelião em Vila Rica



Quinta-26: Palestrante - Dona Theresinha de Almeida Pinto. Exibição:  Rebelião em Vila Rica de Renato e Geraldo Santos Pereira.

O Filme exibido na quinta-feira, 26/07/2012, Rebelião em Vila Rica,  é uma produção dos irmãos gêmeos, cineastas rio-branquenses Geraldo e Renato Santos Pereira.

Aborda a revolta dos estudantes de Ouro Preto devido à demissão do diretor da Escola de Minas de Ouro Preto e transferência da Escola pelo governo do Rio de Janeiro-DF-, então capital da República, nos anos 40. Na revolta encontram-se ingredientes comportamentais que envolvem adolescência e rebeldia.
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Há uma fusão genial dos irmãos Santos Pereira ao sicroniar a rebeldia da Inconfiência(final do Século XVIII) com a de Ouro Preto de 1940, a mesma Ouro Preto capital do Coroa que determinou o sacrifício de Tiradentes e, antes, também enforcado Felipe dos Santos, considerado um dos precursores da Inconfiência.  Historiadores contam que a frase original de “Jurei morrer pela liberdade, cumpro minha palavra”, teria sido proclamada por Felipe(15 de julho de 1720).  O Conde D’Assumar foi quem condenou o líder dos revoltosos de 1720.
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É curioso que Santos Pereira encontra em Ouro Preto(ex-Vila Rica) o palco das revoltas e das perversas punições. Há um simbolismo sintomático ao colocar nos estudantes de 1940 nomes de personagens da Inconfiência: Maciel; o poeta Gonzaga como menestrel a fazer serenata para a musa Marília; o líder e herói Xavier; e o traidor Silvério.  Era uma ligação histórica do Brasil Colônia com a República após 1930, que acaba se transferindo –sem a inteção do autor -  para 1964, quando o Brasil sofreu o pior arbítrio do Século XX, com perda de soberania, de riquezas e que perduraram e cresceram na “abertura gradual e lenta”, com a denominação de “redemocratização”.
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Os métodos de tortura  continuam, conforme declarou a própria presidente Dilma, que fora torturada durante a Ditadura Militar de 1964.  Só que sem os rituais macabros, como aconteceu com Tiradentes, na procissão cheia de fanfarra pelas ruas do Rio de Janeiro em direção à forca.  As  torturas de 64 aconteciam nos porões e pátios de quartéis. As de hoje, no ambiente interno das delegacias de maneira velada para arrancar confissões.
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As leituras dessas práticas de crueldade precisam ser feitas dentro do contexto de cada época.  
Relião em Vila Rica, “uma produção da Cinematográfica Brasil Filmes, foi um dos primeiros filmes brasileiros coloridos. Atingiu a incrível marca de quatro filmes lançados naquele ano de 1957.
Geraldo, entusiasmado com o lançamento desse filme, levantou-se e colocou-se no centro do Cine Santa Tereza, quando apresentou o filme aos poucos privilegiados que conseguiram comparecer ali – um casal que havia participado do filme: ele como um dos estudantes, ela como uma das normalistas."
“O diretor lembrou detalhes da produção, em especial destacando a trilha de Mozart Camargo Guarnieri: teria sido a única vez em que o compositor - que ao lado de Guerra-Peixe e Villa-Lobos era um dos mais destacados compositores brasileiros da época e cujo centenário é celebrado no ano de 2007 – faria um trabalho para filme de longa-metragem.
Em seguida, Pereira retirou um pequeno discurso do bolso e leu para os presentes, lembrando a grande inspiração de Minas Gerais para o cinema, em especial através de sua história e geografia – como sugerem as trajetórias de artistas como João Rosa e seu sertão, Aleijadinho e o barroco, dentre outras.
Logo no início do filme, porém, a constatação de que, por algum tipo de problema técnico, a cópia nos seria apresentada em preto e branco – salvo um trecho ao meio da projeção. Era uma cópia produzida para festivais na Europa. De qualquer forma, impressiona o padrão de sincronização sonora e ainda algumas soluções – como num dos planos iniciais em que entramos, via serenata e em plano-seqüência, pela janela de Marília e, mais adiante, planos-detalhe dos pés apressados dos estudantes em revolta pelas ruas e escadarias de Ouro Preto. A antiga capital mineira, aliás, reina absoluta nos planos gerais e, melhor dizer, em todo o filme. A direção soube extrair a força cinematográfica não só do conjunto arquitetônico da cidade, mas inserir na história outros elementos como as serenatas e o repicar dos sinos.  É um alívio constatar que boa parte desse patrimônio ainda se mantém na cidade – o mesmo não poderíamos dizer, por exemplo, de Belo Horizonte.
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Visto com os olhos de hoje, apenas o enredo, em si, pode ter alguns pontos fracos dado talvez o excessivo maniqueísmo dos personagens centrais, intransigentes em suas posições e, mais ainda, em suas soluções. Mas se é precisamente a ausência de diálogo que mais caracteriza o conflito de gerações não poderia ser diferente. Aliás, é curioso perceber que, até hoje não é uma situação bem resolvida a relação entre as repúblicas estudantis e a população ouro-pretana: mesmo a polêmica inadimplência da taxa de aluguel das Repúblicas já aparece no filme” (trechos de Coberturas - http://www.filmespolvo.com.br/site/eventos/cobertura/713).

Antes do filme, a Professora, Filósofa e Diretora do Museu Municipal de Visconde do Rio Branco, Coordenadora do Festival,   Theresinha de Almeida Pinto, proferiu palestra em que conta a história do Cine Brasil  local, desativado há anos, cuja fachada e espaços internos são bens tombados. Seu vão de entrada passou por algumas reformas e abriga escritórios e oficinas de atividades gerais.

De acordo com sua palestra, aquela casa de espetáculos foi inaugurada em 1909.
Erick, diretor da Café Pingado Filmes, ficou admirado que em uma cidade de pequeno porte, tivesse sido aberta uma Casa daquela natureza,  20 anos apenas após a criação da arte cinematográfica.  É mais admirável que àquele tempo o Brasil era um país essencialmente agrícola. O Município deveria ter menos de 10% de sua população na Zona Urbana.

Isto mostra que a tendência cultural de Visconde do Rio Branco vem de longe. Não sabemos se do tempo do Presídio, ou pelo espírito dos que lutaram pela sua emancipação.  Mas, pelo nome que predominou, como homenagem ao autor da Lei do Ventre Livre, a segunda hipótese parece mais provável. Haja vista que este 1º Festival de Cinema realizou-se totalmente com trabalhos de cineastas rio-branquenses, à exceção de Erick Leite, o autor de EU É GERALDO. E, à medida que começou a divulgação do evento, fomos descobrindo outros cineastas conterrâneos de Geraldo Santos Pereira mundo a fora. 
 José Maria da Silva Paranhos, o Viscone do Rio Branco(ptwikipedia.org.br)

O próximo Festival deverá durar mais tempo, ou realizar maior número de sessões para comportar realizações de todos os possíveis participantes.

Por isto mesmo, Erick Leite permaneceu uma semana na cidade, em contato constante com a equipe deste trabalho, quando propôs criação de uma estrutura maior, que possa promover e divulgar com a antecedência devida a sua realização.  Entre suas propostas, está a criação de uma oficina de arte, de onde deverão surgir atores, produtores, diretores e demais artistas habilitados tanto para o cinema como para o teatro, buscados no meio estudantil e em todos os segmentos da sociedade, com participação ativa dos moradores da periferia, em um trabalho que ofereça aos seus jovens espaço em atividade sadia de cunho cultural e crescimento cognitivo(saber).

A iniciativa da Coordenadora, Dona Theresinha, de deixar o palco totalmente aberto e livre, sem composições de mesa, somente com o suporte de papel para palestra, teve a intenção de dar ao acontecimento  caráter popular, como uma mensagem de que cultura e saber não devem ser privilégio de classe, mas um bem ao alcance de todos.

(Franklin Netto)  

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