segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Retrospectiva do 1º Festival de Cinema de Visconde o Rio Branco “Geraldo Santos Pereira”





--Terça-24------“A Banda” de José Augusto Muleta);  e “Visconde do Rio Branco,  Um Passeio no Tempo” de Jacynto Batlha) Palestras de Jacynto e José Augusto Muleta.



Na terça-feira, 24 de julho, foram exibidos dois filmes:  “A Banda”, um curta metragem de José Augusto Muleta; e “Visconde do Rio Branco, Um Passeio no Tempo”, de Jacynto Batalha.

Em A Banda, com 06 minutos de duração, o produtor mostra, em um terminal rodoviário, dois passageiros de nível de vida diferente: uma mulher de meia idade e um idoso humilde, aparentemente mendigo, sentados no banco de espera.  Entre eles um pacote de biscoito que os dois vão comendo parte a parte. O velho de maneira tranquila.  A mulher a revelar indignação, embora sem dizer palavra.  As suas expressões no rosto, nos gestos e nos olhos falavam mais do que palavras de um desejo de gritar, esbravejar e até agredir, se não fosse o seu “competidor” uma pessoa fraca e digna de dó.  Ao chegar a hora da saída do ônibus, o velho partiu o último biscoito do pacote, comeu uma parte e deixou a outra.

- Ah! Que ousadia! – Eram as palavras que ela gostaria de dizer, mas saiu a passos nervosos para a condução. Mal se assentou, abriu sua bolsa e viu que lá estavam intactos seus pacotes de biscoito. Conclusão: era ela quem estava comendo os biscoitos do velho, que aceitava dividir calmamente e ainda teve o gesto de partir ao meio o último do pacote, comeu a sua “banda” e cedeu a outra.

Dessa narrativa, sem palavras, e de gestos que falam, em poucos minutos fica uma lição de vida: temos de ter cuidado nos impulsos de julgamento. Pensar muito antes.  Quem sabe, ao pensarmos que o outro erra, somos nós o errado?   Cenas de 06 minutos que falam mais do que um livro.

Na mensagem, a genialidade do cineasta que contou com  Margareth Galvão, Edinardo Pinheiro e Sônia Fontes, nas interpretações impecáveis, onde gestos e imagens falam mais do que palavras.

Em seguida, Jacynto Batalha apresentou o documentário “Visconde do Rio Branco, Um Passeio No Tempo”, em que busca imagens a partir da origem do Parque Municipal Peixoto Filho, o nosso jardim da Praça 28 de Setembro, inaugurado em 17 de outubro de 1909, conforme crônica do Professor Sylvio Passos. E faz um levantamento de imagens da beleza de nossa arquitetura histórica, com prédios antigos, alinhados e harmônicos no visual de conjunto.  
Asfaltamento da Praça 28 de Setembro - 1928 - Image: Paulo Infante Vieira

Nos anos 60 do Século passado, esse conjunto, no centro da cidade, serviu de cenário para a filmagem de “O Menino e o Vento”, por influência do ator Jotta Barroso.
Cenário de "O Menino e o Vento". Imagem: Luiz Orlando de Oliveira
 "O Menino e o Vento."Imagem: Luiz Orlando de Oliveira


Jacynto, no seu trabalho, une trechos de cenas variadas de ruas, prédios e de momentos políticos, onde recorda discurso de posse do ex-prefeito Ruy Bouchardet, falecido precocemente em acidente de carro no Km 03 da antiga estrada Rio Branco-Ubá. Mostra cenas também de outro ex-prefeito, Raul Cardoso da Silva.  As cerimônias da Semana Santa ao vivo estão incluídas nesse documentário, com narrativa do radialista ubaense Xavier Pereira, e onde se destaca a voz inigualável da cantora Mariazinha, como Verônica, na Paixão de Cristo.

O documentário de Jacynto Batalha é uma obra para servir de referência, muito útil aos estudantes e aos apaixonados pela história do Município.  E destaca o cenário básico do centro da cidade, que merecia ter sido  preservado, infelizmente descaracterizado principalmente a partir dos anos de 1970. 
Praça 28 de Setembro. Imagem: Isah Baptista

Antes da exibição dos filmes, os cineastas José Augusto Muleta e Jacynto Batalha comentaram o seu trabalho para o público que compareceu ao Auditório Jotta Barroso naquela noite.
Jacynto Batalha, entre Erick Leite e Jorge Luiz da Silva

José Augusto Muleta com Luciano Huck

Depois do Festival, nós percebemos informações mostradas no Evento, ou já sabidas anteriormente: A inauguração do jardim, a criação do Cine Brasil e a idéia do Hospital São João Batista ocorreram em datas próximas umas das outras. E a harmonia das construções dos prédios da época revela a existência de uma cultura social avançada para a época, quando o país e o município  eram essencialmente agrícolas.  Pouca gente vivia no perímetro urbano, talvez menos de 10%.

Essa harmonia, essa civilidade contrastavam com o estilo coronelista dos cafezais, dos senhores de engenho, dos crimes de encomenda que deram ao município a fama de “cidade onde se manda matar”, que ainda tem seus resquícios nos dias de hoje.

E o cinema, com seus temas variados, com a sua sutileza, com suas ficções baseadas em fatos, é uma arte saudável e também didática que faz o povo pensar.

(Franklin Netto)


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