O trabalhador ou aposentado compra
menos com o salário mínimo de junho último do que comprava com o do mesmo mês
do ano passado. O valor real continua em
queda livre.
Muita gente há de estranhar esta
afirmativa, porque a imprensa somente divulga que a cesta básica ficou mais
barata em 10 capitais das 18 pesquisadas.
O que a imprensa não divulga é o
seguinte:
Em junho de 2012, o salário mínimo
vigente de R$ 622,00 equivalia a 25,74% do Necessário, calculado na ocasião
pelo DIEESE em R$ 2.416,38, mais da quarta parte, portanto. Este Necessário era 3,88 vezes maior do que
os R$ 622,00.
Em junho deste ano de 2013, o mínimo
vigente de R$ 678,00 equivale a apenas 23,70% do Necessário, também calculado
pelo DIEESE em R$ 2.860,21, menos da quarta parte. E o Necessário de agora é 4,22 vezes maior do
que os R$ 678,00 vigentes.
A capital de São Paulo, com uma queda
de preços de - 0,46%, do
mês de maio para junho, continua a ter a cesta básica mais cara do país (R$
340,46), e, assim, serve de base para o cálculo do Salário Mínimo Necessário.
Esses números mostram que o país está
sendo mal administrado em todos os sentidos. Tem fontes de riquezas. Tem
riquezas produzidas, mas concentradas em poucas mãos e desviadas para o
exterior. E há um mar humano agitado na tormenta da pobreza. O leitor da grande imprensa que não goza dos
privilégios da partilha dos bens, lê, pensa que está tudo bem, e que ele é quem
está mal. Os olhos leem, mas o estômago
é que sente. Há um descompasso entre as versões da televisão, dos jornais e o
organismo das pessoas. Esse confisco constante
de mais de três quartos das necessidades e direitos do trabalhador e sua
família é omitido da opinião pública. O
Salário Mínimo Necessário que o DIEESE calcula todo mês não é invenção daquela
instituição, e sim determinação constitucional para “suprir as despesas de um trabalhador e sua
família com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene,
transporte, lazer e previdência”, com base científica.
Os três poderes são coniventes com essa
anomalia: o Executivo faz, o Legislativo lava as mãos, e o Judiciário,
teoricamente “guardião da Constituição”, faz de conta que não sabe. Esse é um dos mais fortes ingredientes que faz
o país explodir nesta ebulição social. Todos
estão insatisfeitos e ninguém sabe direito por que. “Onde falta pão, todos gritam e ninguém tem
razão”.
Os governantes reconhecem a razão da
juventude fervente nas ruas, mas vê somente como seu direito de manifestação. Fica no
abstrato. Deixa de ir às causas dessa fervura e procura ganhar tempo com saídas
pela tangente, com propostas de alterações simplesmente no âmbito
institucional. É muito pouco fazer
projeto de plebiscito para provável vigência em 2016, que pode atingir parte da
insatisfação geral, mas não entra no âmago da questão.
O desconforto maior sobre os intestinos
desta nação está no contraste da falta de dinheiro para quem trabalha e o
esbanjamento para quem gravita em torno do poder. Os altos vencimentos e mordomias da classe
política afrontam quem trabalha, recebe pouco e paga os impostos mais caros da
América Latina. Nisto está o cerne da questão, em torno do qual giram a
decadente educação, a deficiente saúde, a falta de representatividade eletiva,
o descrédito nas instituições, os desconfortáveis serviços de transporte, as
privatizações criminosas de empresas públicas, o enriquecimento meteórico de governantes
e seus parentes, a rapinagem e todas as formas de prejuízo à economia popular.
Por todas as demonstrações de
descontentamento e de indignação da juventude nas ruas, o anúncio de propostas
sujeitas à tramitação manhosa do poder legislativo, com o vai e vem de
negociações malandras entre a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, não vai
nem de longe atender à impaciência reinante.
Jogo de cintura é tática para as composições no âmbito do desgastado
Congresso Nacional. O confronto
entre Nação e Governo está a exigir medidas urgentes na distribuição
de renda, fora das fórmulas humilhantes de assistencialismo semelhante ao
Bolsa-Família. O povo que trabalha, que
produz, quer direitos. Está cansado de
carregar andor cheio de santos esculpidos na lama, a lambuzarem a sua cabeça e
a sua cara. Já sentiu quão falsa é a idolatria. E perdeu a crença nos templos
onde tramitam os rituais inconsequentes dos poderes que não se dão ao respeito.
O povo demorou, mas veio às ruas sem
pressa de sair, porque viu e sentiu esmaecerem todas as causas de veneração aos
rituais de legitimação dos poderes.
Fonte para esta matéria:
São Paulo, 04 de julho 2013.
NOTA À IMPRENSA
Cesta básica mais barata em 10 capitais
Pelo segundo mês consecutivo, houve predomínio de retração
nos preços dos produtos alimentícios essenciais nas capitais onde o DIEESE
(Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) realiza
mensalmente a Pesquisa Nacional da Cesta Básica. Das 18 cidades pesquisadas, 10
apresentaram este comportamento. As maiores quedas foram apuradas no Rio de
Janeiro (-3,55%), em Vitória (-3,14%), Manaus (-2,07%) e Belo Horizonte
(-2,0%). Os aumentos ocorreram em oito capitais, entre as quais se destacam
Aracaju (3,05%), Brasília (2,87%) e Recife (1,97%).
Apesar da queda de preços (-0,46%) da cesta paulistana no
ultimo mês, São Paulo continuou a ser a capital onde se apurou o maior valor
para o conjunto de produtos essenciais (R$ 340,46). Na sequência aparecem Porto
Alegre (R$ 329,16), Manaus (R$ 316,29) e Vitória (R$ 315,63). Os menores
valores médios foram observados em Aracaju (R$ 248,07), Salvador (R$ 260,20) e
Campo Grande (R$ 275,91).
Com base no custo apurado para a cesta de São Paulo, e
levando em consideração a determinação constitucional que estabelece que o salário
mínimo deve ser capaz de suprir as despesas de um trabalhador e sua família com
alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e
previdência, o DIEESE estima mensalmente o valor do salário mínimo necessário.
Em junho deste ano, o menor salário pago deveria ser de R$ 2.860,21, ou seja,
4,22 vezes o mínimo em vigor, de R$ 678,00. Em maio, o mínimo necessário era
maior: equivalia a R$ 2.873,56 ou 4,24 vezes o piso vigente. Em junho de 2012,
o valor necessário para atender às despesas de uma família chegava a R$
2.416,38, o que representava 3,88 vezes o mínimo de então (R$ 622,00).
Variações acumuladas
No primeiro semestre de 2013, as 18 capitais apresentaram
alta nos preços da cesta básica.
As maiores elevações situaram-se em Aracaju (21,57%), João
Pessoa (20,02%) e Recife 2(19,17%). Os menores aumentos foram verificados em
Florianópolis (6,00%), Belo Horizonte (6,05%) e Vitória (8,50%).
Em 12 meses (entre julho de 2012 e junho último), período em
que o DIEESE divulgava a estimativa de preços da cesta básica em 17 capitais,
sem os dados de Campo Grande (MS), os aumentos do custo da cesta básica, embora
continuem em desaceleração, ainda se mantêm acima de 10% em todas as regiões.
As maiores variações ocorreram em: Recife (28,17%), João Pessoa (24,36%) e
Fortaleza (24,25%). As menores taxas foram verificadas em Curitiba (12,40%),
Vitória(13,66%) e Rio Janeiro (14,66%).
Necessário de Junho de 2013 = 4,22 vezes o
normal(vigente)23,70% do Necessário
Período
|
Salário mínimo nominal
|
Salário mínimo necessário
|
Junho
|
R$ 678,00
|
R$ 2.860,21
|
Maio
|
R$ 678,00
|
R$ 2.873,56
|
Abril
|
R$ 678,00
|
R$ 2.892,47
|
Março
|
R$ 678,00
|
R$ 2.824,92
|
Fevereiro
|
R$ 678,00
|
R$ 2.743,69
|
Janeiro
|
R$ 678,00
|
R$ 2.674,88
|
Dezembro
|
R$ 622,00
|
R$ 2.561,47
|
Novembro
|
R$ 622,00
|
R$ 2.514,09
|
Outubro
|
R$ 622,00
|
R$ 2.617,33
|
Setembro
|
R$ 622,00
|
R$ 2.616,41
|
Agosto
|
R$ 622,00
|
R$ 2.589,78
|
Julho
|
R$ 622,00
|
R$ 2.519,97
|
Junho
|
R$ 622,00
|
R$ 2.416,38
|
Necessário de junho de 2012 = 3,88 vezes o normal(vigente)25,74%
do Necessário
(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerias@gmail.com)
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