(Compilação)
PIB do IBGE sob ataque antecipa sucessão 2014
Conselho Editorial Sul-Americano em 05/12/2012

O economista Chico Lopes, ex-presidente do Banco Central, publicou, na terça, 4, no Valor Econômico, artigo altamente técnico, mas de repercussão política bombástica, em que coloca em dúvida como que a redução da taxa de juro, colocada em prática pela presidenta Dilma Rousseff, não tenha redundado em aumento do PIB, provocando, ao contrário, sua redução. Ele questiona o comportamento do setor de serviços financeiros, que representa 10% do setor de serviços em geral, corresponde a 60% do PIB, ou seja, 6% do Produto. Para ele, estaria em causa questões metodológicas, responsáveis por influir no que considera injustificável, ou seja, a contribuição negativa dos serviços financeiros, no crescimento da economia, quando deveria ter provocado efeito positivo a decisão governamental de não apenas forçar a queda da selic, taxa de juro básica, mas de expandir a oferta de crédito, impulsionadora natural das atividades produtivas em seu conjunto. O mais importante jornal econômico do país deu destaque para o artigo na primeira página, mas, no dia seguinte, nessa quarta, frustrou os leitores: não repercutiu, amplamente, o assunto, ouvindo os especialistas, enquanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, orientava o IBGE rever os cálculos realizados. Igualmente, o ex-ministro e ex-deputado Delfim Neto, em sua coluna semanal, na terça, no mesmo jornal, considerara estranho o comportamento do PIB em meio a uma economia relativamente aquecida, levantando possibilidades de que possa ter havido erro do IBGE, hipótese na qual disse não acreditar, mas…. Afinal, por mais competente que possam ser os homens encarregados das missões específicas, ainda assim o erro pode acontecer, por que não? O fato é que a classe política passou a ficar inquieta com o PIB nacional. As forças governistas se mostram tendentes à crítica, enquanto as oposicionistas partem para o tudo ou nada. O assunto pode antecipar a sucessão presidencial, como se pode perceber pelas reações dos atores políticos mais proeminentes no cenário nacional. Ele é quente e promete.
Por que a taxa de juros está
caindo e junto com ela os
spreads bancários, mas em
O juro caiu e o PIB não subiu.
Por que?
Essa pergunta está na cabeça de todos, leigos e entendidos em economia.
O país está vivendo a menor taxa de desemprego da sua história.
Os mercados estão abastecidos.
O salário mínimo sobe mais que a inflação, garantindo consumo e competição entre as empresas na contratação de mão de obra.
Consequentemente, o consumo se encontra satisfatório.
O programa Bolsa Família garante aos miseráveis três refeições diárias e os projetos governamentais de beneficios continuados aos mais pobres, somados às iniciativas para dinamizar as atividades produtivas, como incentivos às empresas, asseguram equilibrio relativo entre oferta e demanda, com inflação perfeitamente sustentável, capaz de estimular investimentos, programados, oficialmente, para ser dinamizados nos processos de concessões de serviços públicos – portos, aeroportos, rodovias etc.
A Petrobrás, em regime de partilha para a exploração do ouro negro, na camada do pre-sal, progama investimentos da ordem de R$ 400 bilhões, nos próximos dez anos, algo que deverá acelerar-se, assim que forem superadas as divergências decorrentes da distribuição dos royalties da exploração do óleo em reservas já licitadas, conforme desenrolar do assunto no Congresso, em fase de discussão, caminhando para conclusão.
Ou seja, em meio à conjuntura internacional de retração econômica, responsável por colocar as economias desenvolvidos de joelhos, padecendo pelo excesso de endividamento dos governos capitalistas ricos, obrigando-os a sustentarem juros negativos, punitivos aos investidores, a economia brasileira se mantém viva e atrativa.
Porém, o PIB não cresce satisfatoriamente, conforme os números apurados pelo IBGE e pelo Banco Central, no terceiro trimestre do ano, crescendo, apenas, 0,6% em relação ao trimestre anterior, quando a previsão oficial era de avanço superior a 1%, frustrando geral e levantando polêmicas, especialmente, no plano político, dando, assim, asas à oposição, bem como rachando as próprias forças governistas.
Dúvidas gerais.
Por que?

- O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, e o senador Aécio Neves, do PSDB, ambos candidatos potenciais à presidência da República começam, sincronizadamente, a adotarem discursos críticos relativamente à política econômica dilmista, polarizando, desde já, com a titular do Planalto, candidata previsível a um segundo mandato, os rumos do desenvolvimento nacional. Mais diplomático, Campos aventura-se em argumentos que destacam a falta de estratégia para o avanço desenvolvimentista, que careceria,na opinião dele, de formação de um consenso político mais amplo, algo que Dilma não estaria alcançando. Já, Aécio, incensado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, amplia seu ataque, para conquistar tanto a presidência do PSDB, tirando essa prerrogativa das mãos dos paulistas, como a condição de candidato tucano à sucessão em 2014, tentativa essa que começa a produzir efeitos, até mesmo, no sentido de abalar forças governistas, como se denota por informações de que o PMDB de Minas Gerais se prepararia, desde esse instante, para desembarcar-se do navio governista, a fim de pegar carona num possivel transatlântico pilotado por Aécio, se o PIB dilmista continuar rateando.
contraposição o PIB não
reage, positivamente,
especialmente, no setor de
serviços financeiros, quando
deveria estar
O artigo do ex-presidente do Banco Central, Francisco Lopes, publicado no Valor Econômico, terça, 4, coloca em discussão técnica as razões desse baixo crescimento do PIB e, no rastro dela, eleva a temperatura política, agitando economistas, políticos e jornalistas.
Lopes questiona a metodologia utilizada pelo IBGE para mensurar o comportamento do setor de serviços financeiros, que representa 10% do setor de serviços gerais, correspondente a 60% do PIB nacional.
Para o ex-presidente do BC, os bancos, certamente, teriam perdido renda com a redução da taxa de juro básica, selic, ao longo dos últimos doze meses, quando o Governo Dilma Rousseff decidiu jogar pesado contra a especulação financeira, na contramão da economia mundial, em que os juros despencam, especialmente, nas economias desenvolvidas, sob o impacto da crise global, marcada por deflação, detonadora dos mercados.
Entretanto, o economista estranha que, diante das decisões da presidenta da República, de ativar os setores produtivos, tomando providências capazes de sustentar o nível de emprego e os investimentos, por intermédio de maior oferta de dinheiro na circulação capitalista brasileira, tenha o setor financeiro contribuido negativamente na formação do PIB.
Ora, se ocorre maior oferta de dinheiro em circulação, se o consumo está quente, se o salário mínimo cresce mais que a inflação, estimulando demanda interna, se as empresas disputam mercado de mão de obra, elevando, consequentemente, o salário médio real do setor privado, se o setor público encontra-se com seus rendimentos atualizados e, devidamente, recuperados, ao longo dos últimos dez anos, das perdas acumuladas na fase neoliberal fernandina, dominada pelo Consenso de Washington, por que os serviços financeiros, que representam 6% do total do setor de serviços correspondentes a 60% PIB registraram queda, se a demanda por crédito mais barato, com spreads mais baixos, cresceu, refletindo diminuição e não aumento do Produto Interno Bruto?
Chico Lopes, consultor da Macrométrica, envereda-se pelos meandros complexos e obscursos, para os leigos, da econometria, a fim de buscar o entendimento.
Essencialmente, foca sua atenção nos estoques de dinheiro existentes no mercado financeiro, na sua evolução, na sua mensuração, feita de maneira indireta, de acordo com metodologia internacional, adaptada pelo IBGE – a chamada Medida Indireta dos Financiamentos de Intermediação Financeira(FISIM, sigla inglesa; SIFIM, em português)
Busca, dessa forma, aferir – ou inferir – a expansão ou retração de tais estoques ao longo de determinado período, no caso, nos últimos quatro trimestres, descontando a inflação do periodo, com o objetivo de alcançar as razões do que considera enigmático: por que a queda da selic reduziu o PIB em vez de aumentá-lo, o que seria mais razoável, se elevou-se a oferta de crédito, para atender as pressões da demanda no mercado interno?
“Não faz sentido a contribuição negativa do setor financeiro à economia”, diz.
Estaria ocorrendo conflito metodológico nos cálculos, de um lado, da variação nominal(inclusão da inflação), de outro, da variação real(exclusão da inflação)dos estoques financeiros(empréstimos, depósitos, poupanças, títulos privados, rendas fíxas, operações compromissadas)?
Como os spreads bancários têm caído, por conta da diminuição dos juros, o rendimento dos bancos, igualmente, estariam em queda.
Porém, como a oferta de crédito tem crescido, mediante política governamental expansionista, a expansão dos serviços financeiros, no cômputo geral dos setores de serviços, teria que se revelar no consequente aumento e não na diminuição dos estoques financeiros, mensurados pela metodologia em vigor.
Trata-se, evidentemente, de discussão para especialistas.

- O ministro Guido Mantega mandou o IBGE refazer cálculos do PIB do terceiro trimeste, cujos resultados frustraram geral a equipe governamental, que, confiando nas estimativas extra-oficiais do Banco Central, esperava crescimento de algo em torno de 1%, ou 1,2%. Levou grande susto. O número anunciado, 0,66%, frustrou. O mercado, que já vem, a algum tempo, fustigando Mantega, dando conta de que ele pode cair, se a economia não reagir, já que os resultados dela estão suscitando desdobramentos políticos inevitáveis, antecipando discussões sucessórias, entre candidatos da oposição e, também, da situação, não acredita nas previsões manteguianas, caindo de pau em cima dele. Ao que tudo indica, a permanência de Mantega não está em questão dentro do governo, mas nunca se sabe quando as coisas ganham dinamismo político, podendo gerar surpresas que mudam a situação de ponta cabeça.

Nenhum comentário:
Postar um comentário