(COMPILAÇÃO)
"Se a vida serve para juntar, que se saiba e que se grite, há uma esquerda na Europa, há uma esquerda na Europa".
F. Louçã, Líder Bloco de Esquerda – Portugal – no comício de 08 de novembro de 2012 , Lisboa.
Angela Merkel estará em Lisboa por meras cinco horas nesta segunda feira, dia 12. O programa começa com o encontro com o Presidente Cavaco, em Belém, passa por um almoço no Forte de S. Julião da Barra com Passos Coelho, Primeiro Ministro e se encerra com o Encontro Empresarial Luso-Alemão. Não traz a Chanceler alemã nenhuma novidade à aflitiva situação portuguesa. O que tinha a dizer, disse-o semana passada: “O desemprego em Portugal não tem solução, porque o país é pobre”... O mesmo tom, aliás, de outra personalidade, local, Isabel Janet, Presidente do Banco Alimentar, falando na ultima quarta-feira, no Programa “Em Directo”, na SIC Notícias, para quem “os portugueses vivem muito acima das possibilidades” e, portanto, . “Vamos ter que empobrecer muito, vamos ter que viver mais pobres”... Ambos pronunciamentos, geradores de um verdadeiro tsuname de indignação por todo Portugal:
“As reacções de indignação multiplicaram-se logo nas redes sociais e, numa carta aberta publicada nesta quinta-feira na Internet pelo Movimento Sem Emprego, Jonet é acusada de proferir “insultos”, “declarações aviltantes” e de “mascarar de caridade o saque que estão a fazer às nossas vidas”.
http://www.publico.pt/Sociedade/isabel-jonet-acusada-de-usar-a-fome-como-arma-politica-1571681
A verdade é que esse tipo de pronunciamento define com perfeição o que hoje separa ideologicamente a Europa, talvez o mundo: Conservadores culpam os gastos – dos Governos, das famílias, dos trabalhadores – pela crise e proclamam a urgência da austeridade; progressitas culpam o sistema financeiro que engolfa geometricamente as rendas públicas e privadas disponíveis elevando crescentemente os níveis de endividamento e crise. O que dificilmente se fala é que se foram os conservadores que instituíram o neoliberalismo que levou ao primado da orgia financeira no planeta, numa era de globalização eletrônica, foram os progressistas que os avalizaram: socialdemocratas, trabalhistas e socialistas na Europa, democratas nos Estados Unidos, tucanos e peronistas de Menem na América Latina. Hoje estes parecem meio arrependidos e correm atrás de medidas salvacionistas. Lamentavelmente, como sempre, não se vêem autocríticas. Mas ressaltam cada vez mais as censuras de setores da esquerda que não se deixaram seduzir pelo canto de sereia do “Consenso de Washington” e que colhem nas urnas margens cada vez maiores de reconhecimento, senão pela estratégia mais radical, pelo menos pela dignidade das posturas: A Frente de Esquerda na França (Mélanchón) , o Syriza da Grécia , (Alexis Tsipras), e o Bloco de Esquerda , de Portugal ( Louçã), bem como, alíás, os Partidos Comunistas destes e de outros países. De todos, Louçã é ,talvez, o mais promissor e preparado quadro desta Nova Esquerda que, embora mais antiga, emerge potencialmente da Crise Europeia. Ele receberá Merkel em Portugal como uma “assaltante”:
O coordenador do BE afirmou que os portugueses são "credores da banca alemã" e que Angela Merkel é "uma assaltante" e intermediária de "um negócio usurário" que terá uma "resposta" na visita a Lisboa.
"Quando Merkel diz que os países endividados a quem impuseram a dívida que faz mais dívida devem perder a soberania e, portanto, o direito dos seus parlamentos decidirem sobre os impostos, que é o fundamento do contrato da eleição, o povo só pode defender-se", declarou Francisco Louçã.
O coordenador do BE falava no encerramento de um comício internacional promovido pelo partido em Lisboa.
No seu discurso, o líder bloquista fez vários comentários irónicos à visita de Angela Merkel a Portugal na segunda-feira e vaticinou "que a Europa vai responder em Lisboa à visita da imperatriz e à imposição dos seus apoderados e dos seus valetes".
Louçã afirmou que hoje Portugal é "credor da banca alemã" e que Merkel é "uma intermediária de um negócio usurário, é uma assaltante e vangloria-se desse assalto".
"Quem toma emprestado a zero por cento e nos cobra a quatro são os agiotas", criticou.
"São Julião da Barra é um forte que foi construído para impedir os piratas de entrar no Tejo, quem é que imaginava que os piratas iam para dentro do Forte de São Julião da Barra, alguém imaginava? Se é para isso podia ter mandado um postal ilustrado", ironizou, provocando fortes aplausos das centenas de bloquistas presentes no Pavilhão do Casal Vistoso.
O líder do BE aludiu depois ao facto de o encontro de Merkel com o primeiro-ministro, Passos Coelho, acontecer numa fortificação militar, quando, por exemplo, o Presidente norte-americano Ronald Reagan discursou no parlamento quando visitou Portugal nos anos 80, perante vaias de deputados.
"Disseram-me que a senhora Merkel se vai encontrar com o Governo no Forte de São Julião da Barra, eu lembro-me que houve um Presidente norte-americano, e tanto protesto contra ele, que merecia muito bem, que veio a Portugal e chegou a falar perante o parlamento, com o protesto de muitos deputados que lá estavam, e ela está refugiada em São Julião da Barra", afirmou.
Louçã considerou, no entanto, que "há uma forma simpática de ver as coisas": "Enquanto Merkel está presa dentro do forte com Passos Coelho e Paulo Portas, a liberdade está nas ruas de Lisboa, e vamos fazer ouvir essa liberdade, essa é a liberdade da Europa, é a de quem luta por todos".
"É claro que Merkel tem uma virtude, e não me levem a mal por vos falar da virtude da Merkel, é que ela não esconde nada, cada dia que passa é mais violenta e mais arrogante", acrescentou.
No seu discurso, o coordenador bloquista apelou à união dos partidos da esquerda europeia, afirmando que existem hoje "dez milhões de eleitores" na Europa neste campo político.
"Se a vida serve para juntar, que se saiba e que se grite, há uma esquerda na Europa, há uma esquerda na Europa", afirmou.
"Há duzentos anos, quando Napoleão se sagrou imperador, Beethoven decidiu colocar em cima da sua secretária uma imagem de Brutus e rasgou uma dedicatória que tinha feito a Bonaparte da sua sinfonia "Eroica", hoje podemos perguntar onde estão os 'Beethovens' da Europa, dessa cultura insubmissa, dessa democracia irredutível, quem toma nas suas mãos a resposta, que povo é que se defende?", interrogou Louçã.
O coordenador do BE falava no encerramento de um comício internacional promovido pelo partido em Lisboa.
No seu discurso, o líder bloquista fez vários comentários irónicos à visita de Angela Merkel a Portugal na segunda-feira e vaticinou "que a Europa vai responder em Lisboa à visita da imperatriz e à imposição dos seus apoderados e dos seus valetes".
Louçã afirmou que hoje Portugal é "credor da banca alemã" e que Merkel é "uma intermediária de um negócio usurário, é uma assaltante e vangloria-se desse assalto".
"Quem toma emprestado a zero por cento e nos cobra a quatro são os agiotas", criticou.
"São Julião da Barra é um forte que foi construído para impedir os piratas de entrar no Tejo, quem é que imaginava que os piratas iam para dentro do Forte de São Julião da Barra, alguém imaginava? Se é para isso podia ter mandado um postal ilustrado", ironizou, provocando fortes aplausos das centenas de bloquistas presentes no Pavilhão do Casal Vistoso.
O líder do BE aludiu depois ao facto de o encontro de Merkel com o primeiro-ministro, Passos Coelho, acontecer numa fortificação militar, quando, por exemplo, o Presidente norte-americano Ronald Reagan discursou no parlamento quando visitou Portugal nos anos 80, perante vaias de deputados.
"Disseram-me que a senhora Merkel se vai encontrar com o Governo no Forte de São Julião da Barra, eu lembro-me que houve um Presidente norte-americano, e tanto protesto contra ele, que merecia muito bem, que veio a Portugal e chegou a falar perante o parlamento, com o protesto de muitos deputados que lá estavam, e ela está refugiada em São Julião da Barra", afirmou.
Louçã considerou, no entanto, que "há uma forma simpática de ver as coisas": "Enquanto Merkel está presa dentro do forte com Passos Coelho e Paulo Portas, a liberdade está nas ruas de Lisboa, e vamos fazer ouvir essa liberdade, essa é a liberdade da Europa, é a de quem luta por todos".
"É claro que Merkel tem uma virtude, e não me levem a mal por vos falar da virtude da Merkel, é que ela não esconde nada, cada dia que passa é mais violenta e mais arrogante", acrescentou.
No seu discurso, o coordenador bloquista apelou à união dos partidos da esquerda europeia, afirmando que existem hoje "dez milhões de eleitores" na Europa neste campo político.
"Se a vida serve para juntar, que se saiba e que se grite, há uma esquerda na Europa, há uma esquerda na Europa", afirmou.
"Há duzentos anos, quando Napoleão se sagrou imperador, Beethoven decidiu colocar em cima da sua secretária uma imagem de Brutus e rasgou uma dedicatória que tinha feito a Bonaparte da sua sinfonia "Eroica", hoje podemos perguntar onde estão os 'Beethovens' da Europa, dessa cultura insubmissa, dessa democracia irredutível, quem toma nas suas mãos a resposta, que povo é que se defende?", interrogou Louçã.
Não se pense, porém, que esta Nova Esquerda é revolucionária, ou prosélita de um ortodoxo marxismo-leninismo. Trata-se, mais bem, de um revigoramento ideológico da agenda reformista, há tempos sepultada pelas lideranças social-democratas mais antigas do continente.
Francisco Louçã, por exemplo, o mais brilhante intérprete desta corrente européia, economista de formação acadêmica, professor universitário, com vários livros publicados, dentre eles o indecifrável “The Years of High Econometrics” (Londres,2007) analisa profundamente a Crise em Portugal, em “Portugal Agrilhoado”, Ed. Bertrand, Lisboa, 2011 e apresenta apenas três singelas propostas de reorganização da Economia do seu país:
“Algumas das mais importantes medidas para a regulação do sistema financeiro e para essa transformação institucional seriam:
Proibir os bancos comerciais de usarem os seus fundos para especulação com produtos financeiros não regulados;
Reduzir a liquidez das transações especulativas de curto prazo, com a imposição de uma taxa Tobin sobre os movimentos de capitais.
Retirar às agências de notação a capacidade de certificar o risco de emissões de dívida soberana, criando no âmbito de instituições internacionais como o BCE , uma agência pública de notação. ”
Tais são as medidas, aliás, hoje reivindicadas por vários outros líderes de esquerda e por vários movimentos, dentre eles o “Geração à Rasca”, com grande presença nos movimentos de massa nas ruas de Lisboa, desde o ano passado:
Geração à Rasca é o nome dado a um conjunto de manifestações ocorridas em Portugal e outros países, no dia 12 de Março de 2011, as maiores manifestações não vinculadas a partidos políticos desde a Revolução dos Cravos[1].
Um evento do Facebook e um blogue, criados por um grupo de amigos: Alexandre Carvalho, António Frazão João Labrincha e Paula Gil; foram o ponto de partida[2] para o movimento de protesto, auto-intitulado "apartidário, laico e pacífico", que reivindica melhorias nas condições de trabalho, como o fim da precariedade.
MANIFESTO
Nós, desempregados, “quinhentoseuristas” e outros mal remunerados, escravos disfarçados, subcontratados, contratados a prazo, falsos trabalhadores independentes, trabalhadores intermitentes, estagiários, bolseiros, trabalhadores-estudantes, estudantes, mães, pais e filhos de Portugal.
Nós, que até agora compactuámos com esta condição, estamos aqui, hoje, para dar o nosso contributo no sentido de desencadear uma mudança qualitativa do país. Estamos aqui, hoje, porque não podemos continuar a aceitar a situação precária para a qual fomos arrastados. Estamos aqui, hoje, porque nos esforçamos diariamente para merecer um futuro digno, com estabilidade e segurança em todas as áreas da nossa vida.
Protestamos para que todos os responsáveis pela nossa actual situação de incerteza – políticos, empregadores e nós mesmos – actuem em conjunto para uma alteração rápida desta realidade, que se tornou insustentável.
Caso contrário:
a) Defrauda-se o presente, por não termos a oportunidade de concretizar o nosso potencial, bloqueando a melhoria das condições económicas e sociais do país. Desperdiçam-se as aspirações de toda uma geração, que não pode prosperar.
b) Insulta-se o passado, porque as gerações anteriores trabalharam pelo nosso acesso à educação, pela nossa segurança, pelos nossos direitos laborais e pela nossa liberdade. Desperdiçam-se décadas de esforço, investimento e dedicação.
c) Hipoteca-se o futuro, que se vislumbra sem educação de qualidade para todos e sem reformas justas para aqueles que trabalham toda a vida. Desperdiçam-se os recursos e competências que poderiam levar o país ao sucesso económico.
Somos a geração com o maior nível de formação na história do país. Por isso, não nos deixamos abater pelo cansaço, nem pela frustração, nem pela falta de perspectivas. Acreditamos que temos os recursos e as ferramentas para dar um futuro melhor a nós mesmos e a Portugal.
Não protestamos contra as outras gerações. Apenas não estamos, nem queremos estar à espera que os problemas se resolvam. Protestamos por uma solução e queremos ser parte dela.
Mas se o dia 9 de novembro excita a brava chanceler alemã em sua peregrinação conservadora, eis que evocativo da data em que se iniciou a derrubada do Muro de Berlim, em 1989, o dia de hoje, 10 , lhe é pouco propício à visita à Portugal, vez que comemorativo ao centenário de nascimento de Alvaro Cunhal, o mais consagrado líder comunista português, Secretário do PCP de 1961 a 1992.
Faça o upgrade para a versão mais recente do Flash Player e ganhe um desempenho de reprodução aprimorado. Faça upgrade agora ou obtenha mais informações.
ÁLVARO CUNHAL-Político, escritor, artista plástico, resistente e dirigente comunista: 1913-2005
Cunhal é um verdadeiro mito em Portugal e o país todo o festeja hoje. O Partido Comunista Português, especialmente, promete um ano inteiro de iniciativas (http://www.publico.pt/Política/pcp-promete-ano-cheio-de-iniciativas-para-celebrar-centenario-de-cunhal-1571824 )
Intelectual de vanguarda, romancista, cronista, pintor e , sobretudo, militante desde a juventude, Cunhal notabilizou-se pela luta contra o fascismo salazarista e se alinhou, embora com mais cuidado, com G. Marchais, PCF, Enrico Berlinger , PCI e Santiago Carrillo, PCE na revisão eurocomunista dos anos 70.
Não foi por um capricho que o seu livro O Partido com paredes de vidro — reflexão sobre o PCP como partido revolucionário da classe operária — não foi publicado em alguns países da Europa Oriental. Os dirigentes dos partidos burocratizados no poder temiam os efeitos da frontalidade com que Álvaro Cunhal abordava a temática de desvios e erros incompatíveis com a concepção leninista do partido revolucionário. Na maioria desses países as organizações comunistas, distanciadas do povo e em ruptura com os princípios do marxismo, actuavam já como caricaturas do que deve ser um partido comunista.
(Miguel Urbano Rodrigues in Álvaro Cunhal, um grande da História)
Em 1974 se colocou, com Mário Soares, líder do Partido Socialista Português, à frente da Revolução dos Cravos, de 25 de abril, sendo famoso o passeio dos dois nas ruas de Lisboa, uma semana depois da queda do regime. Cunhal foi o grande impulsionador das medidas revolucionárias que se seguiram à Revolução de Abril, até 1976. A partir daí, distanciou-se dos socialistas e os condenou veementemente pela virada à direita que viria praticamente restaurar o poder dos chamados “Donos de Portugal”, um grupo de 10 família que há cem anos domina o país. Seu livro “A Verdade e a Mentira na Revolução de Abril (A contra-revolução confessa-se)”, Ed. Avante, Lisboa, 1999 , relata com rigor este processo que resultaria na crise atual (http://resistir.info/portugal/25_nov_livro_ac.html )
A biografia de Cunhal é digna de lembrança e um fator de advertência à Chanceler Merkel, pois os portugueses são mestres da maiêutica política. Está tudo muito calmo, às vezes por décadas e aí, o circo incendeia. Dois episódios reiteram essa impressão: A defenestraçao e o 25 de abril. Enquanto isso, lembremo-nos e teçamos nossa homenagem ao grande líder :

Nenhum comentário:
Postar um comentário