- (Compilado) - Desenvolvimentismo
- "A vida do Barão de Itararé", de Cláudio Figueiredo
Eis aqui outra indicação de um livro que é um primor : " Entre sem bater -
A vida do Barão de Itararé", de Cláudio Figueiredo, da editora Casa da
Palavra, que também acaba de sair. O livro é muito gostoso de ler e o
personagem do Barão é inesquecível para quem o conheceu. O Barão foi um
personagem interessantíssimo da história do jornalismo e da vida política
brasileira. Um precursor do Pasquim nos anos 30/40/50, elegeu-se vereador
no Rio de Janeiro em uma época onde se elegiam homens como Ari Barroso,
Carlos Lacerda e o próprio Barão, e não os desclassificados de hoje...Eu
mesmo, quando tinha meus 18/19 anos, descobri o seu endereço e, de
surpreso, bati na sua porta. O Barão me recebeu afetuosamente e eu adorava
frequentar o seu apartamento na Praça São Salvador, onde me deliciava horas
a fio escutando as suas histórias da viagem que havia efetuado à China e a
teorias filosóficas que dominavam a sua mente. O Barão era um velhinho
formidável, a esta época. Criava formigas em um pequeno laboratório
doméstico e ficava desenvolvendo as suas análises sobre a organização
social das formigas em suas colônias. Daí deve vir - para horror da Beatriz
- o meu fascínio por criar formigas, projeto fracassado porque o pequeno
laboratório da NASA que comprei para tal jamais pode ser desenvolvido
porque não consegui encontrar, no Rio de Janeiro de hoje, as formigas para
começar a minha colônia doméstica. O Barão, por esta época em que o
conheci, já não batia bem da bola. Mas na sua loucura suave continuava uma
figura fascinante, que fez dele um dos personagens inesquecíveis da minha
adolescência. Ler a biografia do Barão foi, para mim, uma oportunidade
extraordinária de rememorar uma convivência que me foi muito prazerosa. Eis
aqui um livro que quem começar a folhear, não conseguirá mais largar antes
de chegar ao final da sua leitura...
LEMBRANDO O BARÃO DO ITARARÉ
Máximas e Mínimas do Barão de Itararé
. De onde menos se espera, daí é que não sai nada.
. Mais vale um galo no terreiro do que dois na testa.
. Quem empresta, adeus......
. Dize-me com quem andas e eu te direi se vou contigo.
. Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos.
. Quando pobre come frango, um dos dois está doente.
. Genro é um homem casado com uma mulher cuja mãe se mete em
tudo.
. Cleptomaníaco: ladrão rico. Gatuno: cleptomaníaco pobre.
. Quem só fala dos grandes, pequeno fica.
. Viúva rica, com um olho chora e com o outro se explica.
Um bom jornalista é um sujeito que esvazia totalmente a
cabeça para o dono do jornal encher nababescamente a barriga.
. Neurastenia é doença de gente rica. Pobre neurastênico é
malcriado.
. O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim , afinal, o
eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato.
. Os juros são o perfume do capital.
. Negociata é todo bom negócio para o qual não fomos
convidados.
. O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a
gente apresentar provas suficientes de que não precisa de
dinheiro.
. Cobra é um animal careca com ondulação permanente.
. Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades.
. Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua
ignorância.
. Há seguramente um prazer em ser louco que só os loucos
conhecem.
. É mais fácil sustentar dez filhos que um vício.
. A esperança é o pão sem manteiga dos desgraçados.
. Adolescência é a idade em que o garoto se recusa a acreditar
que um dia ficará chato como o pai.
. O advogado, segundo Brougham, é um cavalheiro que põe os
nossos bens a salvo dos nossos inimigos e os guarda para si.
. Senso de humor é o sentimento que faz você rir daquilo que o
deixaria louco de raiva se acontecesse com você.
. Mulher moderna calça as botas e bota as calças.
. A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da
imbecilidade humana.
. Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato.
. Pão, quanto mais quente, mais fresco.
. A promissória é uma questão "de...vida". O pagamento é de
morte.
. A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda.
***
QUEM FOI O "BARÃO DO ITARARÉ" E POR QUÊ ESTE PSEUDÔNIMO ?
Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly (Rio Grande, 29 de janeiro de
1895 – Rio de Janeiro, 27 de novembro de 1971), também conhecido por
Apporelly e pelo falso título de nobreza de Barão de Itararé, foi um
jornalista, escritor e pioneiro no humorismo político brasileiro.
Apparício Torelly iniciou-se no humorismo em 1908 no jornalzinho "Capim
Seco", do colégio onde estudava, satiriziando a disciplina dos padres
jesuítas de São Leopoldo.
Em 1918, durante suas férias, sofre um derrame quando andava a cavalo na
fazenda de um tio. Abandona o curso de Medicina no quarto ano e começa a
escrever, Publica sonetos e artigos em jornais e revistas, como a Revista
Kodak, "A Máscara" e "Maneca".[1] Em 1925 entra para O Globo de Irineu
Marinho. Com a morte de Irineu, Apporelly foi convidado por Mário Rodrigues
(pai de Nelson Rodrigues) a ser colaborador do jornal "A Manhã". Ainda em
1925, no mês de dezembro, Apparício Torelly estreava na primeira página com
seus sonetos de humor que, geralmente, tinham como tema um político da
época. Sua coluna humorística fez sucesso e também na primeira página, em
1926, começou a escrever a coluna "A Manhã tem mais…". Neste mesmo ano
criou o semanário que viria a se tornar o maior e mais popular jornal de
humor da história do Brasil. Bem ao seu estilo de paródias, o novo jornal
da capital federal tinha o nome de "A Manha", e usava a mesma tipologia do
jornal em que Apparício trabalhava, sem o til, fazendo toda diferença que
era reforçada com a frase ladeando o título: "Quem não chora, não mama".
Para estréia tão libertadora, Apporelly não perdeu a data de 13 de maio de
1926. Em 2006, portanto, comemoram-se 80 anos de fundação de "A Manha".
O personagem Barão de Itararé nasceu nas páginas de "A Manhã" em 1930.
Durante a revolução, a batalha de Itararé foi vastamente propagada pela
imprensa. Apporelly não ficou de fora desta tendência. Esta batalha
ocorreria entre as tropas fiéis a Washington Luís e as da Aliança Liberal
que, sob o comando de Getúlio Vargas, vinham do Rio Grande do Sul em
direção ao Rio de Janeiro para tomar o poder. A cidade de Itararé fica na
divisa de São Paulo com o Paraná, mas antes que houvesse a batalha "mais
sangrenta da América do Sul", fizeram acordos. Uma junta governativa
assumia o poder no Rio de Janeiro e não aconteceu nenhum conflito. O Barão
de Itararé comentaria este fato mais tarde da seguinte maneira:
> Fizeram acordos. O Bergamini pulou em cima da prefeitura do Rio, outro
companheiro que nem revolucionário era ficou com os Correios e Telégrafos,
outros patriotas menores foram exercer o seu patriotismo a tantos por mês
em cargos de mando e desmando… e eu fiquei chupando o dedo. Foi então que
resolvi conceder a mim mesmo uma carta de nobreza. Se eu fosse esperar que
alguém me reconhecesse o mérito, não arranjava nada. Então passei a Barão
de Itararé, em homenagem à batalha que não houve.
Na verdade, em outubro de 1930, Apparício se autodeclarara Duque nas
páginas d"A Manhã":
> O Brasil é muito grande para tão poucos duques. Nós temos o quê por aqui?
O Duque Amorim, que é o duque dançarino, que dança muito bem mas não briga
e o Duque de Caxias que briga muito bem, mas não dança. E agora eu que
brigo e danço conforme a música.
Mas como ele próprio anunciara semanas depois, "como prova de modéstia,
passei a Barão."
Unido a Bastos Tigre e Juó Bananére, conseguiu exprimir o hibridismo
lingüístico com a utilização do soneto-piada, que consistia na
contraposição rápida de dois contextos associativos.
O Barão de Itararé nunca atuou no rádio, mas grande parte da sua produção
humorística revelou uma enorme capacidade de incorporar falas conhecidas da
população em suas criações.
Em 1985, a Editora Record publica em livro, sob o título de Máximas e
Mínimas do Barão de Itararé, uma seleção de textos de humor extraídos de A
Manhã, em coletânea organizada por Afonso Félix de Sousa e com prefácio de
Jorge Amado. No mesmo ano, Máximas e Mínimas alcançou rapidamente quatro
edições.

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