O conjunto arquitetônico da cidade tem
sido prejudicado por falta de um código de obras e edificações que mantivesse a
harmonia das novas construções com os prédios antigos, sem ferir a imagem
histórica tão cara a um povo civilizado.
As construções antigas compõem parte da
imagem coletiva associada às novas, como a história que passa de geração em
geração. Para manter essa imagem, parte
de uma tradição, as novas construções precisam obedecer certos limites para não abalar o
conjunto.
E aqui faltou essa obediência e gerou
verdadeiro conflito estético, no visual amplo abrangente aos prédios e à
paisagem componente do centro da cidade, com a sua topografia de nivelamento
variado.
Estamos vendo os prédios históricos da
prefeitura, da igreja matriz, da Sociedade Musical 13 de Maio(mais antigo do
que a própria Matriz), assim como alguns outros ao longo do trecho onde se
encontra o antigo Cine Brasil, sufocados na sua visibilidade por arranha-céus e
outras construções menores, em completo desalinhamento e desnivelamento, como
se vivêssemos um processo agressivo de verticalização que descaracteriza o
espaço urbano já usado como cenário de filmes, quando tinha as características
originais.
O incentivo ao progresso dentro do bom
senso limitaria a altura dos edifícios novos de maneira a manter harmonia entre
a visão ampla do moderno entre os históricos.
A falta dessa disciplina atende somente
a interesses capitalistas ao colocar em pequena área de terreno uma quantidade
maior de unidades residenciais, ou comerciais para o mercado. Isto também fere
o esgotamento do espaço físico de toda a Praça 28 de Setembro e suas
adjacências.
O progresso de fato, bem planejado,
estimularia a construção de espigões ao longo das avenidas, onde o seu
alinhamento se dá de forma natural e em embeleza as suas laterais. Ideais para esta forma de crescimento estão as
avenidas São João Batista e Dr. Carlos Soares.
A Rua Santo Antônio também tem trechos adequados. Ainda existem os Bairros de Lourdes e São
Jorge e parte do Centenário com áreas niveladas. Nesses lugares, o espaço para circulação de
veículos favorece. Ao contrário da Praça
28 de Setembro, Ruas Voluntários da Pátria e Floriano Peixoto que já atingiram
seu limite de trafegabilidade. Aumentar
as atividades comerciais e residenciais nesses pontos fere todo princípio de
previsibilidade.
O improviso tem dominado nestas últimas
décadas. E vem trazendo danos à
população e ao meio ambiente. Pouca ou nenhuma preocupação vem considerando o
lado humano e social.
Enquanto se construiu o Bairro Mutirão para
tirar os pobres de dentro do Rio na Vila Azul, concederam-se as margens do
Chopotó e Piedade para construções de alto padrão nas imediações da Estação
Ferroviária. As enchentes não fazem
distinção de classe.
O conjunto de ações destemperadas vem
fazendo de Visconde do Rio Branco uma cidade feia, ao longo do curso do rio,
que passa bem no centro da área urbana. E, quem gosta de passar algum tempo no
jardim, o Parque Peixoto Filho, não vê mais em volta aquela imagem bonita em
volta. Os espigões aparecem como corpos estranhos no meio das construções
antigas que guardam em si muita história e recordação de pessoas, famílias
inteiras que aqui se radicaram em épocas remotas e deixavam nas fachadas a
própria imagem das gerações de hoje, mescladas aos traços dos antepassados.
Chegamos a temer, diante da
comercialização de certas religiões, que chegue um momento em que tentem
comprar a própria Igreja Matriz, para construir um condomínio de luxo de frente
para o jardim. Mas aquele prédio, cheio de beleza e arte,
está tombado pelo Patrimônio Histórico Municipal, como o Estádio da Boa Vista
Joseph Lambert, que já foi objeto da cobiça imobiliária.
A ameaça ao patrimônio paisagístico
caminha a todo vapor. A cara bonita da
cidade ganha cicatrizes. Não são rugas
do envelhecimento saudável. São marcas das agressões desmedidas.
A mistura do moderno com o antigo está sendo predatória, como
se netos extinguissem os avós, para evitar o trabalho de zelar por eles.
Ignoram a sabedoria que os velhos possam compartilhar. Na verdade, pensam que
sabem tudo além do tempo e da própria natureza. Por isto, vivem batendo com a
cabeça na parede. Tire-se do moderno a
presença do antigo e nada fica. São os contrastes que realçam valores, de uns e
de outros. Quem quer apagar o esplendor alheio, acaba na escuridão.
A
prepotência navega em águas turvas. Caminha pedantemente olhando só para o alto
e escorrega pesadamente na lama sob os seus pés.
Os contrastes desalinhados, que ferem a
sensibilidade de quem aprecia o belo e cultua os valores de uma história bem
vivida, acabam simbolizando caveiras das repugnantes aves de rapina, que, de
tanto tentar desmantelar a vida de outros seres, terminam por extinguir a elas
mesmas. Tornam-se autofágicas, quando
percebem que suas pretensas vítimas continuam vivendo livres e saudáveis,
apesar de sua maldade, agressividade e egoísmo. Os outros se encontram
vacinados contra esses predadores do bem comum.
A cidade continua sua vida, mesmo vendo
com tristeza o rio agredido, a paisagem manchada, os centros de lazer
ameaçados, as pessoas humildes corrompidas.
O Rio por si mesmo se regenera das
agressões, faz tremer a margens que o agridem, e volta ao seu curso normal. Os
olhos que querem ver a montanha na paisagem completa se levantam a um plano
superior aos obstáculos. E os centros de
lazer mudam de lugar, como as próprias águas dos rios a contornar as pedras a
caminho do mar. E as marcas das aves de
rapina viram esqueletos cadavéricos, que têm armaduras, mas não têm alma. O poder econômico corrompe também o
corruptor, que se consome com o próprio veneno.
Assim vai a cidade, com suas formas
desalinhadas, desniveladas, desarticuladas, mas viva, porque sua gente continua
amando-a, confortando-a, mesmo com sua integridade material ofendida. A imaterial continua intacta, porque esta é intocável.
A cidade é de todos, é da sua história.
Não pertence aos predadores. Tem a sua
própria natureza, o seu próprio caminho, a sua eternidade. Os predadores são limitados pelo tempo, pela
autofagia, pela insaciabilidade.
Em 1970 o Município tinha pouco mais de
25.000 habitantes. Hoje tem mais de 38.000. Daqui a alguns anos ultrapassará os
50.000. É quando começa a se libertar dos grilhões que o aprisionam. Assim
aconteceu e acontece com vários outros municípios. As amarras das oligarquias vão se perdendo
entre os dedos à medida que a população cresce.
A Internet alimenta mais cedo o sentimento de liberdade e independência
de um povo, partindo do individual para o coletivo. A interação e o convívio em
um círculo maior levam alguns a buscarem conhecimento além dos limites paroquiais, e compartilharem com os demais. E, mais cedo do que se pensa, cresce
o ímpeto de libertação, da afirmação da auto-estima e da consciência de si
mesmo. E a cidade volta a preservar o
que há de melhor, em sintonia com os avanços do progresso e da prosperidade
coletiva.
(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
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