quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Salve o Baião! 100 anos de Luiz Gonzaga



  

         Luiz Gonzaga fez uma verdadeira revolução na cultura e na música brasileira, com a introdução das histórias, sotaque e costumes  do nordestino ao seio  dos lares, bares e salões da sociedade dominante nas regiões do Sul e do Sudeste.

         Com a força da Rádio Nacional do Rio de Janeiro nos anos 40 e 50, a música brasileira urbana vivia seu esplendor, com predominância do romantismo das modinhas, canções, sambas e suas variações de mesclagem.  A voz do morro descia ao asfalto da Cidade Maravilhosa e se expandia por todo Brasil nas vozes consagradas de Francisco Alves, Orlando Silva, Carlos Galhardo, Sílvio Caldas, Nelson Gonçalves, Dalva de Oliveira, Emilinha Borba, Marlene, Isaurinha Garcia, as irmãs Linda e Dircinha Batista, Heleninha Costa e tantos e tantas outras que marcaram época.  Fundiram o samba e a canção em samba-canção que dava o estilo brasileiro ao bolero vindo dos países de língua espanhola, cantado por  Agustín Lara, compositor de mais de 200 boleros, entre eles “Solamente Una Vez”. Outros nomes vêm a seguir, como Bienvenido Granda, Lucho Gática, Gregório Barrios, Pedro Vargas, Trio Los Pachos e muitos outros. A origem desse ritmo é disputada por México e Cuba.

         Historiadores alegam que o “Bolero, ora conhecido como “dança”, ora como “contradança”, teria nascido na Inglaterra, passando pela França e chegado à Espanha, de importância inquestionável na colonização do Caribe”.  E conquistou cantores brasileiros que tiveram em Anísio Silva seu maior expoente.

         A nossa mistura de raças e culturas gerou com naturalidade essa variação de estilos e tinha na música sertaneja um formato diferente para as sociedades urbanas. Entre esse gênero, o Luar do Sertão superou todos os  estilos e dominou  as variadas classes sociais. Na poderosa Rádio Nacional, servia de característica de afirmação brasileira em cada momento de a emissora anunciar o seu prefixo.  As letras “caipiras”, eram vistas com maus olhos, ou ouvidas por maus ouvidos, no ambiente urbano.

         E  nesse meio  surge Luiz Gonzaga trazendo a sanfona, a zabumba e o triângulo com as angústias do Nordeste, marcadamente em Asa Branca, onde fala da seca e do êxodo do sertanejo que parte para qualquer lugar, nos caminhões “pau-de-arara”, em busca de vida melhor.  São Paulo é o destino maior desse povo que larga tudo para trás.  Talvez, por essa “leva”, em constantes chegadas de nordestinos, mais o grande espaço do interior daquele estado, com suas populações rurais, na época de ouro do rádio, as programações das emissoras paulistas eram recheadas de programas sertanejos.

         Embora Asa Branca tenha sido lançada como Xote, Baião foi o forte no repertório de Gonzaga.
Sua imagem ficou consagrada como Rei do Baião, e a ele é atribuída sua criação.  Apesar disto, houve crítica, na época, sobre essa autoria.   Os mesmos Quatro Ases e um Coringa, que lançaram Baião, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira,  cantaram outro baião que dizia: “Andam dizendo que o Baião é invenção/ Quem disse isto nunca foi no meu sertão/ Pra ver um cego nesse ritmo cantando/ Um violeiro no baião improvisando”.

         Houve que atribuísse ao baião a  origem no Calango.

         Luiz Gonzaga compôs muitas outras músicas que contavam histórias do seu Nordeste: “No meu pé de Serra”, A Dança da Moda, A morte do vaqueiro, A triste partida, A vida do viajante, Acauã, Adeus, Iracema; Á-bê-cê do sertão; Adeus, Pernambuco; Algodão; Amanhã eu vou; Amor da minha vida; Asa Branca; Assum Preto e uma infinidade de sucessos. Rara era uma sua música que não ganhasse o gosto popular.  Teve como parceiros, entre muitos, Zé Dantas, Nelson Barbalho, Patativa do Assaré, Hervê Cordovil, Manezinho Araújo,

         E teve também o parceiro rio-branquense Lourival Passos, irmão do Professor Sylvio Passos, no baião Tacacá.  

         O Rei do Baião gostava de fazer turnê pelo interior do país. Foi um dos  primeiros a realizar esta experiência.  A maioria dos artistas ficava entre Rio de Janeiro e São Paulo. 

         Luiz Gonzaga se apresentou várias vezes em Visconde do Rio Branco, principalmente nas festas de São João, promovidas no Engenho da Piedade pelo senhor Antônio Soares, que era seu compadre.  

         O Centenário do Rei do Baião corresponde a uma afirmação de cultura e arte genuinamente brasileiras que fazem falta nos dias de hoje, quando, lamentavelmente, vemos as programações de rádio voltadas para músicas de língua inglesa para um público que mal fala a Língua Pátria.

         Muitos dos nossos cantores gravam em inglês, como estratégia de fazerem as emissoras alienadas tocarem suas gravações e conseguirem vender os CDs.
(Pesquisas: wiquipedia)

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