O que se vê
nos municípios brasileiros, principalmente nos menores, é o domínio de grupos
de algumas famílias sobre o conjunto da população. E, quanto menor o número de habitantes, maior
é a força das oligarquias.
São uma
cultura e uma estrutura geradas nas Capitanias Hereditárias, quando os
invasores desta área denominada Brasil fizeram a Reforma Agrária ao contrário:
tomaram a terra de todos e a distribuíram para uns poucos.
O território
era maior do que a má fé dos invasores. Por isto, os donatários não tinham
conhecimento de toda a área de sua Capitania. E passou, de geração e geração, o propósito de
“ocupar e dominar”.
O resultado,
em alguns casos, são situações em que estados inteiros são dominados por uma
mesma família, como acontece no Maranhão com o clã dos Sarney, a dominar terras
e poder do Executivo, do Legislativo e até do Judiciário. Pasmem!
Mas é realidade. Essas ocupações
atualmente são denominadas grilagem. Ocupa-se,
requerem usucapião, e recebem o título de posse.
Até o tempo
do Império, o governo usava o expediente das sesmarias, miniaturas das
Capitanias Hereditárias.
Depois da
República, as ocupações de áreas sem titularidade passaram a ser distribuídas
como terras devolutas, ora cedidas pelo governo, ora ocupadas por determinado
tempo pelos grileiros e depois requeridas através do instrumento institucional da
usucapião.
Desta
maneira, muitas vezes as novas gerações de proprietários de terras não sabem a
origem de suas propriedades.
Quem tem
terra, tem dinheiro e tem poder. Nem
sempre o titular de determinados mandatos tem, de fato, autonomia para
administrar e legislar. São pessoas que
exercem cargos políticos tutelados por quem domina a economia, a propriedade, a
produção e os empregos – formais ou informais – resultantes desse conjunto de
fatores.
Assim, os
municípios, quanto menores, menos emancipados são, porque a vida de sua
população gira em torno dos interesses e caprichos de oligarquias dominantes,
com ranço que vem das dinastias das
Capitanias Hereditárias.
E
emancipação começa com elevação do nível educacional e cultural da população. E
nestes pequenos municípios a educação é precária desde os cursos básicos, a começar
pelo desestímulo aos professores, forçados exercer sua missão sem remuneração
condizente com a dignidade humana e com a nobreza do seu cargo. O desemprego programado pela conjuntura é
instrumento de desvalorização do trabalho e da submissão do trabalhador às
vontades dos que controlam as vagas do emprego. Assim, os salários são
irrisórios e impedem a massa trabalhadora de obter o necessário para a
sobrevivência, muito menos condições de estudar e adquirir conhecimentos.
Visconde do
Rio Branco se enquadra neste modelo de município desde os seus primórdios,
quando suas matas fechadas e densas serviam de pretexto para que a paróquia abrigasse o presídio. Bandeirantes e contrabandistas de ouro
chegavam por aqui e exploravam os nativos, em busca de poaia, a planta
medicinal, cujo valor era desconhecido pela gente da natureza.
A
colonização impiedosa e a exploração predatória serviram de base para a
ocupação, nos moldes da monocultura, ora do café, ora da cana de açúcar. Lavoura e engenhos eram parte das grandes
propriedades de poucos donos. E concentram o poder das oligarquias, que deixam
suas marcas até nossos dias.
Temos bom
exemplo desse domínio ao recordarmos o tempo da Ditadura Militar, quando havia
somente dois partidos políticos:> MDB e ARENA. Membros de uma mesma família presidiam um e
outro, associados a outros oligarcas que compunham o cerco de poder
caracterizado pelos notórios currais eleitorais.
Depois da
Ditadura, surgiram os 30 partidos hoje existentes, que não guardam qualquer
conteúdo programático, filosófico ou ideológico. São simples siglas que abrigam o troca-troca
à disposição de quem dá mais para a soma de tempo do horário gratuito nas
campanhas pelo rádio.
Quando
parentes ocuparem variados cargos políticos no Executivo e no Legislativo,
entendemos que faz parte da cultura maldita das Capitanias Hereditárias.
Os
municípios começam a se emancipar desse domínio oligárquico quando sua
população ultrapassa os 50 mil habitantes.
A essa altura, surgem oportunidades melhores de trabalho, certa
distribuição de renda, algumas instituições educacionais de ensino superior. Uma boa parcela dos seus habitantes adquire
mentalidade mais universalizada. E desperta
para o mal dessa concentração de poder e renda para o conjunto social.
Em alguns
desses municípios, quando chegam a esse ponto, os poderosos tentam usar o
artifício de desmembrá-lo em outros menores, com aumento da carga tributária
para a mesma população, que passa a arcar com os custos de outros tantos
componentes dos poderes executivos e
legislativo: outras máquinas, com mais vereadores, mais prefeitos e mais
funcionários públicos.
Esse
expediente costuma ocorrer também em relação a alguns estados.
Se Visconde
do Rio Branco ainda tivesse São Geraldo, Guiricema e Paula Cândido como
arraiais, talvez seu povo, em conjunto, haveria alcançado a libertação das
velhas oligarquias. O tamanho não é entrave. Pode ser libertação. Do contrário,
São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte teriam se sucumbido, como tantas outras,
com suas universidades e demais centros de cultura. Bem perto, aqui na Zona da
Mata, temos Juiz de Fora, maior do que muitas capitais brasileiras. E referência positiva de educação para o Brasil.
(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
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