Das suas origens humildes, o Presidente
do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, vai continuar a enfrentar
preconceitos disfarçados de críticas a suas decisões.
Como condenou criminosos de colarinho
branco e retirou-lhes o direito a cela especial, começa a fazer justiça com
base na Constituição Federal, segundo a qual “todos são iguais perante a lei”. Nada justifica que os portadores de Curso
Superior tenham esse privilégio. Ao contrário, pelo seu grau de conhecimento,
sabem muito mais do que os iletrados a gravidade do crime cometido e a
conveniência em evitá-los até as últimas consequências.
E os que cometem crimes no poder e pela
perpetuação do poder estão sujeitos a agravantes, pelo abuso desse mesmo poder.
Não podem se julgar acima das leis e imunes à punibilidade.
É muito bom que sua posse tenha se dado
na Semana da Consciência Negra, quando ele mesmo ressalta a desigualdade do
atendimento da Justiça à sociedade. Este fato está na história e também na
realidade. Nos 512 anos de Brasil e 123
de República, é o primeiro negro a chegar à Presidência da Suprema Corte. Da
mesma forma, é rara a presença dos afro descentes nos demais poderes da nação,
em contraste com sua participação na
metade da composição do povo brasileiro.
Somente tiveram poder de fato no movimento dos Quilombos formados pelos fugitivos
das senzalas rebeldes ao cativeiro. Suas punições, como a de Zumbi, nunca
poderão ser atribuídas a atos de justiça, nem de julgamento humano. Na verdade, foram carregadas de requintes de
crueldade e terrorismo para inibir outros cativos munidos da ânsia de
liberdade.
O processo do Mensalão esteve na
iminência de prescrever por decurso de prazo, quando brancos da corte quiseram
imputar-lhe a culpa como relator, que não tivera concluído o relatório.
Ele, em
tratamento de saúde, retornou e provou que havia deixado a documentação pronta,
em tempo hábil, e que estivera paralisada por negligência de seus pares. Retomou o processo que se tornou conhecido
como ação 470, chegando à condenação dos mensaleiros petistas.
Essa ala, ao
invés de se defender(não têm defesa sobre o fato público e notório), querem
desmerecer a figura de Joaquim Barbosa com o pretexto de que os mensaleiros
tucanos continuam impunes. Ora,
mensaleiros não há somente nos nichos tucanos e petistas. Estão espalhados em torno de todos os eixos
por onde gira o poder: desde os altos comandos da república até os átomos dos
pequenos municípios onde se disputam cargos públicos. Claro que, para apenar todos de uma vez,
teria que haver um Joaquim Barbosa na sede de cada Comarca, e espalhar sósias por
todos os recantos e núcleos dos diretórios e comissões municipais de partidos. Mesmo assim, sabemos que os mensaleiros de
vários matizes usam da lentidão institucional da Justiça para protelar ou fazer
caducar os efeitos de um ato ilícito. Têm
que ser alguns de cada vez.
Se nossos
políticos se preparassem para sua missão específica de administrar e legislar
tanto quanto se preparam para burlar a lei e usar a presunção de inocência,
teríamos o país, os estados e os municípios regidos pelas mais perfeitas
administrações, sob elenco legislativo da melhor qualidade.
Seria como
transformarmos matadores em médicos.
Joaquim
Barbosa é um vencedor. Chegou aonde
chegou por competência e notório saber, apesar de tantos preconceitos que teve de superar. E terá de continuar superando. Daqui para
frente será mais forte a pressão. Os
criminosos, habituados à impunidade por força de seus poderes extralegais,
tentarão barrar suas ações, desde a 470 até tantas mais que existem nos porões
da república.
Tentam, de
início, desqualificá-lo. Não se pode negar que até sua integridade física seja
ameaçada.
O Brasil
respira ares diferentes depois da Lei da Ficha Limpa e depois da ascensão de
Joaquim Barbosa. Há um movimento pela Reforma Política nos moldes do mesmo que
produziu a Ficha Limpa, de iniciativa popular, onde se pensa em convocação de
uma Assembléia Nacional Constituinte Exclusiva.
Parcela do povo que pensa se sente mobilizada. É uma chama acesa que vai
ter de enfrentar ventos uivantes de ranger de dentes, e de bufos da raiva
incontida pelos limites impostos a desmandos mal acostumados.
(Franklin –
viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
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