terça-feira, 27 de novembro de 2012

Os reflexos dos problemas sociais na Educação e vice-versa


     

      Muitos têm sido os comentários sobre a diferença de resultados, nas provas do ENEM, que evidenciam os melhores para alunos de famílias com níveis sociais mais elevados, e que frequentam escolas particulares.

         As escolas particulares por si só não são melhores do que as públicas. Há outros fatores a influir nas diferenças.  Os alunos dessas escolas nem sempre precisam trabalhar para sustentar os estudos e dispõem de tempo integral para realizarem suas tarefas, além do suporte cognitivo dos pais, na maioria das vezes possuidores de cursos superiores. Vão para as salas de aula sem a pressão das necessidades econômicas e podem concentrar sua preocupação no cumprimento de cada matéria aplicada. As suas escolas, como empresas competitivas, visam manter e conquistar clientela. Para isto oferecem conforto e ambiente saudável para a satisfação seus alunos fraquentadores que, por tabela, transferem para os pais a conveniência de sua permanência nesse tipo de empresa que produz a expectativa de oferecer um diploma e a provável capacitação para serem aprovados em vestibulares.

         Essas vantagens provocam a contradição de seus alunos terem maior oportunidade de ingressarem nas universidades públicas, de qualidade, quando vão se confrontar e competir com candidatos oriundos das escolas públicas dos níveis básico e médio, que, por razões inversas, encontram-se menos preparados para a competição.  O contraste faz crescer os privilégios das classes sociais mais abastadas que, na hora do “filé mignon” educacional, vê os filhos passarem para trás os despossuídos.  Estes, ao sentirem as dificuldades para alcançar maiores conhecimentos nos níveis superiores, prosseguem a enfrentar barreiras para ascensão social na busca de trabalho bem remunerado.  Os contrastes fazem aumentar o abismo entre ricos e pobres. 

         A revelação de que apenas 12% dos alunos estão em escolas particulares aproxima-se da faixa dos 10%  mais ricos da pirâmide social, que concentram quase 80% da renda nacional. Tudo são fatores causadores da crescente injustiça social.

         Os governantes dos municípios, do estado e da união ficam em débito com a população ao deixarem de dar prioridade à Educação desde os cursos básicos até o superior. Falam muito em gerar emprego, mesmo assim permitem existir filas quilométricas de desempregados.  E seus empregos pouco oferecem em salários, muito distantes do mínimo necessários para que uma família possa se educar e alcançar conhecimentos que capacitem para remuneração mais alta.

         Sem oferecer escolas públicas de qualidade, estão privilegiando as particulares para aumentar seus lucros graças aos que “fogem” das escolas do governo que pagam mal aos professores e, por isto, têm o quadro docente menos qualificado e menos motivado. Chega a parecer que os secretários e ministros da educação – com raríssimas exceções – sejam sócios de escolas particulares. E prejudiquem as públicas para favorecer a concorrência.

         Raros são os políticos que se preocupam com a educação pública. Entre estes temos de lembrar o Senador Cristóvam Buarque que apresentou projeto de Lei para que todo filho de parlamentar ou chefe de executivo somente possa se matricular em escola pública. A imprensa divulgou. Mas seus pares fizeram um sonoro e solene silêncio.

         Leonel Brizola e Darcy Ribeiro tentaram implantar os Centros Integrados de Educação Pública – CIEPs – no Rio de Janeiro.  A meta inicial era de 500 unidades.  Essas escolas eram destinadas prioritariamente às populações carentes. As crianças entravam cedo, ficavam o dia inteiro, com  várias refeições diárias, momentos de estudos, bibliotecas disponíveis, centros de lazer e apoio pedagógico complementar.  Recebiam higiene e passavam o dia em ambiente sadio e prazeroso.  As que não tivessem abrigo, ficariam como residentes. 

         Foi o bastante para as classes dominantes cerrarem campanha midiática contra as escolas e contra o governo do Estado. O primeiro mandato naquele estado foi em 1982.  Não poderia haver reeleição.   Inelegível Brizola, Moreira Franco, apoiado por todo o poder econômico e midiático tornou-se o governador pós-Brizola.  Destruiu a maioria dos CIEPs e transformou alguns em esconderijo de marginais.  Há, de fato, uma ojeriza, uma repulsa das classes dominantes contra educação pública de qualidade.  É como temor de que a população dotada de melhores conhecimentos ameaçasse a estabilidade privilegiada dessas “elites” egoístas e de pensamento medíocre.  Preferem corromper as mentes ignaras do que conviver com um grupo socialmente evoluído, dotado de auto-estima elevada e consciência de si mesmo.

         Os resultados  do ENEM refletem esta realidade. 12% de privilegiados mostram que 88% precisam de governantes voltados para o povo.  As campanhas eleitorais financiadas com capital privado são empecilho à formação de qualquer ascensão de políticos honestos. São sempre os que compram e os que se vendem para tocar o barco de mensaleiros e mensalados.

          Nesta ditadura plutocrática(governo do dinheiro) acham sempre meios de atacar Fidel  Castro, Evo Morales e Hugo Chávez, porque acabaram com o analfabetismo em seus países nos primeiros anos de governo. Ignoram de propósito que em Cuba a maioria da população tem Curso Superior. A Saúde de seu país é  superior a todos os países “em desenvolvimento”, e a alguns do Primeiro Mundo, apesar de o Arquipélago se encontrar sob bloqueio econômico há mais de 50 anos, imposto pelos Estados Unidos e seus satélites.

         Dentro de pouco tempo, teremos oportunidade da implantação de Escola de Tempo Integral em Visconde do Rio Branco. Com a inauguração do novo Fórum, aquele prédio atrás da Prefeitura ficará desocupado.  Ele tem estrutura quase completa para uma escola desse molde.  Bastam algumas adaptações. O Estádio da Boa Vista Joseph Lambert, já tombado, poderá ser utilizado durante a semana como centro de lazer para os estudantes dessa Escola.  O prédio do Fórum, com palco e auditório onde funciona o Tribunal do Júri, poderá servir de Centro Cultural para espetáculos diversos aos sábados e domingos.

         Esse aproveitamento evitará maior confluência de veículos  na congestionada Praça 28 de Setembro. E terá alcance social imensurável.

         Mais do que debater as disparidades do ENEM, precisamos delas tirar lições.

         Os 10 ou 12% mais ricos bem sucedidos nesse exame são os donos dos mandatos  nos legislativos e executivos.

Agora ascendeu à presidência da mais alta corte, o Supremo Tribunal Federal(STF), Joaquim Barbosa, de origem humilde e que teve de vencer preconceitos para sair da pobreza e da ignorância. Tem demonstrado firmeza de caráter. Poderá ser um divisor de águas no tempo e na história.  Muitos poderão mirar no seu exemplo e provocar uma Reforma Política que transforme os podres poderes em instrumentos de redenção de todo o tecido social do Brasil. Ele começou por cortar na própria carne ao punir corruptos que foram influentes na sua nomeação para o STF.  Há muito que fazer. Em cada município existem um Zé Dirceu e sua tropa. Há mensaleiros em vários partidos. Há mensaleiros novos e velhos.  Há mensaleiros que dominam municípios. Há também os que dominam estados.

         Por causa desses mensaleiros históricos é que existe o ENEM tão desigual, com 12% bem sucedidos e os demais a ver navios.

(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)

          
         

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