Muitos têm sido os comentários sobre a diferença de
resultados, nas provas do ENEM, que evidenciam os melhores para alunos de famílias
com níveis sociais mais elevados, e que frequentam escolas particulares.
As escolas particulares por si só não
são melhores do que as públicas. Há outros fatores a influir nas diferenças. Os alunos dessas escolas nem sempre precisam
trabalhar para sustentar os estudos e dispõem de tempo integral para realizarem
suas tarefas, além do suporte cognitivo dos pais, na maioria das vezes
possuidores de cursos superiores. Vão para as salas de aula sem a pressão das
necessidades econômicas e podem concentrar sua preocupação no cumprimento de cada
matéria aplicada. As suas escolas, como empresas competitivas, visam manter e
conquistar clientela. Para isto oferecem conforto e ambiente saudável para a
satisfação seus alunos fraquentadores que, por tabela, transferem para os pais
a conveniência de sua permanência nesse tipo de empresa que produz a
expectativa de oferecer um diploma e a provável capacitação para serem
aprovados em vestibulares.
Essas vantagens provocam a contradição
de seus alunos terem maior oportunidade de ingressarem nas universidades
públicas, de qualidade, quando vão se confrontar e competir com candidatos
oriundos das escolas públicas dos níveis básico e médio, que, por razões
inversas, encontram-se menos preparados para a competição. O contraste faz crescer os privilégios das
classes sociais mais abastadas que, na hora do “filé mignon” educacional, vê os
filhos passarem para trás os despossuídos.
Estes, ao sentirem as dificuldades para alcançar maiores conhecimentos
nos níveis superiores, prosseguem a enfrentar barreiras para ascensão social na
busca de trabalho bem remunerado. Os
contrastes fazem aumentar o abismo entre ricos e pobres.
A revelação de que apenas 12% dos
alunos estão em escolas particulares aproxima-se da faixa dos 10% mais ricos da pirâmide social, que concentram
quase 80% da renda nacional. Tudo são fatores causadores da crescente injustiça
social.
Os governantes dos municípios, do
estado e da união ficam em débito com a população ao deixarem de dar prioridade
à Educação desde os cursos básicos até o superior. Falam muito em gerar
emprego, mesmo assim permitem existir filas quilométricas de
desempregados. E seus empregos pouco
oferecem em salários, muito distantes do mínimo necessários para que uma
família possa se educar e alcançar conhecimentos que capacitem para remuneração
mais alta.
Sem oferecer escolas públicas de
qualidade, estão privilegiando as particulares para aumentar seus lucros graças
aos que “fogem” das escolas do governo que pagam mal aos professores e, por
isto, têm o quadro docente menos qualificado e menos motivado. Chega a parecer
que os secretários e ministros da educação – com raríssimas exceções – sejam sócios
de escolas particulares. E prejudiquem as públicas para favorecer a
concorrência.
Raros são os políticos que se preocupam
com a educação pública. Entre estes temos de lembrar o Senador Cristóvam
Buarque que apresentou projeto de Lei para que todo filho de parlamentar ou
chefe de executivo somente possa se matricular em escola pública. A imprensa
divulgou. Mas seus pares fizeram um sonoro e solene silêncio.
Leonel Brizola e Darcy Ribeiro tentaram
implantar os Centros Integrados de Educação Pública – CIEPs – no Rio de
Janeiro. A meta inicial era de 500
unidades. Essas escolas eram destinadas
prioritariamente às populações carentes. As crianças entravam cedo, ficavam o
dia inteiro, com várias refeições
diárias, momentos de estudos, bibliotecas disponíveis, centros de lazer e apoio
pedagógico complementar. Recebiam
higiene e passavam o dia em ambiente sadio e prazeroso. As que não tivessem abrigo, ficariam como
residentes.
Foi o bastante para as classes
dominantes cerrarem campanha midiática contra as escolas e contra o governo do
Estado. O primeiro mandato naquele estado foi em 1982. Não poderia haver reeleição. Inelegível
Brizola, Moreira Franco, apoiado por todo o poder econômico e midiático
tornou-se o governador pós-Brizola.
Destruiu a maioria dos CIEPs e transformou alguns em esconderijo de
marginais. Há, de fato, uma ojeriza, uma
repulsa das classes dominantes contra educação pública de qualidade. É como temor de que a população dotada de
melhores conhecimentos ameaçasse a estabilidade privilegiada dessas “elites”
egoístas e de pensamento medíocre.
Preferem corromper as mentes ignaras do que conviver com um grupo
socialmente evoluído, dotado de auto-estima elevada e consciência de si mesmo.
Os resultados do ENEM refletem esta realidade. 12% de
privilegiados mostram que 88% precisam de governantes voltados para o povo. As campanhas eleitorais financiadas com
capital privado são empecilho à formação de qualquer ascensão de políticos honestos.
São sempre os que compram e os que se vendem para tocar o barco de mensaleiros
e mensalados.
Nesta
ditadura plutocrática(governo do dinheiro) acham sempre meios de atacar
Fidel Castro, Evo Morales e Hugo Chávez,
porque acabaram com o analfabetismo em seus países nos primeiros anos de
governo. Ignoram de propósito que em Cuba a maioria da população tem Curso
Superior. A Saúde de seu país é superior
a todos os países “em desenvolvimento”, e a alguns do Primeiro Mundo, apesar de
o Arquipélago se encontrar sob bloqueio econômico há mais de 50 anos, imposto
pelos Estados Unidos e seus satélites.
Dentro de pouco tempo, teremos
oportunidade da implantação de Escola de Tempo Integral em Visconde do Rio
Branco. Com a inauguração do novo Fórum, aquele prédio atrás da Prefeitura
ficará desocupado. Ele tem estrutura
quase completa para uma escola desse molde.
Bastam algumas adaptações. O Estádio da Boa Vista Joseph Lambert, já
tombado, poderá ser utilizado durante a semana como centro de lazer para os
estudantes dessa Escola. O prédio do
Fórum, com palco e auditório onde funciona o Tribunal do Júri, poderá servir de
Centro Cultural para espetáculos diversos aos sábados e domingos.
Esse aproveitamento evitará maior
confluência de veículos na congestionada
Praça 28 de Setembro. E terá alcance social imensurável.
Mais do que debater as disparidades do
ENEM, precisamos delas tirar lições.
Os 10 ou 12%
mais ricos bem sucedidos nesse exame são os donos dos mandatos nos legislativos e executivos.
Agora ascendeu à presidência da mais alta corte, o Supremo Tribunal
Federal(STF), Joaquim Barbosa, de origem humilde e que teve de vencer
preconceitos para sair da pobreza e da ignorância. Tem demonstrado firmeza de
caráter. Poderá ser um divisor de águas no tempo e na história. Muitos poderão mirar no seu exemplo e
provocar uma Reforma Política que transforme os podres poderes em instrumentos
de redenção de todo o tecido social do Brasil. Ele começou por cortar na própria
carne ao punir corruptos que foram influentes na sua nomeação para o STF. Há muito que fazer. Em cada município existem
um Zé Dirceu e sua tropa. Há mensaleiros em vários partidos. Há mensaleiros
novos e velhos. Há mensaleiros que dominam
municípios. Há também os que dominam estados.
Por causa
desses mensaleiros históricos é que existe o ENEM tão desigual, com 12% bem
sucedidos e os demais a ver navios.
(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
Nenhum comentário:
Postar um comentário