O calor abrasador do último fim de
semana mexeu com o ânimo e trouxe desconforto
a muita gente. Animou, com
certeza, os que pensam aproveitar o feriadão de Finados para passar a temporada
a começar na próxima sexta-feira no litoral do Espírito Santo, ou Rio de
janeiro.
E esta segunda-feira veio marcada de
pancadas de chuva sem qualquer surpresa.
Quando esquenta muito a evaporação inevitavelmente forma as nuvens que
despencam para mostrar os primeiros índices pluviométricos da temporada e
elevar a umidade do ar.
Nossa Primavera, que só termina em
dezembro, antecipa os ares de Verão desde o mês de outubro.
A meteorologia vinha anunciando “pancadas
de chuva em áreas isoladas”, em uma indicação genérica abrangente à Zona da
Mata. Mas os 142 municípios desta região
variam muito de altitude, em uma topografia diversificada, com grande variedade
na densidade de sua vegetação. Há uma
forte tendência para os municípios menores terem maior percentagem de
habitantes na zona rural, o que influi para que neles o espaço urbano ainda
esteja coberto de vegetação, o que provoca certo equilíbrio entre a chuva que
cai e as cheias dos seus rios.
Visconde do Rio Branco está entre os
dez maiores municípios da Zona da Mata em número de habitantes com sua população
recenseada em 2010 de 37.942 habitantes e estimada em 38.353(+1,08%),
para 2011. Se o crescimento estimado
para 2012 for o mesmo, poderemos estar em torno de 38.767 moradores neste
Município.
Aqui a densidade demográfica cresceu
muito na Zona Urbana. Anda hoje em mais de 80% moradores na cidade e menos de
20% na roça. Em cada 10, 8 vivem no centro e nos novos bairros criados na
periferia. Em 1970 eram divididos pela
metade os 25.777 moradores da roça e da cidade.
De lá para cá, aconteceu o êxodo rural,
quando os camponeses buscaram os grandes centros do país, principalmente São
Paulo, para tentar vida melhor. Mas lá também
houve seus limites. Aconteceu a explosão demográfica. Muita gente para pouco espaço. A tecnologia
chegou com a robotização das empresas, principalmente montadoras de automóveis.
E as vagas de trabalho foram sendo ocupadas pela máquina. O desemprego cresceu em proporções
assustadoras. Muita gente nas filas
diárias a disputar uma vaga. O desespero
dos desempregados levou alguns a engordar o mundo do crime. Assaltos,
assassinatos a qualquer hora do dia ou da noite na disputa por qualquer valor
levaram muitos a procurar o caminho de volta.
Ninguém quis voltar para a roça, porque
a enxada e o arado estavam superados
pelos tratores e máquinas mais sofisticadas, aqui como lá, a ocupar o lugar da
mão de obra.
E o mercado imobiliário viu nessa migração
grande oportunidade de negócios. A Zona
Urbana cresceu desordenadamente e sem qualquer planejamento, com a abertura de
muitos bairros, sem os cuidados necessários para manter o equilíbrio ecológico.
As áreas verdes, o chão que absorvia as águas de chuva, alimentavam os lençóis
freáticos e as minas, e liberavam essas águas lentamente, com diferença de
meses para realimentar o leito dos rios nas estiagens. Essas áreas foram
bruscamente cobertas por asfalto, calçamento e construções de cimento armado.
Agora, as chuvas não mais penetram o
solo para manter a vegetação, nem mantém a umidade e liga da terra. Muitas
minas secam. Fica difícil abrir um poço
artesiano. As águas pluviais batem na
pedra e tomam caminho direto e imediato para os rios. Tronam-se fluviais em
curto espaço de tempo e de trajetória.
Por isto que, a cada ano, quando chega
outubro e o ano se aproxima do fim, cresce o temor das enchentes. O calor aumenta até começar o outro ano.
Qualquer tromba d’água nas nascentes, ou período de chuvas fortes por dias seguidos
ameaça o transbordamento dos rios Chopotó e Piedade.
O Município passou por uma série de
erros administrativos nos últimos 20/30 anos, como se de nada servissem os
ministérios das Cidades e do Meio
ambiente. Obras públicas e particulares
foram realizadas dentro dos rios e geraram uma quantidade alarmante de áreas de
risco. A Avenida Beira-Rio ocupou as
margens do Chopotó no seu exato espaço onde deveriam existir as matas ciliares
que o protegeriam do assoreamento, em uma diferença de nível pequena para o
fundo onde passa o curso de água em período de estiagem. Não bastassem as enchentes desde 1932 para
mostrar a temeridade daquelas obras expostas à suscetibilidade das águas que
tudo arrastam nas cheias, quando o seu leito se encontra obstruído, invadido,
comprimido, violentado. Estendeu-se
aquela avenida seccionada: um trecho desde a Ponte do Carrapicho até a Ponte da
Água Limpa; outro, desde a Ponte da antiga Cooperativa(Rua Diogo Braga), até a
Ponte Branca(Rua Oscar Salermo-Barreiro).
No primeiro segmento, ela tem paralela, do outro lado do rio, a Rua Dr.
Altino Peluso(Caminho da Vovó); no
segundo, tem a Rua José Lopes.
A Rua Dr. Altino Peluso é antiga e se servia como um atalho entre o Carrapicho e a Água Limpa. Já a Rua José Lopes veio a ser criada em conseqüência
da abertura da Beira Rio. E às margens
dessas ruas e avenida surgiram, como é natural, prédios residenciais e
atividades comerciais. Tudo isto sem observância da capacidade cúbica do curso
dos rios, que poriam todos em risco na
certeza das enchentes. Os alvarás de
construção nesses locais, e dentro do Chopotó e do Piedade tornaram-se aberta
exposição de vidas ao perigo, além de prejuízos materiais pelo furor das águas
transbordantes.
Por essas razões, a população, principalmente ribeirinha, se
enche de apreensões quando o ano chega ao fim.
Antes do crescimento urbano, as cheias aconteciam em largo espaço de
tempo: 1932, 1959... Depois do
crescimento: 2006, 2008, 25 de novembro de 2010 e 02 de janeiro de 2012.
Vai se
fechando o espaço entre uma e outra. A chuva de hoje, pela quantidade e pelo
tempo de duração parecia anunciar a chegada de sua época. Tomara que não!
Mas, por via
das dúvidas e precaução, as autoridades devem mobilizar a defesa civil em
alerta, realizar treinamentos,
simulações. Não mais se justifica alegar
que o temporal e as enchentes pegaram todos de surpresa. Será surpresa se não acontecer.
A esta
altura, a unidade do Corpo de Bombeiros sediada em Ubá, deverá estar preparada,
com um maior contingente. Todos sabem da
vulnerabilidade de Visconde do Rio Branco e Guidoval, além de outros municípios
rio abaixo. É provável que Cataguases e
Muriaé tenham suas próprias unidades.
Há
obras e obras. As pontes do Carrapicho e
da Água Limpa eram de pranchões barulhentos. Entre 1954 e 1958 o prefeito Jorge
Carone Filho as construiu de cimento armado.
Hoje, mais de meio século depois, estão lá com suas estruturas
inabaláveis, apesar de todas essas enchentes que aconteceram. Já a Avenida Beira-Rio, construída depois de
1992, desmorona-se a cada enchente. A sua reparação e conservação toma quase
todo o tempo entre uma enchente e outra, com interdições temporárias,
principalmente no trecho entre as duas pontes citadas. Os custos de seus concertos e manutenção
ficam muito elevados, fazem falta para outras obras e manutenção de outras
pistas. Aquele pequeno trecho tem tido
pouco aproveitamento. Seu custo/benefício
é muito desequilibrado.
(Franklin Netto – Franklin_netto@gmail.com)
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