Assim como
acontecia com o ex-presidente Lula, os 62% de aprovação popular ao governo
Dilma nada tem a ver com o resultado alcançado com seu partido nas eleições,
principalmente nas capitais.
O campeão de
eleição para prefeito nas cidades onde ficam os palácios dos governadores foi o
PSB, que nada o identifica com o cordão umbilical do Planalto.
Não se pode
dizer que esse minúsculo partido tenha identificação ideológica, porque sua
atuação tem sido fisiológica, quando participa de qualquer administração que
lhe ofereça cargos. Tem, na sua fundação a figura histórica de Miguel Arrais,
como o PDT tem a de Brizola. Ambas as agremiações saíram dos trilhos programáticos
tão logo esses dois expoentes da esquerda brasileira baixaram ao túmulo.
O PSB
conquistou cinco capitais: Porto
Velho(RO), Cuiabá(MT), Belo Horizonte(MG), Fortaleza(CE) e Recife(PE). Dessas,
Belo Horizonte tem maior relevo no cenário nacional, por sediar o governo de
Minas Gerais, terceiro maior colégio eleitoral do país.
PSDB E PT,
duas faces da mesma moeda, empataram em número de capitais conquistadas: quatro
cada um. Esses dois partidos, até no
lamentável episódio do Mensalão, pareciam irmãos xipófagos, unidos pelo laço
comum do valeioduto. E, no seu modo comum de privatizações e medidas anti-trabalhistas,
tiveram assim as quatro capitais:
- PSDB 4 –
Manaus(AM), Belém(PA), Teresina(SE) e Maceió(AL). Nenhuma delas com expressão politizada.
- PT 4 – São
Paulo(SP), Goiânia(GO), Rio Branco(AC) e João Pessoa(PB).
Em termos, a capital paulista tem a
importância do Estado como maior colégio eleitoral do Brasil. Mas há particularidades: o eleitorado
paulistano tem sido sempre conservador e pouco afeito ao petistmo. Fernando Haddad quase não vai ao segundo
turno. A volatilidade de Celso Russomano
foi o que deu espaço para o candidato de Lula prosseguir na disputa. O eleitorado dessa capital deveria estar
cansado das peripécias de Serra, desde que ele deixou o mandato da prefeitura
na metade, com ambições ao governo do Estado.
E certamente repetiria a esperteza agora, se fosse eleito. Daí que, desta vez, sobrou para o PT no seu
berço, que sempre lhe é hostil. Haja
vista que Lula, na sua primeira tentativa a um salto maior, quando era
deputado, ficou em quarto lugar na disputa do governo do Estado de Ademar de
Barros e Jânio Quadros.
Fora São
Paulo, Goiânia(GO), Rio Branco(AC) e
João Pessoa(PB) têm o mesmo grau de politização de todo o Norte e Nordeste.
Esses dois partidos,
irmãos gêmeos siameses, conquistaram outras prefeituras em vários municípios do
interior do Brasil, sem qualquer
identificação partidária, onde haja predominado o personalismo de candidatos
sem tradição de fidelidade a qualquer legenda: pelo contrário, de um modo geral
são políticos que experimentaram várias siglas de programas
contraditórios. São aqueles espaços que
Tancredo Neves costumava chamar de “burgos podres”.
Aqui em
Visconde do Rio Branco, o PT elegeu o candidato a prefeito, sem, no entanto,
eleger nenhum vereador. Uma completa
dissociação entre eleitorado, candidatos e partido.
E assim está
o quadro em geral, resultante das barganhas para formar a coalizão de governabilidade. As mesmas siglas que se aliam ao PT, no
governo Federal, formam base de governo em torno de PSDB ou do PMDB nos estados
e nos municípios. É outra faceta do
Mensalão.
O PDT ficou
com três prefeituras: Porto Alegre(RS), Curitiba(PR) e
Natal(RN).
Se considerarmos
as duas primeiras, poderíamos especular alguma coerência histórica. Afinal, o
Rio Grande do Sul é berço do trabalhismo que teve seus ícones em Getúlio
Vargas, Alberto Pasqualini, Jango e Brizola. Não temos informação suficiente
para saber se José Fortunati, Porto Alegre,(reeleito) tem tradição trabalhista.
E o Gustavo Fruet, em Curitiba(PR), onde
o Jayme Lerner teve grande expressão,
como Prefeito e como Governador, nos bons tempos do PDT e de Brizola, hoje é
uma incógnita. Ali, na sua vizinhança, em Santa Manoel Dias faz jogo nada limpo.
Os prefeitos
eleitos pelo PDT, se estiverem em sintonia com o Manoel Costa, de Minas Geris, o Manoel Dias, de
Santa Catarina, e o Carlos Lupi, do Rio de Janeiro e presidente nacional do
partido, deles nada se pode esperar em termos de política de qualidade.
O PMDB
reelegeu prefeito do Rio(RJ) Eduardo Paes no primeiro turno. Com a eleição do
prefeito de Boa Vista(RR), fica com duas capitais.
O Rio já foi
uma cidade onde as eleições revelavam um pensamento ideológico. A influência de ter sido capital de República
– e mesmo depois da transferência para Brasília da sede do governo federal –
manteve por muito tempo o status de “capital intelectual do país”. Na Cidade Maravilhosa estavam os principais
meios de comunicação com abrangência nacional.
A história da Revolução de 30, quando Getúlio Vargas chegou à cidade e
amarrou os cavalos no obelisco no final da Avenida Rio Branco sempre foi de simbologia marcante nos assuntos da politica. E a Cinelândia, próxima ao Teatro Municipal,
era ponto de manifestações políticas que marcaram época.
E ali ficava também o busto de Getúlio
Vargas, após sua morte, onde o povo humilde comparecia em todo 24 e agosto,
para acender velas e fazer orações, graças à imagem que ficou de “pai dos
pobres”.
Os dois
governos de Brizola no Estado do Rio de Janeiro marcaram sempre o cunho
trabalhista.
Mas sofreu
intensa campanha difamatória da imprensa conservadora, sobretudo da Rede Globo,
que abalou e desnorteou as gerações mais recentes.
E o Rio perdeu aquele charme especial de
cidade cosmopolita e intelectualizada quando figuras medíocres, muitas vezes
financiadas pelo crime organizado, passaram
a ter espaço naquele cenário político.
Também com
dois prefeitos de capitais ficaram o PP – de Paulo Maluf – e o DEM, ambos
remanescentes da ARENA, o partido da Ditadura Militar, na época do
bipartidarismo. O PP tem a capital do Mato Grosso do Sul, Campo Grande, e do
Estado de Tocantins, Palmas. Enquanto o
DEM ficou com Salvador, nas mãos do
ACM-Neto para manter a nova geração da oligarquia de Antônio Carlos Magalhães
no domínio da capital da Bahia, cidade do Senhor do Bom, onde há imensa
diversidade religiosa com mistura dos rituais afros com as cerimônias
católicas. Outra capital em poder do DEM
é Aracaju(Sergipe).
Por fim, vêm
os partidos que elegeram prefeitos em uma capital:
PPS, em Vitória(ES); PSD, em Florianópolis(SC); PSOL, em Macapá(AP); e
PTC, em Teresina.
Todos podem observar que, no quadro geral, muito
pouca coisa ou nada se encontra que evidencie expectativa de algo novo, empenho
com educação, distribuição de riqueza, justiça social. Ninguém encontra mensagem na imagem dos
eleitos. São simples trocas de figuras para o exercício do poder em momento
cheio de sombras, quando o povo se empenhou pela Ficha Limpa e o Supremo Tribunal
Federal expôs as vísceras do Mensalão.
Mas o quadro
ainda não despertou o entusiasmo do povo.
Pelo contrário, a presidente do
Tribunal Superior Eleitoral, Carmem Lúcia, acha “preocupante” o índice de abstenções
passar de 19%.
Ao todo, segundo o
tribunal, 25,6 milhões de pessoas foram às urnas neste domingo. A abstenção
ficou em 19,11%, o que significa que mais de 6 milhões de eleitores deixaram de
votar.
"Relativamente, a
abstenção teve aumento. Como passou de 19%, cabe agora aos órgãos, tanto da
Justiça Eleitoral quanto especialistas, cientistas políticos, analisarem. É,
sim, preocupante qualquer aumento. Toda abstenção não é boa porque significa
que a representatividade - e quanto maior a presença é ganho - pode ser
questionada", encerrou a
Presidente.
(Franklin Netto –
viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
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