terça-feira, 30 de outubro de 2012

Pesquisas de aprovação ao governo Dilma desafina com o resultado das eleições






Assim como acontecia com o ex-presidente Lula, os 62% de aprovação popular ao governo Dilma nada tem a ver com o resultado alcançado com seu partido nas eleições, principalmente nas capitais.

O campeão de eleição para prefeito nas cidades onde ficam os palácios dos governadores foi o PSB, que nada o identifica com o cordão umbilical do Planalto.

Não se pode dizer que esse minúsculo partido tenha identificação ideológica, porque sua atuação tem sido fisiológica, quando participa de qualquer administração que lhe ofereça cargos. Tem, na sua fundação a figura histórica de Miguel Arrais, como o PDT tem a de Brizola.  Ambas as   agremiações saíram dos trilhos programáticos tão logo esses dois expoentes da esquerda brasileira baixaram ao túmulo. 

O PSB conquistou cinco capitais:  Porto Velho(RO), Cuiabá(MT), Belo Horizonte(MG), Fortaleza(CE) e Recife(PE). Dessas, Belo Horizonte tem maior relevo no cenário nacional, por sediar o governo de Minas Gerais, terceiro maior colégio eleitoral do país.

PSDB E PT, duas faces da mesma moeda, empataram em número de capitais conquistadas: quatro cada um.  Esses dois partidos, até no lamentável episódio do Mensalão,  pareciam irmãos xipófagos, unidos pelo laço comum do valeioduto. E, no seu modo comum de privatizações e medidas anti-trabalhistas, tiveram assim as quatro capitais:   

- PSDB 4 – Manaus(AM), Belém(PA), Teresina(SE) e Maceió(AL).  Nenhuma delas com expressão politizada.

- PT 4 – São Paulo(SP), Goiânia(GO), Rio Branco(AC) e João Pessoa(PB).  

Em termos, a capital paulista tem a importância do Estado como maior colégio eleitoral do Brasil.  Mas há particularidades: o eleitorado paulistano tem sido sempre conservador e pouco afeito ao petistmo.  Fernando Haddad quase não vai ao segundo turno.  A volatilidade de Celso Russomano foi o que deu espaço para o candidato de Lula prosseguir na disputa.  O eleitorado dessa capital deveria estar cansado das peripécias de Serra, desde que ele deixou o mandato da prefeitura na metade, com ambições ao governo do Estado.  E certamente repetiria a esperteza agora, se fosse eleito.  Daí que, desta vez, sobrou para o PT no seu berço, que sempre lhe é hostil.  Haja vista que Lula, na sua primeira tentativa a um salto maior, quando era deputado, ficou em quarto lugar na disputa do governo do Estado de Ademar de Barros e Jânio Quadros.

Fora São Paulo, Goiânia(GO), Rio Branco(AC)  e João Pessoa(PB) têm o mesmo grau de politização de todo o Norte e Nordeste.

Esses dois partidos, irmãos gêmeos siameses, conquistaram outras prefeituras em vários municípios do interior  do Brasil, sem qualquer identificação partidária, onde haja predominado o personalismo de candidatos sem tradição de fidelidade a qualquer legenda: pelo contrário, de um modo geral são políticos que experimentaram várias siglas de programas contraditórios.  São aqueles espaços que Tancredo Neves costumava chamar de “burgos podres”. 

Aqui em Visconde do Rio Branco, o PT elegeu o candidato a prefeito, sem, no entanto, eleger nenhum vereador.  Uma completa dissociação entre eleitorado, candidatos e partido.

E assim está o quadro em geral, resultante das barganhas para formar a coalizão de governabilidade.  As mesmas siglas que se aliam ao PT, no governo Federal, formam base de governo em torno de PSDB ou do PMDB nos estados e nos municípios.  É outra faceta do Mensalão.

O PDT ficou com três prefeituras:  Porto Alegre(RS), Curitiba(PR) e Natal(RN).

Se considerarmos as duas primeiras, poderíamos especular alguma coerência histórica. Afinal, o Rio Grande do Sul é berço do trabalhismo que teve seus ícones em Getúlio Vargas, Alberto Pasqualini, Jango e Brizola. Não temos informação suficiente para saber se José Fortunati, Porto Alegre,(reeleito) tem tradição trabalhista.  E o Gustavo Fruet, em Curitiba(PR), onde o Jayme Lerner teve  grande expressão, como Prefeito e como Governador, nos bons tempos do PDT e de Brizola, hoje é uma incógnita. Ali, na sua vizinhança, em Santa  Manoel Dias faz jogo nada limpo.  

Os prefeitos eleitos pelo PDT, se estiverem em sintonia com o Manoel  Costa, de Minas Geris, o Manoel Dias, de Santa Catarina, e o Carlos Lupi, do Rio de Janeiro e presidente nacional do partido, deles nada se pode esperar em termos de política de qualidade.

O PMDB reelegeu prefeito do Rio(RJ) Eduardo Paes no primeiro turno. Com a eleição do prefeito de Boa Vista(RR), fica com duas capitais.

O Rio já foi uma cidade onde as eleições revelavam um pensamento ideológico.  A influência de ter sido capital de República – e mesmo depois da transferência para Brasília da sede do governo federal – manteve por muito tempo o status de “capital intelectual do país”.  Na Cidade Maravilhosa estavam os principais meios de comunicação com abrangência nacional.  A história da Revolução de 30, quando Getúlio Vargas chegou à cidade e amarrou os cavalos no obelisco no final da Avenida Rio Branco sempre foi de simbologia marcante nos assuntos da politica.  E a Cinelândia, próxima ao Teatro Municipal, era ponto de manifestações políticas que marcaram época.  

E ali ficava também o busto de Getúlio Vargas, após sua morte, onde o povo humilde comparecia em todo 24 e agosto, para acender velas e fazer orações, graças à imagem que ficou de “pai dos pobres”.

Os dois governos de Brizola no Estado do Rio de Janeiro marcaram sempre o cunho trabalhista.

Mas sofreu intensa campanha difamatória da imprensa conservadora, sobretudo da Rede Globo, que abalou e desnorteou as gerações mais recentes.  

E o Rio perdeu aquele charme especial de cidade cosmopolita e intelectualizada quando figuras medíocres, muitas vezes financiadas pelo crime organizado,  passaram a ter espaço naquele cenário político.

Também com dois prefeitos de capitais ficaram o PP – de Paulo Maluf – e o DEM, ambos remanescentes da ARENA, o partido da Ditadura Militar, na época do bipartidarismo. O PP tem a capital do Mato Grosso do Sul, Campo Grande, e do Estado de Tocantins, Palmas.  Enquanto o DEM ficou com Salvador,  nas mãos do ACM-Neto para manter a nova geração da oligarquia de Antônio Carlos Magalhães no domínio da capital da Bahia, cidade do Senhor do Bom, onde há imensa diversidade religiosa com mistura dos rituais afros com as cerimônias católicas.  Outra capital em poder do DEM é Aracaju(Sergipe).

Por fim, vêm os partidos que elegeram prefeitos em uma  capital:  PPS, em Vitória(ES); PSD, em Florianópolis(SC); PSOL, em Macapá(AP); e PTC, em Teresina.

Todos  podem observar que, no quadro geral, muito pouca coisa ou nada se encontra que evidencie expectativa de algo novo, empenho com educação, distribuição de riqueza, justiça social.  Ninguém encontra mensagem na imagem dos eleitos. São simples trocas de figuras para o exercício do poder em momento cheio de sombras, quando o povo se empenhou pela Ficha Limpa e o Supremo Tribunal Federal expôs as vísceras do Mensalão.

Mas o quadro ainda não despertou o entusiasmo do povo.   Pelo contrário, a presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Carmem Lúcia,  acha “preocupante” o índice de abstenções passar de 19%.

Ao todo, segundo o tribunal, 25,6 milhões de pessoas foram às urnas neste domingo. A abstenção ficou em 19,11%, o que significa que mais de 6 milhões de eleitores deixaram de votar.
"Relativamente, a abstenção teve aumento. Como passou de 19%, cabe agora aos órgãos, tanto da Justiça Eleitoral quanto especialistas, cientistas políticos, analisarem. É, sim, preocupante qualquer aumento. Toda abstenção não é boa porque significa que a representatividade - e quanto maior a presença é ganho - pode ser questionada", encerrou a Presidente.

(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)

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