O povo escolheu vereadores e prefeitos em municípios com menos de 200
mil eleitores. No segundo turno os eleitores voltarão a escolher nas cidades
maiores onde nenhum candidato a prefeito conquistou mais de 50 por cento dos
votos.
Daqui a dois
anos, haverá escolha para deputados estaduais, federais, um terço de senadores,
governadores de estado e presidente da República.
A um
desconforto da população com a classe política, que levou alguns municípios do
Brasil a uma abstenção de quase 20%, em uma situação em que o voto é
obrigatório.
Curiosamente,
em Visconde do Rio Branco a abstenção foi de 12,21%, mesmo assim superior à da
última eleição municipal de 10,6% em 2008.
Outro fato
curioso é que sempre os votos nulos e brancos para vereadores são superiores
aos de prefeito. Desta vez, não. Para prefeito tivemos 426 votos
brancos(1,67%) e 871 nulos(3,41%), que somaram o percentual de 5,08%, enquanto
para vereadores foram 682 brancos(2,67%) e 449 nulos(1,76%), no percentual
total de 4,43%.
Trocando em
miúdos, 426 eleitores votaram em branco para prefeito, e 682 para vereadores.
Mas os nulos para prefeito foram 871 e para vereadores 449. Total de nulos e brancos para prefeito:
1.297; nulos e brancos para vereadores: 1.131.
Alguma coisa
leva o eleitor a se engajar mais na eleição para vereador.
Chama-nos a atenção a reforma de 2/3 da
Câmara. Duas desistência podem ter sido por falta de confiança na reeleição. De
qualquer forma, o povo mostrou insatisfação com a legislatura que finda este
ano. Os gastos exagerados, comparados
com as câmaras de Ubá e de Juiz de Fora certamente contribuíram para esta
exclusão.
Dos
vereadores reeleitos, vale destacar o Amigo Xereba, o mais votado, por sua atuação
independente, e que tomava sempre as posições de interesse popular, viesse de
onde viesse a reivindicação ou autoria do projeto. Mostrou trabalho e tem trânsito livre em todos
os segmentos sociais. As renovações vêm
de manifestações populares espontâneas desde eleições passadas, ora pelo desejo
de mudança, ora por insatisfação como a que referimos acima.
O menor
número de votos brancos para prefeito é normal.
O eleitor se identifica mais com o candidato a cargo executivo. Mas o maior número de nulos para prefeito
surpreende. É mais fácil votar em dois algarismos do que em cinco.
Notamos que
a população rio-branquense é engajada politicamente, com o número de abstenções
abaixo de tantos outros municípios do Brasil. Dessa abstenção devem participar os maiores de
70 anos e os menores de 18 – para quem o voto é facultativo -, mais os que se
encontravam fora da cidade, ou incapacitados por qualquer motivo.
Com eleições
de dois em dois anos, notamos esse engajamento, porque sempre o ano de véspera
é cheio de movimentação e negociações pelos caciques, principalmente depois que
o prazo de filiação para concorrer passou a ser de um ano. E o movimento dos caciques contagia seus
seguidores.
Então, na
verdade, se pensarmos em calmaria eleitoral, ou eleitoreira, sobra apenas um
ano em cada intervalo.
Há,
entretanto, outros fatos que parecem estar levantando a motivação do povo para
a política, e isto é positivo. As
punições a alguns dos expoentes do Mensalão pelo Supremo Tribunal Federal, com
forte cobertura da mídia, vêm despertando o ânimo para as contendas
eleitorais. Mesmo que notórias figuras
de imagem negativa continuem a presidir e compor o Congresso e outras instâncias
de poder. A aprovação da Lei da Ficha
Limpa, de iniciativa e por pressão popular, também faz acreditar que algo de
novo está acontecendo para melhor no país.
É claro que falta muita coisa: acabar com o financiamento privado de
campanha e estabelecer o exclusivamente público. Há proposta nesse sentido, mas
esse Congresso presidido por Sarney recusa. Poderá vir a ser mais uma medida que
dependa de mobilizar a população para fazer um projeto com 5% do eleitorado.
Esta proposta está contida no projeto da Reforma Política, que busca aprovação
para convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte Exclusiva, com o fim de
elaborar uma Nova Constituição. A de 1988 tem alguns pontos positivos, mas é
cheia de casuísmo e fisiologismo, como a prerrogativa de os parlamentares
estabelecerem seus próprios vencimentos.
A
mobilização popular constante é uma tendência forte que já parece estar
acontecendo. O povo desperta para a necessidade de fiscalizar os poderes
executivo e legislativo nos municípios, como vemos em Visconde do Rio Branco. Há
consciência latente de que é direito do cidadão vigiar os seus representantes,
na aplicação do dinheiro público, na apresentação de projetos, no fluxo de
caixa. O povo pensa em agir
coletivamente e requerer documentos públicos que comprovem as despesas e
receitas, e saber onde foram aplicadas e de onde vêm.
Há um
cansaço do mesmismo e do modo de alguns usarem o bem público como se fosse sua
propriedade particular.
E este
procedimento no município faz compreender que o mesmo acontece na esfera do
Estado e da União. Uma Câmara de
Vereadores é miniatura de uma Assembléia Legislativa(estadual) e do Congresso
Nacional, cada um com suas mazelas e filigranas. Os bastidores de uns e de outros são espaços
de negociatas nocivas à população e que degradam o exercício da atividade
política, sem a qual nenhuma sociedade existe. Por isto é necessário o
engajamento de todos e lutar para que o analfabeto político venha a ser uma
expressão fora de moda.
No
concernente especialmente às câmaras municipais, a mácula das sessões, ou
reuniões secretas tem de acabar, para evitar que o público que compareça ao
plenário veja apenas o teatro de decisões tomadas por trás dos biombos onde
cada um esconde suas vergonhas.
Os
representantes do povo têm que discutir, defender ou recusar projetos à vista
de todos. O mesmo vale para as Assembleias Legislativas e o Congresso
Nacional. Voto secreto é somente para o
eleitor que precisa de segurança para fazer sua escolha, sem pressão e sem
coação. Mesmo assim está sujeito à
vigilância daqueles que o intimidam ou corrompem, ao anotar o número do seu
título e a seção onde vota.
Já existe a
insegurança da urna eletrônica que não oferece o comprovante físico do
voto. Tudo mostra que nossa democracia
ainda tem muito a aprimorar. O constante
exercício da política, o engajamento dia a dia da população é que podem fazer o
processo avançar.
(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
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