sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A renda por habitante do país dá para o trabalhador receber quatro vezes mais



                   

         Vamos começar por Visconde do Rio Branco, uma cidade em torno de 40.000  habitantes. A renda por pessoa, neste município era de R$ 13.390,47 em 2009. Isto dá uma renda mensal individual de R$ 1.115,87.  O método de cálculo do DIEESE considera uma família-base composta de 04 membros, dois adultos e duas crianças.  Renda por pessoa é o resultado da divisão do Produto Interno Bruto-PIB- pelo número de habitantes. Isto mostra que até a compra do leite e da frauda de um bebê contribui para a soma das riquezas de um município, do estado, ou do país.

         Neste caso, uma família local contribui com quatro vezes essa renda: R$ 4.463,48.  O Salário Mínimo Necessário para essa família, calculado pelo DIEESE para o mês de setembro/2012, deveria ter sido de R$ 2.616,41.  E este é um direito constitucional desrespeitado pelas classes dirigentes, pelos serviços da equipe econômica do governo. Vejam que só neste município sobrariam R$ 1.847,07 para a máquina governamental.  A família estaria pagando um imposto de 41,38% de impostos ao município, ao estado e à União.  Já seria uma contribuição muito alta, se considerar que a Inconfidência Mineira estourou por causa dos 20% da renda dos cidadãos do reino, no fim do século XVIII.  Era 1/5 da renda, amaldiçoado como ‘os quintos dos infernos!’.

         Se sairmos da esfera do município e entrarmos no domínio da União, o descalabro cresce.

        A estimativa do Brasil era de R$19.706 de renda per capita em 2011. O normal é que em 2012 seja maior. Mesmo assim, vamos ver a quanto corresponde essa renda mensal:> dá R$ 1.642,16 por habitante, logo: 6.568,64 por família.  Se tirarmos desse total a sustentação de uma família com o mínimo necessário de R$ 2.616,41, sobram R$ 2.952,23 para o governo, que dá 60,16% para a máquina política!

        Mas os governantes não dão nem aquele mínimo para as famílias e poderiam dar até mais. Ao contrário, tiram mais de ¾ do mínimo e destinam somente R$ 622,00, uma miséria! São 23,77% do mínimo necessário!  A família do trabalhador sofre um confisco de 76,23% das suas necessidades e direitos constitucionais. É uma medida compulsória, arbitrária, injusta e de lesa-humanidade, porque afeta o acesso à moradia, alimentação, vestuário, educação, higiene, lazer... que chega ao ponto de desestruturar a convivência e os valores familiares pela carência inevitável de tudo aquilo que poderia contribuir para o bem-estar, a harmonia e a felicidade de um grupo consanguíneo.

        Nem um Eike Batista paga imposto dessas proporções!

        Por que então os trabalhadores que estão na parte mais baixa da pirâmide social sofrem tamanho sacrifício?

        As riquezas naturais do país e a geração das outras riquezas produzidas pelas mãos e pelos cérebros humanos teriam que se juntar para garantir vida de conforto, educação elevada e felicidade para o seu povo.

        A equipe econômica teria que trabalhar com ética e com honestidade para promover a justa distribuição da riqueza e da renda, e impedir que tão poucas pessoas acumulem tanto, a custa da fome e da carência generalizada das grandes massas populares que ralam nos postos de trabalho, e nas filas amargas do desemprego, com o estômago vazio, onde dez, cem, mil... disputam uma única vaga.  E essa fila, quanto maior, menos valoriza o trabalho. O modelo do liberalismo econômico cria esta cruel conjuntura, amaldiçoada de lei de mercado..., lei da oferta e procura.  Os desempregados formam o “exército de reserva” da mão de obra barata, para promover o lucro fácil dos detentores do poder econômico, acumuladores de riqueza sem limite, com a qual corrompem políticos em exercício e eleitores carentes.

          “Por trás de toda grande fortuna há um crime”. (Honoré de Balzac, em Comédia Humana).

            É isto mesmo. Não adianta criar eufemismos para aliviar consciências culpadas por ação ou omissão desta realidade. As grandes fortunas acumuladas em poucas mãos são arrancadas de multidões famintas e mutiladas em seu trabalho nobre e levadas à queda prematura da saúde e de sua vida útil.  Essas grandes fortunas arrancam a oportunidade de cérebros privilegiados terem acesso a maiores conhecimentos e se desenvolverem a favor do bem comum. Fazem proliferar a ignorância que humilha. Impedem a evolução social e a emancipação individual e coletiva, que poderia fazer um povo tornar-se altivo, feliz, consciente de si mesmo, cheio de amor próprio e de elevadíssima auto-estima, o bem maior de todo ser humano e de toda uma coletividade.   

        Somos um país com 200 milhões de habitantes, onde 49 milhões recebem até meio salário mínimo per capita, cerca de 54 milhões de brasileiros não possuem rendimento, esses são considerados pobres, esse contingente corresponde a mais da metade da população. Se considerarmos, como antes mostrado, que o salário mínimo vigente é menor do que a quarta parte do necessário, evidencia-se que os poucos criminosos donos das grandes fortunas estão usando a miséria dos 54 milhões para continuar sua mafiosa concentração de riqueza, sua fortuna indigna, sua insaciável apropriação indébita, corruptora e corrupta que manipula gente, corporações. Agridem a natureza de maneira predatória que a torna hostil ao conjunto humano que dela necessita.

        Esta ação nefasta se processa através da política, na compra venal de seus agentes e na corrupção de seus poderes.

        Consciente, ou inconscientemente, levanta-se um clamor nem tanto barulhento, mas rumoroso, de indignação que clama por Reforma, por uma Assembléia Nacional Constituinte Exclusiva, da qual não deverão participar nenhum dos que hajam contribuído para este estado de coisas.

        Se a Assembléia vier a ser autêntica conforme o momento exige, há de ser pacífica, mas revolucionária nos seus resultados e inverter a ordem(desordem) vigente e colocar essa pirâmide de cabeça para baixo.

(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)

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