|
|
|
15-Out-2012(Pesquisa)
|
Helena Singer -|Portal Aprendiz
As crianças e os
jovens encontram nas novas tecnologias os recursos necessários para o
processo de aprendizagem.
Desde que o
computador se tornou pessoal e a rede mundial, muito se fala sobre uma
revolução iminente na educação – educação entendida como sistema escolar. O
fato é que já estamos há duas décadas neste processo e o sistema de ensino
pouco se afetou. Mas este baixo impacto da revolução tecnológica no ensino
escolar não passou incólume – a cada dia, mais e mais se fala do fracasso do
sistema, do descrédito da profissão de ensinar, da indisciplina dos
estudantes. Os dois fenômenos – a revolução tecnológica e o fracasso do
sistema escolar – estão ligados: a nova geração tem uma forma de pensar,
agir, se comunicar e relacionar que não encontra ressonância no modelo
escolar.
As crianças e os
jovens encontram nas novas tecnologias os recursos necessários para o
processo de aprendizagem. Não se trata de conteúdos, mas sim de estímulo à
curiosidade, de diversão, de oportunidades para que se percebam autores, de
diálogos múltiplos, de desafios constantes, de aventura. É assim que saem da
passividade da sala de aula para o engajamento nas redes sociais.
O potencial das
tecnologias para a inovação na educação está no reconhecimento desta inversão
radical no papel do estudante, de objeto para sujeito da aprendizagem.
Quando a tecnologia entra no sistema de ensino sem isso, torna-se panaceia,
remédio para a cura de todos os males, uma forma de dourar a pílula amarga da
escola: o ambiente onde predomina a hostilidade entre estudantes e
professores, os conteúdos descontextualizados, o ensino burocratizado, o
desânimo generalizado.
A tecnologia na
educação é panaceia quando, ao invés de apostar na revolução empreendida pela
hipermídia, com sua estrutura reticular, transversal, que favorece a
exploração e a curiosidade, reproduz no mundo digital a forma enciclopédica,
com sua coletânea de verbetes e fascículos que se empilham e acumulam
mantendo a estrutura linear das notas, séries, disciplinas e aulas.
A tecnologia na
educação é panaceia quando, ao invés de promover a autoria do estudante no
processo de aprendizagem, reproduz na forma digital a estrutura das aulas
centradas no saber dos professores. Ver uma aula filmada pode ajudar o aluno
a reter conteúdos, superando a relação hostil que marca a sala de aula real e
dando-lhe a oportunidade de pausar e voltar, mas está longe de promover
efetivo aprendizado.
A tecnologia na
educação é panaceia quando, ao invés de envolver os jovens em desafios reais
como a colaboração coletiva em larga escala para uma nova descoberta ou para
a disseminação de uma nova atitude, reproduz a artificialidade da sala de
aula em games onde os riscos e as decisões a serem tomadas são todos
controlados e limitados.
A tecnologia é
inovadora na educação quando potencializa o autoaprendizado e as formas
colaborativas de produção de conhecimento. A tecnologia é pílula dourada
quando usada como ferramenta para reter conteúdos definidos externamente, ou
para reproduzir no ambiente virtual um simulacro do real, assim como se faz
em sala de aula. Nesta medida, quando reduzida a vídeos de aulas ou games de
determinados conteúdos, a tecnologia aplica-se perfeitamente adoçar os
amargos exames baseados em testes de múltipla escolha, por exemplo, tornando
menos desagradável a tarefa de estudar conteúdos que não interessam às
crianças e aos jovens. Mas, a tecnologia será inovadora quando for usada para
avaliação da aprendizagem significativa em outras bases, que favoreçam a
criatividade, o pensamento e a atitude críticos.
Em resumo, a
tecnologia é inovadora na educação quando promove a transformação nas
dimensões de tempo, espaço e relacionamento humano no ambiente educativo. Se
as tecnologias da informação são usadas dentro das quatro paredes da sala de
aula, nos horários fracionados das aulas, na abordagem especializada das
disciplinas, sob autoridade do professor e voltadas para avaliações lineares
e episódicas, então elas não aportam inovação e sim, reforço da mesma
estrutura desgastada e distante das novas gerações.
O potencial
revolucionário da tecnologia está dado. Hoje são milhões de pessoas
conectadas no mundo todo, inclusive no Brasil, e novos aplicativos estão
possibilitando cada vez mais o desenvolvimento da criação colaborativa, sob
demanda, online, digital, móvel e inteligente.
As decisões a
serem tomadas na educação devem considerar este fato e suas decorrências: as
desigualdades em termos de autoria e difusão de ideias entre os que programam
e os que não programam; a questão da validação dos conteúdos – se é um corpo
editorial ou a comunidade de usuários, o que implica a necessidade de criação
de uma massa crítica para fontes difusas; o uso da tecnologia para a promoção
em escala da educação de qualidade. Estas são as questões decorrentes dos
aspectos realmente inovadores das tecnologias na educação
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário