quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Os visitantes e a cidade


                        

         Os rio-branquenses ausentes e demais amigos de Visconde do Rio Branco que estiverem visitando o Município durante este período de festas vão encontrar um cenário diferente, tanto mais acentuado quanto for o tempo passado fora.
Serviu de cenário para O Menino e o Vento.Imagem: Luiz Orlando de Oliveira



         As transformações variam algumas para melhor, outras para pior, a depender da expectativa existente nas lembranças dos tempos passados.  Pessoas marcantes da nossa história e que o tempo levou fazem parte da lei natural da existência humana. Em todo grupo familiar, os filhos vão substituindo os avós, os netos substituem os pais... até que um dia chegam os bisnetos e dão seguimento à sucessão de gerações.

         Quem vem espera encontrar poucas pessoas que compunham o cenário humano do seu tempo de infância e da juventude.  Mas tem o desejo de contemplar o esplendor que tem seu ponto alto na Praça 28 de Setembro, um dia considerada uma das mais belas do Estado de Minas Gerais.  Era contornada por belos prédios que marcavam o estilo neoclássico, a começar pela Igreja Matriz, ladeada pela Prefeitura Municipal e a sede da Sociedade Musical 13 de Maio.  Este prédio, mais antigo que o da própria Igreja, simboliza um templo sagrado de nossa história e cultura.  Já abrigou a Escola de Música liderada pelo Professor Hostílio Soares, tida pela Professora Theresinha de Almeida Pinto como “O Primeiro Conservatório de Música de Visconde do Rio Branco.”  Esse prédio abrigou, durante muito tempo o Tiro de Guerra 04-097, nos tempos de Tenente Cacilhas, e vários sargentos instrutores, subordinados à 4ª Região Militar de Juiz de Fora.  E para completar o seu destino como Escola de Música, serve atualmente de sede para a popular Banda 13 de Maio, dirigida pelo maestro Tito Viana.
Prefeitura, Matriz, 13 de Maio e Grupo Carlos Soares. Imagem: Luiz Manoel


         Os três prédios no adro da Igreja Matriz se encontram muito próximos do Grupo Escolar Dr. Carlos Soares, construído antes de ser aberta a Rua Raul Soares, o Morro da Escola Normal. O Grupo conserva sua arquitetura de origem, em harmonia com o conjunto de obras em torno da Praça. Entre o conjunto de rara beleza ainda se encontra a fachada da antigo Cinema Brasil, inaugurado em 1909, mesmo ano de inauguração do Parque Municipal Peixoto Filho, nosso atual jardim.  No mesmo lado do cinema havia uma carreira de prédios de época desde a esquina da Rua Presidente Antônio Carlos até o início da Rua Voluntários da Pátria. Entre eles estavam parte do  Hotel Braga, a histórica Casa Telles, fundada por Adriano Telles; o sobrado da família Alvim Gomes e outros que completavam o alto daquele lado da Praça.
Prédio do antigo Thelephone Publico, Grupo Carlos Soares e prédio antigo, onde foi erguido o Banco de Crédito Real de Minas Gerais. Imagem: Clara de Brito.
Casas Telles, Sobrado Alvim Gomes, Prédio anterior ao do Sylvio Benatti, Cinema e outros. Imagem: Danton Ferreira

    
         Na parte baixa destacavam-se a Farmácia Braga, o sobrado do Juquita Cachiné – Casa Primavera -, o sobrado da família Ferreira(Dr. Ulisses, Dr. Aloísio e outros), o sobrado do Sr. João de Brito -Papelaria Império -, a Padaria do Sr. Pedro, mais tarde de Acácio Mota, O Aero Clube, o Éden Clube  e o sobrado de esquina sobe o qual funcionou o Bar Flórida.
Prédios da parte baixa. Não havia ainda o Aero Clube. Imagem:  Jefferson Coelho
Papelaria Império, Padaria do Acácio, Aero Clube...Imagem: Isah Baptista





         No lado do grupo Carlos Soares havia um prédio também de época no local onde foi construída a Agência do Banco de Crédito Real de Minas Gerais, seguido pela residência de Dona Catarina Bouchardet e, na esquina com Praça Tiradentes, o sobrado de Dona Piquita, onde funcionaram a Farmácia do José Werneck e a Loteria Federal.
Grupo Carlos Soares, Prédio onde foi construído o Banco de Crédito Real, Muro frontal da casa de Dona Catarina Bouchardet, um Prédio antigo e o Sobrado de Dona Piuita.  Imagem: Clara Brito.



         A Praça era o ponto de encontro da família rio-branquense, com seus bares, os clubes Éden e Aero, o cinema e o jardim, com seus bancos de régua, mais tarde substituídos por bancos de cimento.  Na calçada que contorna o Jardim, moças passeavam por dentro, no sentido horário; e rapazes por fora, no sentido anti-horário.  Dali, nasceram flertes, namoros e casamentos, muitas vezes “sacramentados” em juras de amor entre os canteiros internos. O piso era de terra batida até fins dos anos 50, quando recebeu calçamento de pedra.  Em tempo de chuva, ninguém passeava, nem namorava naquele interior, devido à lama.

         Os prédios nesse estilo se estendiam além da Praça, pelas ruas Voluntários da Pátria, Presidente Antônio Carlos, Rua do Divino(Tabelião Orlando Costa), Coronel Geraldo e por seus alongamentos. 
Rua Voluntários da Pátria: à esquerda dois prédios neoclássicos. À direita, um na curava. Imagem: CM 23/12/2012.
Prédio neo-clássico, esquina de Presidente Antônio Carlos com Rua Major Felicíssimo  CM

O imponente Grande Hotel, esquina de Presidente Antônio Carlos com Major Felicíssimo. CM
Rua do Divino. Imagem: Jefferson Colho
Imgem: Danton Ferreira





         Muita gente tem nessas imagens uma identidade coletiva, como a cara e a alma de um povo, de uma cidade, de uma pátria resumida.  Algo sagrado que penetra no inconsciente coletivo como um sentimento de valor eterno.  Uma imagem histórica que pode conviver em harmonia com o progresso, desde que respeitados certos limites que não afrontem sua visualidade.

         Esse conjunto harmônico e harmonioso choca os visitantes, quando profanados por demolições insensatas e construções que surgem como corpos estranhos, como tumores em um organismo sadio.  Resta a quem vem matar saudade, abraçar pessoas de sua estima, e curtir o que ainda resta de uma cidade que teve uma cultura brilhante.

Casa da Mariazinha. Demolida - Rua Floriano Peixoto. Imagem: Isah Baptista

Casa do Chicre Amin. Demolida - Rua Floriano Peixoto. Imagem: Isah Baptista



Casas da Mariazinha, do Chicre Amin e do ex-prefeito Júlio Carone. Demolidas. Rua Floriano Peixoto. Imagem: Isah Baptista.
Prédios demolidos eram bens inventariados. Demolição embargada judicialmente. Imagem do que restou sob embargo.  CM

   

         Entre coisas boas e desagradáveis, há novidade também positiva. O trânsito para a Barra dos Coutos está desafogado, graças à pavimentação de todo o trecho da Estrada de Ferro entre os pontilhões da Barra e da Água Limpa, junto à Praça Correia Dias.  O Centro da cidade continua congestionado pela saturação, esgotamento do espaço em torno da Praça 28 de Setembro, e sem opções de onde se possam abrir novas vias de trânsito.  Para o lado do Trevo do Filipinho não há problema, graças à qualidade de tráfego em toda a extensão da Rua General Ozório e da Av. Dr. Carlos Soares, que funciona em sentido único desde a Esquina do Pecado até o Bairro São Jorge.
Rua Eugênio de Melo - Barra dos Coutos. CM 23/12/2012
Rua Eugênio de Melo - Trecho intermediário. CM 23/12/2012
Rua Eugênio de Melo - Cooperativa. CM 23/12/2012
Rua Eugênio de Melo, próximo à UPA e ao Pontilhão da Água Limpa. CM 23/12/2012

Praça 28 de Setembro. Congestionamento. Prédios em desarmonia arquitetônica. Imagem: Isah Baptista
Esquina do Pecado: Rua Nova e Cel. Geraldo. Imagem: Isah Baptista. 





          Falta solução para os extremos da Chácara e da Piedade, porque o trecho da Rua do Rosário – Carrapicho – até a bifurcação dos morros do Rosário e Muzungu,  é estreito para mão dupla e os estacionamentos inevitáveis.  E não existe espaço paralelo para se construir nova via para escoamento do tráfego. Do mesmo modo, as ruas Voluntários da Pátria e Santo Antônio não comportam o movimento em dois sentidos e os seus estacionamentos.  Mas para estas existe a opção de aproveitamento total do trecho da ferrovia em toda a sua largura, como aconteceu para o lado da Barra dos Coutos.  E este pode ser aproveitado até a Colônia, que aliviará a compressão da velha estrada estreita que, no passado, servia de ligação com a cidade de São Geraldo.
Rua do Rosário. Imagem: Celso Baeta
Praça Lourival Passos. À direita, Morro do Muzungu. À esquerda, Morro do Rosário. Imagem: Maura Maria Lourenço

Trecho da Rua Santo Antônio em direção à Colônia. CM




         No meio dessas considerações, estão os visitantes deste fim de ano. Às vezes atônitos, às vezes surpresos, porque houve  grande crescimento urbano. E, com ele, cresceu o número de veículos, que, em certos momentos convergem naquele mesmo centro outrora tranquilo e espaçoso e, agora, com dificuldade para estacionamento, mesmo com pagamento de vaga à guarda mirim.  

         Muitos vêem que a cidade agora é outra, com alguns aspectos melhores, e outros piores.  Mas que continua hospitaleira, já que a hospitalidade faz parte da índole de sua gente, sempre alegre e feliz por rever tantos amigos e parentes que se ausentam por razões que só a vida explica. Com a mesma alegria acolhe as pessoas de outras origens, e que, um dia, aqui vieram, gostaram e ficaram – uns, e vêm de novo outros.
Matriz, um cartão postal. Imagem: Isah Baptista.

Matriz. ?  Imagem: CM 23/12/2012

Outro cartão postal. Imagem: Isah Baptista.

E este?  Imagem: CM 23/12/2012




(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)

          

Nenhum comentário:

Postar um comentário