Os rio-branquenses ausentes e demais
amigos de Visconde do Rio Branco que estiverem visitando o Município durante
este período de festas vão encontrar um cenário diferente, tanto mais acentuado
quanto for o tempo passado fora.
Serviu de cenário para O Menino e o Vento.Imagem: Luiz Orlando de Oliveira
As transformações variam algumas para
melhor, outras para pior, a depender da expectativa existente nas lembranças
dos tempos passados. Pessoas marcantes
da nossa história e que o tempo levou fazem parte da lei natural da existência
humana. Em todo grupo familiar, os filhos vão substituindo os avós, os netos
substituem os pais... até que um dia chegam os bisnetos e dão seguimento à
sucessão de gerações.
Quem vem espera encontrar poucas
pessoas que compunham o cenário humano do seu tempo de infância e da juventude.
Mas tem o desejo de contemplar o
esplendor que tem seu ponto alto na Praça 28 de Setembro, um dia considerada
uma das mais belas do Estado de Minas Gerais.
Era contornada por belos prédios que marcavam o estilo neoclássico, a
começar pela Igreja Matriz, ladeada pela Prefeitura Municipal e a sede da
Sociedade Musical 13 de Maio. Este
prédio, mais antigo que o da própria Igreja, simboliza um templo sagrado de
nossa história e cultura. Já abrigou a
Escola de Música liderada pelo Professor Hostílio Soares, tida pela
Professora Theresinha de Almeida Pinto como “O Primeiro Conservatório de Música de
Visconde do Rio Branco.” Esse prédio
abrigou, durante muito tempo o Tiro de Guerra 04-097, nos tempos de Tenente Cacilhas,
e vários sargentos instrutores, subordinados à 4ª Região Militar de Juiz de
Fora. E para completar o seu destino
como Escola de Música, serve atualmente de sede para a popular Banda 13 de
Maio, dirigida pelo maestro Tito Viana.
Prefeitura, Matriz, 13 de Maio e Grupo Carlos Soares. Imagem: Luiz Manoel
Os três prédios no adro da Igreja Matriz
se encontram muito próximos do Grupo Escolar Dr. Carlos Soares, construído
antes de ser aberta a Rua Raul Soares, o Morro da Escola Normal. O Grupo
conserva sua arquitetura de origem, em harmonia com o conjunto de obras em
torno da Praça. Entre o conjunto de rara beleza ainda se encontra a fachada da
antigo Cinema Brasil, inaugurado em 1909, mesmo ano de inauguração do Parque Municipal
Peixoto Filho, nosso atual jardim. No
mesmo lado do cinema havia uma carreira de prédios de época desde a esquina da
Rua Presidente Antônio Carlos até o início da Rua Voluntários da Pátria. Entre
eles estavam parte do Hotel Braga, a histórica
Casa Telles, fundada por Adriano Telles; o sobrado da família Alvim Gomes e
outros que completavam o alto daquele lado da Praça.
Prédio do antigo Thelephone Publico, Grupo Carlos Soares e prédio antigo, onde foi erguido o Banco de Crédito Real de Minas Gerais. Imagem: Clara de Brito.
Casas Telles, Sobrado Alvim Gomes, Prédio anterior ao do Sylvio Benatti, Cinema e outros. Imagem: Danton Ferreira
Na parte baixa destacavam-se a Farmácia
Braga, o sobrado do Juquita Cachiné – Casa Primavera -, o sobrado da família
Ferreira(Dr. Ulisses, Dr. Aloísio e outros), o sobrado do Sr. João de Brito -Papelaria
Império -, a Padaria do Sr. Pedro, mais tarde de Acácio Mota, O Aero Clube, o
Éden Clube e o sobrado de esquina sobe o
qual funcionou o Bar Flórida.
Prédios da parte baixa. Não havia ainda o Aero Clube. Imagem: Jefferson Coelho
Papelaria Império, Padaria do Acácio, Aero Clube...Imagem: Isah Baptista
No lado do grupo Carlos Soares havia um
prédio também de época no local onde foi construída a Agência do Banco de
Crédito Real de Minas Gerais, seguido pela residência de Dona Catarina
Bouchardet e, na esquina com Praça Tiradentes, o sobrado de Dona Piquita, onde
funcionaram a Farmácia do José Werneck e a Loteria Federal.
Grupo Carlos Soares, Prédio onde foi construído o Banco de Crédito Real, Muro frontal da casa de Dona Catarina Bouchardet, um Prédio antigo e o Sobrado de Dona Piuita. Imagem: Clara Brito.
A Praça era o ponto de encontro da
família rio-branquense, com seus bares, os clubes Éden e Aero, o cinema e o
jardim, com seus bancos de régua, mais tarde substituídos por bancos de
cimento. Na calçada que contorna o
Jardim, moças passeavam por dentro, no sentido horário; e rapazes por fora, no
sentido anti-horário. Dali, nasceram
flertes, namoros e casamentos, muitas vezes “sacramentados” em juras de amor
entre os canteiros internos. O piso era de terra batida até fins dos anos 50,
quando recebeu calçamento de pedra. Em
tempo de chuva, ninguém passeava, nem namorava naquele interior, devido à lama.
Os prédios nesse estilo se estendiam
além da Praça, pelas ruas Voluntários da Pátria, Presidente Antônio Carlos, Rua
do Divino(Tabelião Orlando Costa), Coronel Geraldo e por seus
alongamentos.
Rua Voluntários da Pátria: à esquerda dois prédios neoclássicos. À direita, um na curava. Imagem: CM 23/12/2012.
Prédio neo-clássico, esquina de Presidente Antônio Carlos com Rua Major Felicíssimo CM
O imponente Grande Hotel, esquina de Presidente Antônio Carlos com Major Felicíssimo. CM
Rua do Divino. Imagem: Jefferson Colho
Imgem: Danton Ferreira
Muita gente tem nessas imagens uma
identidade coletiva, como a cara e a alma de um povo, de uma cidade, de uma
pátria resumida. Algo sagrado que
penetra no inconsciente coletivo como um sentimento de valor eterno. Uma imagem histórica que pode conviver em
harmonia com o progresso, desde que respeitados certos limites que não afrontem
sua visualidade.
Esse conjunto harmônico e harmonioso
choca os visitantes, quando profanados por demolições insensatas e construções
que surgem como corpos estranhos, como tumores em um organismo sadio. Resta a quem vem matar saudade, abraçar
pessoas de sua estima, e curtir o que ainda resta de uma cidade que teve uma
cultura brilhante.
Casa da Mariazinha. Demolida - Rua Floriano Peixoto. Imagem: Isah Baptista
Casa do Chicre Amin. Demolida - Rua Floriano Peixoto. Imagem: Isah Baptista
Casas da Mariazinha, do Chicre Amin e do ex-prefeito Júlio Carone. Demolidas. Rua Floriano Peixoto. Imagem: Isah Baptista.
Prédios demolidos eram bens inventariados. Demolição embargada judicialmente. Imagem do que restou sob embargo. CM
Entre coisas boas e desagradáveis, há
novidade também positiva. O trânsito para a Barra dos Coutos está desafogado,
graças à pavimentação de todo o trecho da Estrada de Ferro entre os pontilhões
da Barra e da Água Limpa, junto à Praça Correia Dias. O Centro da cidade continua congestionado
pela saturação, esgotamento do espaço em torno da Praça 28 de Setembro, e sem
opções de onde se possam abrir novas vias de trânsito. Para o lado do Trevo do Filipinho não há
problema, graças à qualidade de tráfego em toda a extensão da Rua General
Ozório e da Av. Dr. Carlos Soares, que funciona em sentido único desde a
Esquina do Pecado até o Bairro São Jorge.
Rua Eugênio de Melo - Barra dos Coutos. CM 23/12/2012
Rua Eugênio de Melo - Cooperativa. CM 23/12/2012
Rua Eugênio de Melo, próximo à UPA e ao Pontilhão da Água Limpa. CM 23/12/2012
Praça 28 de Setembro. Congestionamento. Prédios em desarmonia arquitetônica. Imagem: Isah Baptista
Esquina do Pecado: Rua Nova e Cel. Geraldo. Imagem: Isah Baptista.
Falta
solução para os extremos da Chácara e da Piedade, porque o trecho da Rua do
Rosário – Carrapicho – até a bifurcação dos morros do Rosário e Muzungu, é estreito para mão dupla e os
estacionamentos inevitáveis. E não
existe espaço paralelo para se construir nova via para escoamento do tráfego. Do
mesmo modo, as ruas Voluntários da Pátria e Santo Antônio não comportam o
movimento em dois sentidos e os seus estacionamentos. Mas para estas existe a opção de
aproveitamento total do trecho da ferrovia em toda a sua largura, como
aconteceu para o lado da Barra dos Coutos.
E este pode ser aproveitado até a Colônia, que aliviará a compressão da
velha estrada estreita que, no passado, servia de ligação com a cidade de São
Geraldo.
Rua do Rosário. Imagem: Celso Baeta
Praça Lourival Passos. À direita, Morro do Muzungu. À esquerda, Morro do Rosário. Imagem: Maura Maria Lourenço
Trecho da Rua Santo Antônio em direção à Colônia. CM
No meio dessas considerações, estão os
visitantes deste fim de ano. Às vezes atônitos, às vezes surpresos, porque
houve grande crescimento urbano. E, com
ele, cresceu o número de veículos, que, em certos momentos convergem naquele
mesmo centro outrora tranquilo e espaçoso e, agora, com dificuldade para
estacionamento, mesmo com pagamento de vaga à guarda mirim.
Muitos vêem que a cidade agora é outra,
com alguns aspectos melhores, e outros piores.
Mas que continua hospitaleira, já que a hospitalidade faz parte da
índole de sua gente, sempre alegre e feliz por rever tantos amigos e parentes
que se ausentam por razões que só a vida explica. Com a mesma alegria acolhe as
pessoas de outras origens, e que, um dia, aqui vieram, gostaram e ficaram –
uns, e vêm de novo outros.
Matriz, um cartão postal. Imagem: Isah Baptista.
Matriz. ? Imagem: CM 23/12/2012
Outro cartão postal. Imagem: Isah Baptista.
E este? Imagem: CM 23/12/2012
(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
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