Neste período de fim de ano, os
rio-branquenses ausentes que vêm rever parentes, e amigos e matar a saudade da
terra, mostram um perfil diferente daqueles anteriores aos anos 90 do Século
passado.
Se antes o destino era
predominantemente o Rio de Janeiro e São Paulo, os de agora procuram os sertões
desbravados do Norte e Noroeste do país. Empreendedores das atividades
agropastoris sentem no município espaço pequeno para a tarefa de plantar,
colher, criar o rebanho e ter resultados satisfatórios para sustentar a família
e garantir-lhe um futuro feliz, com educação e melhores perspectivas de vida.
O solo parece esgotado para alcançar
uma produtividade de custo/benefício favorável.
Do plantio à colheita, a sobrevivência se torna difícil, com esgotamento
rápido de víveres acaso armazenados da safra anterior. A
imprevisibilidade do tempo equilibrado de chuvas e estiagem é motivo de
incerteza sobre a fertilidade do solo. O proprietário rural tem de comprar caro
os cereais que produz entre uma safra e outra, para alimentação do grupo
familiar. E, quando colhe, a oferta é
grande no mercado atacadista que paga preços irrisórios, que não compensam a
labuta de quem plantou e colheu, quando não tenha havido o contratempo da falta
de chuvas na ocasião necessária. E a
terra, durante cerca de 100 anos, dedicou-se à cultura da cana-de-açúcar. Essa monocultura parece ter esgotado a sua
fertilidade para a produção de grãos.
Recorrer ao uso exagerado de agrotóxico
aumenta a produtividade, mas é uma arma contra o próprio agricultor, que também
vai sobreviver do seu produto. A cidade já
está convivendo com alta incidência de câncer, de certa maneira não revelada à
população. As pessoas acostumadas na
lavoura naturalmente têm uma pureza maior de propósito do que os especuladores das
cidades. Conhecedores da natureza como são, sabem do mal que podem causar, ou estão
causando contra a vontade, a um povo inteiro, onde estão incluídos seus amigos
e parentes. Sua consciência pesa.
Presumimos que, por isto, estão
procurando terras virgens, inexploradas, onde poderão usar de sua habilidade e
experiência para obterem melhores resultados no seu árduo trabalho, sem
cumplicidade com os “fabricantes de doença”, sócios dos “fabricantes de remédio”.
Em um município como Visconde do Rio
Branco, cuja população anda em torno de 38.000 habitantes praticamente todos se conhecem. E, quando observadas as árvores genealógicas,
muitos descobrem que todos guardam certo grau de parentesco. Essas aproximações geram respeito mútuo, na
convivência normal entre as pessoas de bem.
Os casos das violências no mundo do crime são aberrações sociais,
geradas pela marginalidade dos que não alcançaram uma convivência familiar
sadia para compreender os valores da harmonia humana.
Há também muitas pessoas da vida urbana
que deixaram o município por motivos vários: união conjugal com gente de outros
lugares; busca de oportunidade de estudos em níveis superiores; procura por
trabalho melhor remunerado; e a tentativa de realizar sonhos em atividades aqui
inexistentes.
Todos amamos o Município, os residentes
e os que vivem em outros lugares. Tanto
assim que em qualquer oportunidade ninguém vacila em vir à cidade, rever
pessoas e lugares, recordar o passado.
O salário médio em Visconde do Rio
Branco não passa de um mínimo e meio – esse mínimo que não cobre a quarta parte
das necessidades básicas de uma família. Os professores são mal remunerados,
como os trabalhadores que cumprem a jornada de oito horas e são obrigados a
aceitar a baixa remuneração para evitar o desemprego. É grande a fila dos que disputam uma única
vaga. Isto fica evidente quando a
prefeitura realiza concurso para preencher algumas vagas. O número de inscritos
é muito superior às vagas oferecidas.
São muitos os aprovados que continuam desempregados, porque os postos
disponíveis correspondem aproximadamente à quinta parte dos habilitados. Como os concursos, via de regra, são válidos
por apenas dois anos, quase todos perdem o dinheiro da inscrição, o esforço nos
estudos e o tempo ocupado com aquele objetivo.
O Município teria que incentivar a
criação de pequenas e médias empresas, para ocupar a mão de obra ociosa e o
talento dos empreendedores que dispõem
de poucos recursos financeiros. Deveria facilitar a abertura de firmas, sem tanta
burocracia e sem despesas; disponibilizar contadores e advogados para dar
assistência aos pretendentes tanto para empresas, quanto aos trabalhadores
autônomos. As pequenas e médias empresas
e os autônomos ocupam mais de 60% da mão de obra disponível. É mais interessante para a população a
existência de 100 ou 1.000 firmas de pequeno porte do que uma gigante. Elas, em maior número, valorizam a força do
trabalho, porque oferecem opções ao trabalhador. Uma grande, monopolizadora, domina a classe
trabalhadora e, nem sempre, respeita seu direito à saúde e a um envelhecimento
sadio. Suga-lhe a capacidade produtiva
e, depois, entrega-o à sobrevivência humilhante da Previdência Social, como
quem chupa uma laranja e joga a mamucha fora.
Por essas e outras razões, o Município perde muito de seus cérebros e de seus talentos, que vão procurar fora oportunidade de trabalhar melhor, adquirir maiores conhecimentos, prosperar na vida e garantir futuro de esperança aos descendentes.
(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
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