segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Subida de Renan abala entusiasmo pela Ficha Limpa






                  

         O povo brasileiro parece fadado às desilusões. Depois de tanta luta pela aprovação e vigência da Lei da Ficha Limpa, vê a volta de Renan Calheiros à presidência do Senado Federal, a maior instância legislativa do Pais, por isto mesmo chamada a Câmara Alta. 

         Quem vê no Município uma Câmara de Vereadores nada exemplar na sua submissão a diretrizes contrárias aos princípios da ética e da probidade administrativa, passa a ter ideia  com razão, de que todo o poder legislativo é assim mesmo. Raríssimos são os parlamentares dos municípios, das Assembleias Legislativas, da Câmara dos Deputados e do Senado que revelem conduta condizente com a nobreza do cargo.

A função de legislar determina o modo de agir de toda a população: suas liberdades, seus direitos e deveres. Embora teoricamente independentes e harmônicos entre si os três poderes, o Legislativo é que estabelece as regras para os outros dois e para toda a nação.  E, em tese, o funcionamento do parlamento simboliza o funcionamento do regime democrático.

Mas considere-se a eleição de um Renan que, sob a acusação de peculato (desvio de dinheiro público), falsidade ideológica e uso de documento falso, havia renunciado em 2007.  E agora teve o apoio de José Sarney, Fernando Collor, João Paulo Cunha, José Dirceu e os papas do PT envolvidos no escândalo do Mensalão.  

Senado e Câmara Federal formam um Congresso que tem legisladores como Paulo Maluf e tantos outros de sua estirpe. Os 56 senadores eleitores de Renan têm as mesmas qualidades dele. Assim é a maioria no Senado, na Câmara Federal, nas Assembleias Legislativas e nas Câmaras Municipais.

Esses parlamentares mantêm uma fidelidade ao que há de pior: o caciquismo criado pelo poder econômico que dá pouca bola para o respeito à opinião pública.  Parte dessa opinião pública tem sua parcela de culpa. É aquela que reelege essas figuras notoriamente corruptas, muitas vezes em troca de vantagens pessoais que se traduzem em compra de votos.  Na verdade, essa parcela não tem opinião. Atende a um fisiologismo sórdido que serve para manter o quadro desqualificado que domina a política brasileira.

Essa parcela sem opinião e sem senso critico, enquadrada-se no analfabetismo político, desconhece que paga muito caro pelo voto que vende. E não entende que paga quase a metade do que ganha e gasta somente em impostos sustentadores da massa de corruptos.

Os que lutaram pela aprovação da Lei  Ficha Limpa, em verdadeira mobilização popular que abrangeu o Brasil inteiro, sente o desengano da expectativa de limpeza na vida pública dos portadores de mau caráter. Era repugnante engolir Sarney quatro vezes na presidência da Câmara Alta.  A esperança era de que essa malta fosse acabando pelo processo natural da extinção de espécie. Mas, trocar o hacker do Maranhão por um spam das Alagoas, apenas prolonga o tempo de espera para a transformação que a sociedade sadia espera e deseja. 

O maior mal é que o uso do cachimbo põe a boca torta. Um ato desses contagia todas as instâncias do poder legislativo, onde  a aplicação da Ficha Limpa começava a fazer efeito. A desinfecção dava passos lentos. Agora sofre violento retrocesso. A democracia frágil sofre mais um golpe da plutocracia. O poder legislativo que deveria representar o povo e suas esperanças, está representando, de fato, por facções mafiosas no abuso de poder. E, se ele é o mais forte dos três, demonstra que é também o pior. Abriga falsários, mensaleiros, estelionatários e toda estirpe de gente que pode ter de tudo, principalmente muito dinheiro, menos qualidade moral para criar normas para uma nação inteira cumprir.

Que leis podemos esperar dessa gente? 

Somente aquelas que sejam o reflexo deles, dos seus atos, dos seus procedimentos, dos seus desatinos.  

Alagoas, onde nasceu e morreu lutando por amor a uma causa justa Zumbi dos Palmares, não merece ter sua história manchada por figuras macabras, imorais e danosas como Collor e Renan. 

E o povo brasileiro precisa e merece ter na presidência do Congresso Nacional alguém que seja exemplo para as demais instâncias legislativas, para os aspirantes à vida pública, como para toda a nação.     

Sempre lembramos que a vida do país está nos municípios, onde tudo acontece. Os Estados e a Federação têm a função de coordenar e organizar a vida política e administrativa, de forma a manter a unidade nacional, através das leis, da língua e da busca da harmonia. Para isto, temos que ter legisladores respeitáveis e respeitadores, qualificados para o exercício do poder com probidade, ética e moral.

Esse golpe não fez o Senado melhor, nem pior. Depois de Sarney, um Renan, pior seria o dilúvio. Mas desafia a esperança e a paciência do povo, que, felizmente, não tem pavio curto.

Parece que tudo são frutos da herança colonialista, das capitanias hereditárias, onde invasores e grileiros dominam pela força grandes porções de terra, e toda a gente que nelas vivia.  Corrompe através da miséria e da ignorância de modo a tornar fácil controlar suas mentes.

A Ficha Limpa caminha muito devagar.  Nas últimas eleições, quando ela entrou e vigor, pudemos observar isto.  Deu alguns passos, entretanto.  Agora ela sofre duro golpe.  O povo tem que respirar e começar de novo.  Caminhar é preciso.  Parar nunca!

(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)  

Nenhum comentário:

Postar um comentário