O povo brasileiro parece fadado às
desilusões. Depois de tanta luta pela aprovação e vigência da Lei da Ficha
Limpa, vê a volta de Renan Calheiros à presidência do Senado Federal, a maior
instância legislativa do Pais, por isto mesmo chamada a Câmara Alta.
Quem vê no Município uma Câmara de
Vereadores nada exemplar na sua submissão a diretrizes contrárias aos
princípios da ética e da probidade administrativa, passa a ter ideia com
razão, de que todo o poder legislativo é assim mesmo. Raríssimos são os
parlamentares dos municípios, das Assembleias Legislativas, da Câmara dos
Deputados e do Senado que revelem conduta condizente com a nobreza do cargo.
A função de legislar determina o modo de agir de toda a
população: suas liberdades, seus direitos e deveres. Embora teoricamente independentes
e harmônicos entre si os três poderes, o Legislativo é que estabelece as regras
para os outros dois e para toda a nação. E, em tese, o funcionamento do parlamento
simboliza o funcionamento do regime democrático.
Mas considere-se a eleição de um Renan que, sob a acusação de peculato (desvio de dinheiro
público), falsidade ideológica e uso de documento falso, havia renunciado em
2007. E agora teve
o apoio de José Sarney, Fernando Collor, João Paulo Cunha, José Dirceu e os
papas do PT envolvidos no escândalo do Mensalão.
Senado e Câmara Federal formam um Congresso que tem legisladores como Paulo
Maluf e tantos outros de sua estirpe. Os 56 senadores eleitores de Renan têm as
mesmas qualidades dele. Assim é a maioria no Senado, na Câmara Federal, nas Assembleias Legislativas e nas Câmaras Municipais.
Esses parlamentares mantêm uma fidelidade ao que há de pior: o caciquismo
criado pelo poder econômico que dá pouca bola para o respeito à opinião
pública. Parte dessa opinião pública tem
sua parcela de culpa. É aquela que reelege essas figuras notoriamente corruptas,
muitas vezes em troca de vantagens pessoais que se traduzem em compra de
votos. Na verdade, essa parcela não tem opinião.
Atende a um fisiologismo sórdido que serve para manter o quadro desqualificado
que domina a política brasileira.
Essa parcela sem opinião e sem senso critico, enquadrada-se no
analfabetismo político, desconhece que paga muito caro pelo voto que vende. E não
entende que paga quase a metade do que ganha e gasta somente em impostos
sustentadores da massa de corruptos.
Os que lutaram pela aprovação da Lei
Ficha Limpa, em verdadeira mobilização popular que abrangeu o Brasil
inteiro, sente o desengano da expectativa de limpeza na vida pública dos
portadores de mau caráter. Era repugnante engolir Sarney quatro vezes na
presidência da Câmara Alta. A esperança
era de que essa malta fosse acabando pelo processo natural da extinção de espécie.
Mas, trocar o hacker do Maranhão por um spam das Alagoas, apenas prolonga o
tempo de espera para a transformação que a sociedade sadia espera e deseja.
O maior mal é que o uso do cachimbo põe a boca torta. Um ato desses
contagia todas as instâncias do poder legislativo, onde a aplicação da Ficha Limpa começava a fazer
efeito. A desinfecção dava passos lentos. Agora sofre violento retrocesso. A
democracia frágil sofre mais um golpe da plutocracia. O poder legislativo que
deveria representar o povo e suas esperanças, está representando, de fato, por facções
mafiosas no abuso de poder. E, se ele é o mais forte dos três, demonstra que é
também o pior. Abriga falsários, mensaleiros, estelionatários e toda estirpe de
gente que pode ter de tudo, principalmente muito dinheiro, menos qualidade
moral para criar normas para uma nação inteira cumprir.
Que leis podemos esperar dessa
gente?
Somente aquelas que sejam o reflexo
deles, dos seus atos, dos seus procedimentos, dos seus desatinos.
Alagoas, onde nasceu e morreu lutando por amor a uma causa justa Zumbi
dos Palmares, não merece ter sua história manchada por figuras macabras,
imorais e danosas como Collor e Renan.
E o povo brasileiro precisa e merece ter na presidência do Congresso Nacional
alguém que seja exemplo para as demais instâncias legislativas, para os
aspirantes à vida pública, como para toda a nação.
Sempre lembramos que a vida do país está nos municípios, onde tudo
acontece. Os Estados e a Federação têm a função de coordenar e organizar a vida
política e administrativa, de forma a manter a unidade nacional, através das
leis, da língua e da busca da harmonia. Para isto, temos que ter legisladores
respeitáveis e respeitadores, qualificados para o exercício do poder com
probidade, ética e moral.
Esse golpe não fez o Senado melhor, nem pior. Depois de Sarney, um Renan,
pior seria o dilúvio. Mas desafia a esperança e a paciência do povo, que,
felizmente, não tem pavio curto.
Parece que tudo são frutos da herança colonialista, das capitanias
hereditárias, onde invasores e grileiros dominam pela força grandes porções de
terra, e toda a gente que nelas vivia.
Corrompe através da miséria e da ignorância de modo a tornar fácil
controlar suas mentes.
A Ficha Limpa caminha muito
devagar. Nas últimas eleições, quando
ela entrou e vigor, pudemos observar isto.
Deu alguns passos, entretanto.
Agora ela sofre duro golpe. O
povo tem que respirar e começar de novo.
Caminhar é preciso. Parar nunca!
(Franklin
Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
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