Com este terceiro mandato do prefeito
Iran, completam-se 28 anos do Executivo Municipal sob o comando dele e do Dr.
João. Uma geração nasceu e cresceu neste período, regido também pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente, instituído pela Lei 8.069 e
13 de julho de 1990, com base na Constituição Federal de 1988, mesmo ano do
primeira eleição do médico João Antônio de Souza.
A geração deste período deixou de ter
seus direitos plenos assegurados por aquele Estatuto, como educação plena, em
todos os níveis, e gozou somente o privilégio da impunidade diante dos delitos
cometidos. A escola que não pode reprovar, o professor que não pode se defender
de agressões, os pais ou tutores que têm sua autoridade limitada, deixaram como
resultado um número elevado de infratores sem deveres, sem responsabilidade,
sem formação adequada e impunes.
Quem se acostumou desse jeito até os 18
anos, dificilmente aprenderá a ser diferente a partir da maioridade. As
ramificações do Crime Organizado cresceram no Município durante este tempo. As
classes dirigentes, através de seus representantes formais no poder pouco ou
nada se preocuparam com os menores soltos nas ruas enquanto os pais trabalham
fora em busca da remuneração de parte do que uma família precisa.
Administradores públicos, quando independentes
e preocupados com a população como um todo, precisariam voltar suas atenções
para as crianças em formação desde o berço, ou melhor, desde o ventre materno,
quando começa a se formar o cérebro de um cidadão ou de uma cidadã de 20 anos
depois. Para isto, tem-se que considerar a legislação e as condições sociais,
para suprir as carências e influir na formação do caráter, já que o ECA fez o
Estado assumir o papel de pais e educadores.
O Estado, na sua dimensão, é o Município, onde tudo acontece.
A Prefeitura e a Câmara de Vereadores,
em todos os mandatos, teriam de oferecer escolas de tempo integral, para todos os menores, para sua convivência
em ambiente sadio, de aprendizagem educativa e de lazer, que os habituassem a
um comportamento saudável, de exercício da cidadania plena, com civilidade e
urbanidade no trato com todos.
Por falta desses cuidados, vemos
crescer o número de infratores jovens, que aprenderam manejar com precisão o
gatilho e a pontaria, e mal sabem falar a própria língua.
As escolas mal têm servido como um
local de passagem temporária, para cumprimento de metas formais de onde alguns
saem tão analfabetos como entraram; outros “concluem” seus cursos como
analfabetos funcionais. Tem sido mais fácil esses “estudantes” vagarem pelas
ruas do que fazerem seu dever de casa, ou estudarem para a próxima prova. Os professores não recebem a valorização de
que necessitam, para cumprir sua missão com tranquilidade e sentirem a
dignidade de sua função. Muitas vezes sofrem humilhações diante das ofensas e
agressões de alunos, sem direito à defesa.
Esse ambiente de falta de
responsabilidade de um lado, de super proteção de outro, e de falta de medidas
governamentais a partir do Município, criou o clima em que vivemos de intenso
tráfico de drogas, de assalto a casas comerciais e até a idosos em plena luz do
dia, é resultado de uma série de fatores, dos quais os governantes locais não
podem se eximir. Ao mesmo tempo, essa gama de pessoas que atinge a idade adulta
com deformação de caráter, está incapacitada e desmotivada a exercer qualquer
atividade de afirmação plena de cidadania. Pela condição a que chegaram, mal
falam, mal ouvem, mal vêem.
Naquelas condições desde a edição do
ECA, quando o Estado assumiu a educação dos jovens, já teria de haver
planejamento baseado no contexto sócio-cultural, para os governantes municipais
acompanharem o crescimento e o desenvolvimento desses jovens.
Mas planejamento foi o que menos
aconteceu neste período pós 1988.
Predominou o olho nas eleições de dois em dois anos, de costas para a
população e seus desdobramentos. Seria muito fácil entender que depois de
entrar em vigor aquele Estatuto, que tirava de pais e professores a autoridade
sobre os menores, os gestores públicos
teriam que assumir o seu papel, como representantes da sociedade e como agentes
desse Estado. As escolas de tempo integral, desde então, deixaram de ser um
sonho dos segmentos intelectualizados, para se tornarem uma necessidade
premente, tanto quanto o direito à moradia e à alimentação. A rede municipal de
ensino teria que sair na frente neste trabalho, e cobrar do Estado o
cumprimento desse dever.
O planejamento para se
chegar a esses resultados teria que levar em conta a realidade social de cada
família, ou núcleo familiar; as condições de renda e disponibilidade de tempo
de pais e tutores para zelarem pelas crianças e adolescentes; e considerar de
maneira especial e diferenciada as crianças órfãs de fato, ou abandonadas à
própria sorte.
Visconde do Rio Branco dançou ao ritmo
do Baião de Dois desde que o ECA entrou em vigor. A geração que se aproxima da
faixa etária dos 30 anos não conheceu outro prefeito além de João e Iran. Corremos o risco de chegar aos 32 anos desse
ritmo. Pelo ocorrido até agora, pouco ou nada poderemos esperar diferente do
que aí está. Eles mesmos são sucessores
das mesmas oligarquias que os produziram.
Só que antes não havia um ECA. As
escolas ensinam, reprovavam ou aprovavam, em tempo quando os núcleos familiares
eram mais estáveis. Urbanidade no trato, civilidade, bons antecedentes eram
requisitos valorizados para todo cidadão.
Pais eram incentivados a ensinar filhos a trabalharem para defender o próprio
sustento. Quando um filho chegava a casa com nota ruim, os pais queriam saber
do filho o porquê daquele fracasso, e cobravam melhor resultado a seguir. Hoje
o pai culpa o professor e alega perseguição. Professor que chama atenção do
aluno em sala de aula está sujeito a ser processado por constrangimento ao
menor.
Tudo acontece no Município. Tudo teria
que mudar no Município. Antes tarde do
que nunca. Está passando da hora de as
escolas de tempo integral serem a única forma de ensino admissível para
melhorar a médio e longo prazo a qualidade de comportamento e o saber do quadro
social destituído dos privilégios do poder econômico.
(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
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