Com 2,329 milhões de brasileiros
desempregados, Moreira Franco, Secretário de Assuntos Estratégicos, diz que “é
preciso facilitar a vinda de trabalhadores estrangeiros gabaritados, para
compensar a escassez de profissionais qualificados no Brasil”.
Se os governantes dos municípios, dos
estados e da União deixaram de fornecer escolas de qualidade para a sua
população, a culpa é dos próprios dirigentes do País. E, mais uma vez, é a classe trabalhadora quem
paga a conta.
Vem de longe, desde a Ditadura Militar,
que as crises sócio-econômicas recaem sobre os ombros daqueles que produzem
toda a riqueza da nação, com arrocho salarial, cortes nos direitos trabalhistas,
desoneração das folhas de pagamento, despedidas em massa para enxugar os gastos
das empresas, terceirização nas estatais, rotatividade da mão de obra, queda
nos valores reais das aposentadorias.
Tudo isto sem se falar nos salários
efetivamente pagos muito abaixo das necessidades reais de cada um e sua
família. A grande maioria recebe o correspondente a apenas um quarto do que a
Constituição Federal determina. Nem os
professores, de quem se exige formação superior, recebem o mínimo
constitucional.
O governo oferece escola medíocre a seus
jovens, em todos os níveis. E produz muitos analfabetos absolutos e funcionais, em nome de
cumprir estatísticas irreais para organismos internacionais. E, quem não pode pagar escola particular,
chega à idade adulta despreparado.
Na verdade, muito mais do que os mais
de dois milhões de desempregados informados oficialmente, estão os
subempregados que recebem abaixo do mínimo que a Carta Magna determina.
Esses estrangeiros “gabaritados” não
virão para receber R$ 680,00 por mês. Virão
com os privilégios negados aos trabalhadores nacionais. E estarão contribuindo
para aumentar o número de desempregados brasileiros. É um processo de repetição
da chamada “Abolição da Escravatura”. Ao
invés de remunerar os ex-escravos, os governantes imperiais preferiram abrir as
portas(ou melhor, os portos), para os trabalhadores de fora. Os
negros “libertos” foram postos da porteira para fora para mendigar. E os
estrangeiros passaram a receber a remuneração que a eles deveria ser destinada.
Agora os estrangeiros virão “gabaritados”
ocupar o lugar dos brasileiros e contribuir para a redução dos salários, e o
crescimento do desemprego. Parece que o
Brasil tem de cumprir o papel de satélite dos Estados Unidos neste momento de
crise. Vai oferecer vagas para os desempregados do Império do Norte.
Tudo isto agrava mais o quadro das
desigualdades sociais no Brasil. As classes despossuídas que não puderam pagar
escolas de qualidade para seus filhos, vão ter que se conformar em ver as
gerações seguintes continuarem distantes das oportunidades de ascensão social. Eternas
vítimas das “capitanias hereditárias”.
Os prefeitos recém-empossados precisam
tomar consciência desta realidade. Eles, de um modo geral, são membros dos
privilegiados 10% mais ricos de sua comunidade. Mas têm o dever moral de ver
sua gente sair desse quadro de miserabilidade do desemprego e do subemprego.
Têm de qualificar os cidadãos do futuro
para as tarefas do desenvolvimento da cidade e do país, como empregado ou
empregador, ou trabalhador autônomo.
Quanto maior número de capacitados para uma função e outra, menor será o
número de desempregados.
A escola tradicional está falida. Nem tirou
muitos do analfabetismo absoluto, nem evitou outros tantos de analfabetos
funcionais. Falta estrutura pedagógica, valorização dos professores, maior
tempo de permanência nos educandários, tanto dos discentes como dos
docentes. Uns para aprender mais e melhor.
Outros para se aperfeiçoar e manterem-se atualizados.
A escola de tempo integral é o único
caminho para conquistar essa evolução social. As classes dirigentes têm que
parar de ter medo de quem estuda e aprende.
Só a educação liberta a todos. Os que negam essa necessidade à maioria
também se tornam prisioneiros da violência e da marginalidade, e terão, cada
vez mais, de fazer imensas despesas na construção e manutenção de presídios. Esse
absurdo de colocar o “auxílio reclusão” maior do que o salário mínimo é
resultado de lei de iniciativa de algum legislador
integrante do Crime Organizado. Grande
insensatez!
Manter detento requer R$ 3.312 ao
mês, contra R$ 1.498 de estudante de faculdade, contra Piso salarial dos professores, de R$ 1.567 em 2013. Quando se trata de estudante de Ensino
Básico, a diferença cresce muito mais.
As classes dominantes, através de seus governantes, invertem
as coisas, e preferem gastar muito mais com a repressão, do que com a
prevenção.
Na “Abolição da Escravatura”, os negros “libertos” saíram a
pedir esmolas pacificamente. Agora, um desempregado que cai na marginalidade
acha que esmola é trabalhar oito horas diárias para, no fim do mês, receber R$
680,00. A comercialização dos “bagulhos”
rende muitas vezes mais do que isto.
A
entrada de estrangeiros “qualificados” para ocupar o lugar dos brasileiros
desempregados é mais uma demonstração da perda de soberania nacional, somada à invasão
de terras distantes da Amazônia onde outros povos têm liberdade de ir e vir,
menos os brasileiros.
O
trabalhador brasileiro começa a ser desqualificado desde a tenra infância, onde
não tem oportunidade de frequentar boas escolas, porque o estado não quer. Torna-se adulto para entrar no “exército” de
reserva da mão de obra barata à disposição da camada privilegiada dos 10% mais
ricos, que concentram três quartos da riqueza produzida. Para essa camada, a equipe econômica produz superávit
primário cada vez maior, para pagar os juros da dívida pública, cujos
investidores são os mesmos concentradores da renda e da riqueza.
(Franklin
Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
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