sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

EDUCAÇÃO - Sayonara(QUARAÍ-RS) - Analfabetos, Fracos, Pobres, Rudes e Santos.





Analfabetos, Fracos, Pobres, Rudes e Santos. 

O objetivo deste blog é propor reflexões sobre a vida (vivida ou desejada) a partir de uma valorização do óbvio (que de tão óbvio por vezes se torna invísivel) como forma de subversão (e reconstrução) de nossa visão de mundo. Todos os textos foram escritos pelo administrador do blog.

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15/09/10
Conflito e reprodução de classes

Os pais querem seus filhos convivendo com os filhos das mesmas classes sociais a que pertencem ou de classes imediatamente superiores, por uma questão de segurança, para reduzir os riscos de dilapidação do patrimônio familiar com a construção de um "conhecimento" aventureiro ou radical e para executar um projeto de ascensão social.


A escola aparece, assim, como uma instituição conservacionista, que seleciona as classes por poder aquisitivo (os que podem ou não pagar os valores cobrados para inserir seus filhos num processo de socialização de classes) e que as reproduzem no acesso aos espaços de poder da sociedade, mantendo as desigualdades sociais.
A incorporação do modo de comportamento (
habitus) típico das classes acontece num longo processo de violência simbólica, onde a escola adestra as crianças a comportarem-se como esperado pelas classes sociais nas quais estão inseridos. Isso significa que quando uma família não tem recursos financeiros suficientes para arcar com as despesas das melhores escolas particulares e faz das tripas coração pra isso, está tentando realizar um projeto de ascensão social geracional. Quer dizer, quando uma família de classe média paga por uma escola de classe alta para seus filhos (mesmo que a mensalidade seja incompatível com sua própria capacidade econômica), o que se quer é que a geração dos filhos tenha uma "sorte" melhor do que a dos pais (a sorte dos ricos numa sociedade desigual). Como dinheiro não tem cheiro, as escolas particulares aceitam qualquer criança (desde que os pais paguem corretamente) com a incumbência de forjá-las para assumir um pensamento e uma postura típicas da expectativa comungada pelas classes sociais ali representadas naquela escola.


Alguns dos filhos das classes sociais menos favorecidas que são compulsoriamente matriculados pelos pais nas escolas frequentadas pelos ricos sofrem por não se reconhecerem nos amiguinhos, sentem-se como peixe fora do aquário. Os pais se esforçam para pagar as mensalidades, mas não conseguem suprir as demais ostentações dos coleguinhas de classe (que não pertencem a mesma classe): as viagens, as roupas, o acesso à cultura e às artes etc. Isso faz com que alguns desses alunos não aguentem a pressão de conviver com as classes mais abastadas, gerando crises em casa (por exemplo, envergonhamento dos pais) ou na escola (por exemplo, isolamento ou agressividade para com os coleguinhas). Esse aluno que está fora da sua classe causa duas preocupações (que se retroalimentam) aos demais pais: 1) o risco da má influência, podendo levar seus filhos por caminhos não desejados como a do consumo de drogas e da realização de pequenos delitos; 2) o risco do filho/filha apaixonar-se por alguém sem classe que possa estar interessado no patrimônio da família. A literatura está repleto de personagens que encarnam esse amor impossível entre classes distintas.


O pior é que o medo comungado pelas classes mais abastadas não passa de um mito, de uma ignorância quanto às classes "perigosas" e suas formas de agir e pensar. As classes estão separadas de fato por um sentimento de indignadade bastante sedimentado que é construído de ambos os lados e que se reproduz no cotidiano, colocando cada um no seu devido lugar. O pobre não quer se relacionar com o rico tanto quanto o rico não quer proximidade com o pobre. E se por acaso esse bloqueio social/cultural for rompido (e a educação não faz muito para que haja esse rompimento), o direito está aí para isso (porque o direito também é uma instância de seleção de classes), para servir aos interesses das classes dominantes (mantendo o patrimônio seguro) e estabelecer a democracia dos iguais. Essa é a seleção: quem conseguir chegar até o final do processo educacional, vencerá, terá um lugar entre as classes dominantes, será um igual.


Puxa, mas que olhar pessimista da educação!! Não. Não é pessimista, é crítico. É um olhar de quem acha que o modelo educacional poderia/deveria ser outro, de quem entende que as ações afirmativas são uma saída viável para confundir a reprodução das classes e para ampliar os conflitos sociais

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