quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Geração de emprego para trabalho mal remunerado é perversão social







                  
            Faz parte dos programas de candidatos e da publicidade dos eleitos a geração de emprego, como metas prioritárias a empolgar a população, iludida no seu anseio de meio de vida. Às vezes acontece relativa criação desses empregos. No entanto, fica muito longe de proporcionar às pessoas, e muito menos às famílias, as condições básicas para uma sobrevivência condizente com a dignidade humana.

                   Os governantes estão nas mãos das classes dominantes nacionais e internacionais, financiadoras de suas campanhas e avalistas da viabilidade eleitoral, desde os pequenos núcleos municipais.  Os 10% mais ricos detêm o controle geral da vida sócio-econômica de cada célula populacional. Controlam, por isto, o sistema de capacitação dos indivíduos ao longo do crescimento de cada um. Evitam o acesso ao conhecimento substancial nos currículos escolares. Impõem programas medíocres de ensino e impedem a repetência, ou reprovação, para satisfazerem as exigências de organismos internacionais na formação de estatísticas que servem de base para serem liberadas verbas destinadas à manutenção da (des) educação das massas, um crime de lesa humanidade.

                   Este processo tem o destino das escolas públicas, para ficarem as particulares reservadas aos estudantes das famílias formadoras desses 10% mais ricos. E nelas funcionam os processos seletivos pelo natural domínio do poder econômico. Como instituições da iniciativa privada, contratam profissionais capazes de transmitir conhecimentos de excelência, nos programas de livre preparação para que esses alunos  recebam ensinamentos privilegiados que os capacitem a chegar ao fim dos estudos com mais elevada competência em relação àqueles que só puderam frequentar as instituições públicas, onde se chega ao Ensino Superior como analfabeto funcional.

                   É um processo sutil de separação de classes.  Os formados nas escolas particulares vão ser os dirigentes na vida pública e privada. Os dos estabelecimentos públicos vão ser os servidores desses dirigentes, sucessores dos 10% mais ricos na evolução das gerações.  Essa minoria passa a ocupar os cargos bem remunerados do Estado, ou das grandes empresas em operação no país. Os 90% vão “brigar” pelas vagas  acaso surgidas nos serviços públicos, ou na “geração de emprego” das empresas que recebem incentivos fiscais, isenção de impostos, doação de terreno, preparação de infra-estrutura para sua instalação e funcionamento.  Esses “favores” concedidos com recursos públicos acabam se incorporando ao patrimônio desses privilegiados “investidores”.

                   Aquela massa de 90% mal habilitada, que vai brigar por algumas vagas disponíveis na “geração de emprego”  forma filas quilométricas, como ingrediente  perverso da lei da “oferta e procura”.  O empregador tem todo o trunfo para pagar o que quiser às pessoas melhor habilitadas entre tantos pretendentes.  E quem conseguir ser aprovado vai se dedicar com tanto zelo e submissão, porque existem muitos à espera de uma oportunidade para ocupar o seu lugar.

                   Os trabalhadores “favorecidos” pela geração de emprego vão aceitar  qualquer coisa, nem que seja o salário mínimo vigente de R$ 680,00, que não cobre nem a quarta parte das necessidades das respectivas famílias.  Os empregadores ainda pagam esse mínimo por força de Lei.  Uma lei ordinária, contrária ao preceito constitucional  que estabelece: “De acordo com a Constituição de 1988, o salário mínimo deve suprir as necessidades básicas (alimentação, moradia, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social) do trabalhador e sua família”. A lei máxima do nosso país também define o reajuste periódico do salário mínimo para preservar o  poder aquisitivo do trabalhador (Art.7º Inciso IV).

       O DIEESE – Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudo Socioeconômico – estuda mensalmente o valor da cesta básica em 17 capitais. Com os resultados, mostra o valor necessário para o trabalhador e sua família viverem dentro dos padrões estabelecidos no Art.7º - Inciso IV da Constituição Federal(1988). Para dezembro último, esse valor era de R$ 2.561,47,  4,20 vezes os R$ 622,00 efetivamente pagos para a maioria dos brasileiros.

       Pelo que já analisamos, a “geração de emprego” destina-se a colocar o trabalhador sob jugo. Se ele não tem trunfo para negociar o valor do que precisa, é obrigado a aceitar 24,28% das suas necessidades. Se tiver que aceitar quatro vezes abaixo do que precisa, isto é um trabalho escravo; escravidão social, fruto da plutocracia, onde os governantes se movem pela força do dinheiro de quem pode mais.   

       Resultado, os governantes, de campanhas financiadas pelos grandes capitalistas “geram” postos para serem ocupados a favor dos escravocratas modernos.  E esses mesmos governantes, que facilitam tudo para os donos do capital nas isenções já relacionadas, nada oferecem aos trabalhadores e suas famílias, para complementar aquelas necessidades constitucionais. Por isto, a divisão de classes continua. Os 90% despossuídos são condenados, como uma fatalidade, a ficarem distantes dos conhecimentos que poderiam lhes promover ascensão social. 

       Por tudo isto pensado, dá para concluir que as escolas públicas de má qualidade, com desvalorização de professores são uma deficiência programada e prevista pelas classes dirigentes através de seus serviçais eleitos para manter o quadro inalterado.

    (Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@mail.com)  

Um comentário:

  1. Gostei muito do blog, realmente a divisão de classes começa o quanto antes hoje em dia. As vezes quando encontro uma pessoa com formação em nível superior me impressiona que ela desconheça tudo isso e simplesmente tem a opinião de senso comum, de culpar os sujeitos pelo processo.

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