Bem que o povo desejaria transformações
estruturais, porque delas precisa. Os últimos pleitos revelaram desejo de
mudança pela votação em candidatos novatos no exercício da vida pública.
Especialmente em Visconde do Rio Branco, a Câmara de nove, passou a ter cinco
vereadores que nunca tiveram mandatos anteriormente. Seus votos corresponderam
ao dobro dos outros quatro eleitos. Parece estranho, mas é o critério da
proporcionalidade que dá resultados assim: nem sempre o percentual de sufrágio
gera o mesmo percentual de eleitos.
Os partidos que atingem maior
quociente eleitoral ficam com candidatos na suplência com mais votos do que
alguns de outros partidos de menor quociente. O espírito da Lei, neste caso,
deve ser evitar que um único partido, ou coligação eleja a totalidade dos vereadores
e que não haja divisão de representatividade. Seria uma “ditadura legislativa”.
Então, a votação popular
majoritária em novatos, em 2008, indica
um desejo no eleitorado de renovação nos quadros e, consequentemente, na
estrutura administrativa do Município.
Acontece que o povo vai às urnas
somente com o poder do sufrágio. Mas não tem acesso aos meandros da política, e
nem informação técnica de como fazer as transformações desejadas. O jogo de
influência, o domínio das siglas, os acordos das reuniões secretas estão fora
de seu alcance. Alguns dos eleitos desejariam atuar de maneira diferente de como
atuam, para estarem em acordo com as expectativas de seus eleitores.
Uma primeira coisa acontece com alguns
dos vereadores. De uma hora para outra, eles saem da sua condição de simples
assalariado remunerado do mínimo R$ 622,00, para receber vencimentos próximos
de dez vezes mais. Esse dinheiro nunca visto na vida, altera seu estado de
espírito. Qualquer ameaça de perder o mandato por “infidelidade partidária”,
que pode depender de um único comandante de sigla, abala suas decisões. E os
novatos, salvo raríssimas exceções, acabam se tornando prisioneiros de velhas
raposas da política. Atrás das raposas
estão os financiadores de campanha. Nessa composição esdrúxula está uma hierarquia
invisível, onde quem não tem voto manda em campões de votos. A representatividade vira-se de cabeça para
baixo.
Se isto acontece em uma Câmara de
Vereadores, imagine-se o que acontece nas Assembléias Legislativas e no Congresso Nacional!
Por isto, muita gente estranha quando
desabafa:
- A Lei protege mais a bandido do que
a cidadão comum!
As orgias com dinheiro do povo, em
farra de passagens, licitações fraudulentas, obras superfaturadas, remuneração
exagerada para membros dos três poderes decorre desse jogo de interesses, jogo
de influências, porque o dinheiro que financia as campanhas e os partidos tem
que vir de volta para quem investiu, multiplicado à enésima potência.... não
tem limites.
E dinheiro não tem carimbo de
autenticidade, de legitimidade. Vem de
qualquer fonte. Com certeza até do Crime
Organizado. O Caixa 2 tem a marca registrada, embora invisível, de uma
estrutura mafiosa.
E, não raro, um vereador que sai da
condição de “gente humilde”, só vai descobrir aonde caiu depois que está lá
dentro. Antes ouvia falar, mas não
acreditava.
Os espertalhões que comandam “departamentos”
desse esquema fazem o novato escorregar em uma irregularidade, para mantê-lo
preso na “Cosa Nostra”. Juntando os
ganhos inusitados para ele ao perigo de responder a um processo, perde o fôlego, às vezes o sono, e vai
levando.
Quando um cidadão comum fala que “político
é tudo igual”, nem sempre sabe por que eles se tornam tão iguais. Isto irrita Bertold Brecht e desperta
gargalhadas em Nicolau Maquiavel.
Sabemos que manter a esperança e lutar
por ela tem de ser a nossa razão de viver.
Sem isto, a vida não tem sentido. Todas as nossas atitudes são
políticas: omissão, ação, indignação, conformação, luta, participação.
As pessoas de bem temem se envolver com
política e abalar sua credibilidade. Mas
nenhum espaço fica vazio. O deixado por um bom caráter é ocupado por um mau.
Quando tivermos maioria de bons, a coisa se transforma para melhor. Precisamos dos bons dentro dos partidos, nas
listas, nos diretórios, nos quadros de candidatos. Somente assim sairão
melhores legisladores, administradores e até componentes do Poder Judiciário,
porque a estrutura desse poder é feita pela legislação elaborada pelos eleitos
no sufrágio direto, para formar assembléias constituintes, ou mesmo os poderes
legislativos de rotina.
Assim, nossas eleições ordinárias
despertam paixões, às vezes inimizades, trazem alegrias para uns e tristeza
para outros. Mas, na prática, cumprem
somente um ritual de calendário.
Apesar de tudo, o ser político – que somos
todos nós – tem de lutar por mudanças de fato, sempre caminhar, fazer
acontecer, abrir veredas.
Reverenciar
Rui Barbosa, mas tentar chegar a um ponto em que a sua sentença seja coisa
somente do passado:
“ - De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a
desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os
poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da
honra, a ter vergonha de ser honesto.” (Senado Federal, RJ. Obras Completas,
Rui Barbosa. v. 41, t. 3, 1914, p. 86)
(Franklin
Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
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