quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A onze dias das eleições o ritual parece cumprir um calendário


             

         Bem que o povo desejaria transformações estruturais, porque delas precisa. Os últimos pleitos revelaram desejo de mudança pela votação em candidatos novatos no exercício da vida pública. Especialmente em Visconde do Rio Branco, a Câmara de nove, passou a ter cinco vereadores que nunca tiveram mandatos anteriormente. Seus votos corresponderam ao dobro dos outros quatro eleitos. Parece estranho, mas é o critério da proporcionalidade que dá resultados assim: nem sempre o percentual de sufrágio gera o mesmo percentual de eleitos.

          Os partidos que atingem maior quociente eleitoral ficam com candidatos na suplência com mais votos do que alguns de outros partidos de menor quociente. O espírito da Lei, neste caso, deve ser evitar que um único partido, ou coligação eleja a totalidade dos vereadores e que não haja divisão de representatividade. Seria uma “ditadura legislativa”.

          Então, a votação popular majoritária  em novatos, em 2008, indica um desejo no eleitorado de renovação nos quadros e, consequentemente, na estrutura administrativa do Município. 

          Acontece que o povo vai às urnas somente com o poder do sufrágio. Mas não tem acesso aos meandros da política, e nem informação técnica de como fazer as transformações desejadas. O jogo de influência, o domínio das siglas, os acordos das reuniões secretas estão fora de seu alcance. Alguns dos eleitos desejariam atuar de maneira diferente de como atuam, para estarem em acordo com as expectativas de seus eleitores.

         Uma primeira coisa acontece com alguns dos vereadores. De uma hora para outra, eles saem da sua condição de simples assalariado remunerado do mínimo R$ 622,00, para receber vencimentos próximos de dez vezes mais. Esse dinheiro nunca visto na vida, altera seu estado de espírito. Qualquer ameaça de perder o mandato por “infidelidade partidária”, que pode depender de um único comandante de sigla, abala suas decisões. E os novatos, salvo raríssimas exceções, acabam se tornando prisioneiros de velhas raposas da política.  Atrás das raposas estão os financiadores de campanha.  Nessa composição esdrúxula está uma hierarquia invisível, onde quem não tem voto manda em campões de votos.  A representatividade vira-se de cabeça para baixo.

          Se isto acontece em uma Câmara de Vereadores, imagine-se o que acontece nas Assembléias Legislativas e  no Congresso Nacional!     

          Por isto, muita gente estranha quando desabafa:

         - A Lei protege mais a bandido do que a cidadão comum!      

         As orgias com dinheiro do povo, em farra de passagens, licitações fraudulentas, obras superfaturadas, remuneração exagerada para membros dos três poderes decorre desse jogo de interesses, jogo de influências, porque o dinheiro que financia as campanhas e os partidos tem que vir de volta para quem investiu, multiplicado à enésima potência.... não tem limites.

         E dinheiro não tem carimbo de autenticidade, de legitimidade.  Vem de qualquer fonte.  Com certeza até do Crime Organizado. O Caixa 2 tem a marca registrada, embora invisível, de uma estrutura mafiosa. 

         E, não raro, um vereador que sai da condição de “gente humilde”, só vai descobrir aonde caiu depois que está lá dentro.  Antes ouvia falar, mas não acreditava.

         Os espertalhões que comandam “departamentos” desse esquema fazem o novato escorregar em uma irregularidade, para mantê-lo preso na “Cosa Nostra”.  Juntando os ganhos inusitados para ele ao perigo de responder a um processo,  perde o fôlego, às vezes o sono, e vai levando. 

         Quando um cidadão comum fala que “político é tudo igual”, nem sempre sabe por que eles se tornam tão iguais.  Isto irrita Bertold Brecht e desperta gargalhadas em Nicolau Maquiavel.

         Sabemos que manter a esperança e lutar por ela tem de ser a nossa razão de viver.  Sem isto, a vida não tem sentido. Todas as nossas atitudes são políticas: omissão, ação, indignação, conformação, luta, participação.

         As pessoas de bem temem se envolver com política e abalar sua credibilidade.  Mas nenhum espaço fica vazio. O deixado por um bom caráter é ocupado por um mau. Quando tivermos maioria de bons, a coisa se transforma para melhor.  Precisamos dos bons dentro dos partidos, nas listas, nos diretórios, nos quadros de candidatos. Somente assim sairão melhores legisladores, administradores e até componentes do Poder Judiciário, porque a estrutura desse poder é feita pela legislação elaborada pelos eleitos no sufrágio direto, para formar assembléias constituintes, ou mesmo os poderes legislativos de rotina.

         Assim, nossas eleições ordinárias despertam paixões, às vezes inimizades, trazem alegrias para uns e tristeza para outros.  Mas, na prática, cumprem somente um ritual de calendário.

         Apesar de tudo, o ser político – que somos todos nós – tem de lutar por mudanças de fato, sempre caminhar, fazer acontecer, abrir veredas.  
Reverenciar Rui Barbosa, mas tentar chegar a um ponto em que a sua sentença seja coisa somente do passado:
         “  - De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.” (Senado Federal, RJ. Obras Completas, Rui Barbosa. v. 41, t. 3, 1914, p. 86)
         (Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)




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