Bastaria bom senso, com base nas enchentes a partir de 1932,
para evitar a multiplicação das áreas de risco em Visconde do Rio Branco. O mais
simples raciocínio mostrava que toda construção abaixo do nível atingido por
aquela famosa cheia estava sujeita a inundações. Demorou tanto tempo para haver
outra semelhante, que pode ter levado o povo e os administradores públicos a
pensarem que o fenômeno não se repetiria.
Imagem: Alexandre Peluso - Carrapicho
Virou referência quase diluviana falar da “enchente que
chegou no Largo” – a Praça 28 de Setembro.
No Pito
Aceso, logo depois da estrada de ferro, existe hoje a Ponte João Amaro, homenagem
ao Gatinho, antigo barbeiro que exercia
sua profissão e morava na esquina da Rua Santo Antônio. A ponte anterior àquela
enchente era sua passagem para a zona rural onde ele tinha terras. O povo do
lugar falava da “enchente que veio na
linha(estrada de ferro)”. Parecia que seria a primeira e única naquelas
proporções. Lá no centro da cidade, além
do jardim, atingiu a Rua Dr. Linch – Carrapicho.
Tudo o que foi construído abaixo desses níveis, era para quem
acreditasse que não aconteceria outra igual. Quem já morava nesses lugares, passado
“o dilúvio”, veria a vida voltar ao normal.
Mas, com longo espaço de tempo, vieram
outras, como a de 1959, que chegou à Esquina do Pecado, reforçada pelo Córrego
da Rua Nova, cujas nascentes ficavam onde existe atualmente o Bairro Cel.
Joaquim Lopes.
O Código Florestal- Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965 –
avançado para a época, mas tímido para a evolução abrangente do conceito
ambiental, procurava proteger a flora, como um despertar diante do desmatamento
crescente, a exemplo do que fora a nossa Zona da Mata. Mas já se percebia a
importância das matas ciliares para a vida dos cursos das águas. O próprio Chopotó e o Rio Piedade, que nos
anos 40 e 50 do Século XX tinham vários pontos onde a coletividade nadava e
passava suas tardes de domingo, já mostrava significativamente que estava
minguando. Não foi a ameaça de
esquistossomose que espantou os banhistas dos açudes e poços de natação. Foi a
falta de água.
Em 1970, metade dos 25.000 habitantes de
Visconde do Rio Branco morava na Zona Rural. Havia o crescimento urbano
natural, de certa maneira lenta, devido às incertezas na roça e as dificuldades
para tratamento de saúde e escola. Em relação ao início do século, era um crescimento
considerável. Merecia atenção para ser planejado. A legislação federal, estadual
e municipal era conflitante. Mas já havia determinação legal de que as margens
dos rios de porte desses nossos eram impróprias para construções em uma faixa
de 15 metros a partir do ponto atingido pelas maiores cheias. Espaço
naturalmente reservado para as matas ciliares, protetoras dos cursos d’água
contra assoreamento e erosão.
Em tempo de imposição de neoliberalismo econômico,
a especulação imobiliária levou vantagem sobre os ambientalistas, com a
complacência – senão cumplicidade - dos administradores públicos.
As margens dos nossos
rios, pertencentes à União e ao Estado, foram consideradas “terra de ninguém”.
E, como “terra de ninguém”, alguém conseguiu títulos de
propriedade, alvarás de construção para obras particulares. Do mesmo modo,
alguém conseguiu respaldo “legal” para obras públicas em cima dos espaços das matas
ciliares.
E a densidade demográfica crescia desordenadamente,
expandindo o perímetro urbano, ocupando toda a área onde deveria haver
vegetação para o equilíbrio ecológico. Os espaços onde as águas de chuva
deveriam ficar retidas por algum tempo, garantindo a permanência da vegetação,
a irrigação e consistência do solo, a alimentação dos lençóis freáticos, foram tendo
invertida sua finalidade original.
Menos
água e mais detritos. Cimento armado e asfalto no lugar da flora. Não há
retenção de parte das chuvas. Cai e
procura direto o leito dos rios que vêm carregando o volume natural das cheias.
Cheias das nascentes, somadas às enxurradas que vêm de todos os lados. Os transbordamentos
são inevitáveis. Vai para onde o excesso?
Em primeiro lugar para as obras ribeirinhas, construídas abaixo dos
níveis das mais antigas cheias. Perigo, destruição, prejuízo sobre obras
particulares e públicas.
Rua Major Felicíssimo(25/11/2010)
Av. Beira-Rio, após enchente de 02/01/2012
Se antes o espaço era longo entre uma
cheia e outra, agora se torna cada vez mais estreito: 1932, 1959, 2006, 2008,
2010(25/nov.), 2012(02/01)....
Houve tempo(década de 70 -Séc.XX) em que
chovia 15 dias em janeiro, e os Rios não transbordavam. Agora basta uma virada
de noite com chuva forte para o nível sair do normal e inquietar a população.
Vem chegando outubro. Este ano com eleições
no dia sete. Tomara que as nuvens no céu sejam mais simpáticas: nuvens de
algodão!!
O Município precisa de atenção dos administradores a serem
empossados em janeiro para um planejamento preventivo, sério, sobre o
crescimento urbano. Enchentes são os
maiores problemas do Município, no momento. Precisa haver um grupo treinado
para formar a Defesa Civil e uma unidade
do Corpo de Bombeiros instalada nestes domínios. A de Ubá é pouco para
atender a toda a Região. Seu deslocamento
pode chegar tarde aonde for chamado.
Estamos pagando caro por tomar o espaço das matas ciliares
com obras indevidas, custosas e perigosas às margens dos rios. Tudo se transformou em áreas de risco.
Construções às margens do Rio Piedade
(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
Nenhum comentário:
Postar um comentário