21/09/2012
O ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso disse em São Paulo, em um encontro com artistas e intelectuais,
que esse é o momento de “recuperação moral” da política brasileira. Ele pode
ter razão, e a terá ainda mais se, depois do escrutínio judicial da Ação 470, o
exame de outras ações pendentes no STF e nos tribunais dos Estados, abrir o véu
que cobre o período de 1995 a 2003. Seria importante saber como se deu a
privatização da Companhia Vale do Rio Doce, uma empresa construída por
mineiros. E seria também importante verificar, em sua intimidade, o processo de
privatização da Telebrás e suas subsidiárias.
Estamos submetidos a um péssimo serviço, quase todo ele explorado por empresas
estrangeiras. Segundo o PROCON, as reclamações contra os serviços telefônicos
celulares batem o recorde naquele órgão. Enquanto isso, algumas empresas, como
a Telefônica, continuam se valendo do nosso dinheiro, via BNDES, para financiar
sua expansão no país, enquanto os lucros são enviados a Madri, e usados para a
compra de empresas no resto do mundo.
Será, da mesma forma, necessária à recuperação moral da política brasileira
saber quais foram as razões daquela medida, e como se desenvolveu o processo do
Proer e da transferência de ativos nacionais aos bancos estrangeiros,
alguns deles envolvidos em negócios repulsivos, como a lavagem de dinheiro do
narcotráfico.
Quem fala em recuperação moral estuprou a Constituição da República com a
emenda da reeleição, recomendada pelo Consenso de Washington, uma vez que aos
donos do mundo interessava a continuidade governamental nos países periféricos,
necessária à queda das barreiras nacionais e à brutal globalização da economia,
com os efeitos nefastos para os nossos países. Seria, assim, também importante,
no processo histórico da “recuperação moral”, saber se houve ou não houve compra
de votos para a aprovação do segundo mandato de Fernando Henrique, como se
denunciou na época, e com algumas confissões conhecidas.
Tivemos oito anos sem crescimento do ensino
universitário público no Brasil, enquanto se multiplicaram os centros privados
de ensino superior, que formam, todos os anos, bacharéis analfabetos, médicos
açougueiros, sociólogos inúteis.
Para
essa “recuperação moral” conviria ao ex-presidente explicar por que, no apagar
das luzes de seu governo, recebeu, para um jantar a dois, o banqueiro Daniel
Dantas, acusado de desviar dinheiro de seu fundo de investimentos para os
paraísos fiscais, violando a legislação brasileira. Seria também importante
reexaminar a súbita prosperidade dos jovens gênios que serviram à famosa “equipe
econômica” em seus dois mandatos.
Se a
“recuperação moral” for mesmo para valer, o ex-presidente não tem como eludir
às suas responsabilidades. Para começar, se alguém se habilitar a investigar -
e julgar ! - basta o seu diálogo gravado com o pessoal do BNDES no caso da
privatização das telefônicas.
Postado por Mauro Santayana
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