quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Quanto pior a classe política, mais a sociedade tem de lutar





         A sociedade descrê, com razão da classe política. Mas de uma verdade ninguém pode fugir: os membros dessa classe saem da mesma sociedade e são por ela eleitos. 

         Quando Rui Barbosa dizia que “Pátria é a família ampliada”, estava implícito que a pátria são todos, inclusive os políticos. Os seus erros, senão todos, mas muitos, portanto, são erros de raiz. As vantagens que procuram tirar dos privilégios de cargos são comparáveis às de qualquer cidadão que “acha” dinheiro, ou qualquer objeto e, sabendo quem é seu proprietário, nega-se a devolver se ninguém mais ficar sabendo do achado.
oab.org.br

         Se os componentes da sociedade fossem puros em si, ninguém precisaria deixar carro trancado em estacionamento, nem se preocupar em dar duas voltas no cadeado do portão ao sair de casa. Ninguém seria elogiado por sua honestidade, considerada uma virtude, quando na verdade é um dever.

         Vemos tantos exemplos dos que combatem os erros alheios, até que tenham a oportunidade de cometer os mesmos erros.  E, na política, as práticas presentes estão repletas desses exemplos.  Todos se lembram de tudo o que o PT combatia quando estava na oposição.  Bastou assumir o governo para seguir literalmente as mesmas posições, praticar os mesmos atos e até buscar alianças com seus antigos adversários.  Segue o neoliberalismo de FHC, com suas privatizações; dá seguimento às desnacionalizações dos setores estratégicos, como a exploração do petróleo e seus derivados; flexibiliza as leis trabalhistas, com a desoneração da folha de pagamento e conseqüente perda de recursos da Previdência Social; provoca queda do valor real das aposentadorias, com manutenção do fator previdenciário; associa-se a Collor, Sarney, Rennan Calheiros, Roberto Jefferson, Paulo Maluf(através do apoio do PP); fica no centro de escândalos de compra de votos, como no Mensalão; mantém liberdade para agiotagem do sistema financeiro; nada fez para conter a queda do valor real dos salários por meio da rotatividade da mão de obra; impediu a apuração do assassinato de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André. 
olharnacional.blogspot.com

         Os componentes do PT agiram enganosamente pela conquista do poder, pregando a ética na política, enquanto estavam de fora. Desde que lá chegaram, trocaram a ética e os princípios pelo cinismo, a ponto de expulsarem do Partido os correligionários que pretenderam defender os a fidelidade partidária, como Heloísa Helena e outros, que tiveram de fundar o PSOL.  Diríamos, então, que Heloísa e seus liderados constituem exemplos da exceção no comportamento político.
portaldocatita.blogspot.com

         Para isto precisam as pessoas que constituem exceção na sociedade lutar e fazer crescer o número dos que tem este modo diferente de ser e de agir na atividade particular e na vida pública até se tornarem maioria de um lado e de outro.

         Quando a sociedade passar por uma autodepuração, seremos uma nação melhor.  Haverá menos policiais corruptos, menos parlamentares, menos executivos, menos juízes.
 
         A ideia de “levar vantagem em tudo” é uma tolice, porque todos pagam caro.  A “vantagem” não dá para todos.  E a maioria fica em carência diante do trabalho mal remunerado, da falta de segurança, dos maus serviços públicos, dos impostos elevados, da rapinagem, das extorsões, dos assaltos explícitos ou dissimulados, da carestia dos bens de primeira necessidade, da falta de escolas e conhecimentos gerais, do analfabetismo.

         A vantagem é fruto do egoísmo, concentração de bens, falta de solidariedade, desonestidade.

         Somos por força da Natureza seres sociais.  Ninguém vive só, por si mesmo. Desde o nascimento somos dependentes de outrem, não só no fator biológico, como no afetivo.  Até a origem de nossa vida, a fecundação, depende do compartilhamento de mais de um ser.  A reciprocidade independe de opção. É essência.
 
         Em um pensamento mais amplo, descobrimos que, se tiramos algo de alguém, estamos tirando de nós mesmos. Somos um pouco de cada um.  Cada um é um pouco de nós.  Por isto, o avarento é insaciável. Quanto mais acha que tem, mais quer.  E se torna um eterno carente.

         Leonel Brizola, um dos raros políticos que o país já teve disse: “Somente a estrutura socialista resolverá os problemas da humanidade”.  Fica entendido que nessa estrutura cada um tem de produzir para ter; e parte do que produz é de todos.  Do mesmo modo, cada um compartilha com aquilo que os outros produzem.  Essa inter-relação leva à paz social, a sentir felicidade com a felicidade alheia.

         Neste sentido é que a sociedade, a comunidade, tem de avançar: melhorando o procedimento do indivíduo para o grupo familiar; deste para todos.  E de todos saírem  aqueles que comporão a classe política, produtora das leis para os demais; intermediária e administradora dos bens, aspirações, interesses e expectativa de todos, sempre norteada pelo senso de justiça, mérito e a mais próxima equidade possível.   
             
(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)

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