sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Doutrina de Maquiavel é cínica


                                                             

Cínica, embora praticada sem escrúpulos, a doutrina de Nicolau Maquiavel está presente no quadro político brasileiro, da presidência da República aos gabinetes dos vereadores. Ao transformar virtudes da vida privada em erros da vida pública, seu pensamento contribui para afastar cada vez mais as pessoas de bem do exercício da política.  E contraria Bertold Brecht
Imagem: sandicesdemomento.blogspot.com

Para esse “pensador”, se uma pessoa valoriza o cumprimento da palavra empenhada na atividade particular, deve abrir mão desse princípio, se quiser ter sucesso na vida pública. Os mensalões deixam de ser crimes, as maracutaias se justificam, o superfaturamento de obras se tornam normais e admissíveis, desde que o contribuinte pague tudo em forma de impostos e em péssimos serviços recebidos do estado. 

Quando Lula dizia que “não sabia de nada”, diante de cada acusação sobre seus auxiliares extensiva a suas responsabilidades de chefe, estaria praticando o maquiavelismo.  E faz pensar que sua declaração de “ler é muito chato” pode ser uma estratégia para ninguém imaginar que pudesse ser um seguidor de Maquiavel.  

A criação do Bolsa-família, sem contrapartida, é maneira de fazer o “príncipe” operário ser bem sucedido na permanência no poder.  Do mesmo modo, Sarney, fazendo de seu estado o de pior IDH do Brasil, acha no analfabetismo um instrumento de perpetuar a sua dinastia no poder.  “Os fins justificam os meios”,  um dos princípios maquiavélicos, mesmo que a sentença literal seja de outra autoria.  Mas o seu espírito está da obra de “seu” Nicolau.

Quando um político experiente e carreirista diz que “pra se eleger tem que mentir mesmo”, está sendo pragmático no dogma do cinismo.

Não por acaso, as classes dominantes fazem de tudo para o povo se manter longe da cultura e da educação de qualidade.  Conhecimento abrangente da sociedade é ameaça para esses grupos, para os financiadores de campanha, para os que dizem que “pobre não pode estudar mesmo”. 

E muitos daqueles que se fizeram passar por defensores da justiça social e, no poder, praticam o mais deslavado liberalismo econômico, são exemplos dos que não têm pudor de exibirem suas contradições. Mentiram deliberadamente ontem, mentem convenientemente hoje, e mentirão sempre, enquanto a mentira mantiver suas chances de se enriquecer no poder. 

O próprio Lula, denunciado pela Revista Forbes de ter acumulado uma fortuna de mais de dois bilhões de dólares, com os seus dois mandatos, não teve o menor interesse em desmentir aquele veículo de comunicação. O Lulinha, antes do mandato do paizão, trabalhava em um zoológico, com salário de menos de R$ 2.000,00.  Virou milionário naqueles oito anos das graças do Planalto. 

O raio de ação de mensalões e que tais teve início do outro lado do muro, no ninho tucano do PSDB mineiro, quando, em 1998, Eduardo Azeredo deu o pontapé inicial nessa partida infame.  Faces da mesma moeda, PT e PSDB vêm, desde então, polarizando as preferências eleitorais.  Seus maiores expoentes tiveram as marcas FHC/LULA,  SERRA/LULA, SERRA/DILMA. Os dois partidos têm os mesmos aliados como satélites em cada oportunidade de poder, nas coalizões parlamentares: PSB, PMDB, PTB, PDT, PC do B, PP, DEM e outros de menor expressão.  Pode-se saber que essas montagens atendem aos interesses dos financiadores de campanha: empreiteiras, empresas de publicidade, bancos e marqueteiros. E o tempo mostrou figuras como Marcos Valério ora de um lado, ora de outro, conforme a direção do vento. Duda Mendonça foi  promotor de imagem de Paulo Maluff e de Lula.
Imagem: silvanolago.com                              Imagem: gracanopaisdasmaravilhas.blogspot.com

Ao atenderem os extremos da pirâmide social, garantem-se no poder.  Aos miseráveis as migalhas que os fazem prisioneiros e dependentes;  aos donos do grande capital, as facilidades e liberdade para especulação, agiotagem,  concentração de renda.

Quem trabalha recebe menos de um quarto do que precisa para a sua sobrevivência; quem não trabalha recebe menos ainda para garantir os votos que fazem a diferença; quem especula na ciranda financeira ganha mais do que 80% de toda a renda nacional para assegurar o permanente financiamento das campanhas. E quem administra esses extremos goza o privilégio das farras com o dinheiro do contribuinte que são as pequenas e médias empresas e os assalariados de média remuneração.  Estes sofrem a sangria de quase a metade do que produzem para os gastos perdulários dos grupos de poder e seus associados e protegidos. A sangria vai nos impostos de quase 40% do trabalho de cada um.

Assim, os maquiavélicos se equilibram enquanto podem nas cordas dos legislativos e executivos.  Quem mente nem sempre perde a razão, que a própria razão desconhece. Papai Maquiavel bate palmas. Enquanto a mentira estiver dando certo, eles vão se locupletando na vida pública.  Quando começarem a perder crédito, estarão ricos, em fim de carreira.

Os eleitores que, através dos tempos, descobrem o elenco de mentiras, também estarão envelhecendo e cansados de esperar por dias melhores.

Outras gerações estarão surgindo de um lado e de outro.  Novos atores passarão a enganar novos expectadores, para sucesso das editoras do “pensamento” de Nicolau Maquiavel.

(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)     

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