quarta-feira, 26 de setembro de 2012

COLUNA DO PAULO TIMM(De Portugal) - A repetição da história




A repetição da história

 Luis Nassif  - 25/09/2012 -
São significativas as semelhanças entre os tempos atuais e o período pré-64, que levou à queda de Jango e ao início do regime militar e mesmo o período 1954, que levou ao suicídio de Getúlio Vargas.
Os tempos são outros, é verdade, e há pelo menos duas diferenças fundamentais descartando a possibilidade de um mesmo desfecho: uma economia sob controle e uma presidência exercida na sua plenitude, sem vácuo de poder.
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Tirando essas diferenças, a dança é a mesma.
A falta de perspectivas da oposição em assumir o poder, ou em desenvolver um discurso propositivo, leva-a a explorar caminhos não-eleitorais.
Parte-se, então, para duas estratégias de desestabilização – ambas em pacto com a chamada grande mídia.
Uma, a demonização dos personagens políticos. Antes do seu suicídio, Vargas foi submetido a uma campanha implacável, inclusive com ataques à sua honra pessoal – que, depois, revelaram-se falsos.
No quadro atual, sem espaço para criticar a presidente Dilma Rousseff, a mídia – especialmente a revista Veja – move uma campanha implacável contra Lula. Chegou ao cúmulo de ameaçar com uma entrevista supostamente gravada (e não divulgada) de Marcos Valério, como se Valério tivesse qualquer credibilidade.
Surpreendente foi a participação de FHC, em artigo no Estadão, sustentando que o julgamento do “mensalão” marca uma nova era na política. Até agora, o único caso documentado de compra de votos foi no episódio da votação da emenda da reeleição – que beneficiou o próprio FHC.
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A segunda estratégia tem sido a de levantar o fantasma da guerra fria. Mesmo sabendo que Jango jamais foi comunista (aliás, o personagem que mais admirava era o presidente norte-americano John Kennedy) durante meses e meses levantou-se o “perigo vermelho” como ameaça.
Grande intelectual, oposicionista, membro da banda de música da UDN, em 1963 Afonso Arino escreveu um artigo descrevendo o momento. Nele, mencionava o anacronismo de (em 1963!) se falar de guerra fria, logo depois de Kennedy e Kruschev terem apertado as mãos. E dizia que, mesmo sendo anacronismo, esse tipo de campanha acabaria levando à queda do governo pelo meio militar, devido à falta de pulso de Jango, na condução do governo.
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O modelo de atuação da velha mídia é o mesmo de 1964, com a diferença de que hoje em dia não há vácuo de poder, como com Jango.
Primeiro, buscam-se personalidades, pessoas que detenham algum ativo público (como jornalistas, intelectuais, artistas etc.). Depois, abre-se a demanda por comentaristas ferozes. Para se habilitar à visibilidade ofertada, os candidatos precisam se superar na ferocidade dos ataques.
Poetas esquecidos, críticos de música, acadêmicos atrás de visibilidade, jornalistas, empenham-se em uma batalha similar às arenas romanas, onde a vitória não será do mais analítico, ponderado, sábio, mas do que souber melhor agredir o inimigo. É a grande noite do cachorro louco, uma selvageria sem paralelo nas últimas duas décadas.
Com sua postura de não se restringir ao julgamento do “mensalão” em si, mas permitir provocações à presidente da República e a partidos, o STF não cumpre seu papel.
Aliás, o STF do pós-golpe foi muito mais democrático do que o atual Supremo.

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Coluna SETEMBRO NEGRO – PAULO TIMM
O artigo do Nassif  - "Repetição da História"- é digno de reflexão. Afinal, vive-se uma espécie de SETEMBRO NEGRO, com sinais de tensões políticas e "irritação" conjuntural, agudizadas, quer pela crise econômica internacional, com reflexos na perda de dinamismo da nossa economia interna, quer pela crise política deflagrada, sem entrar no mérito, pelo julgamento do "Mensalão".
Tenho vários reparos a fazer ao texto do NASSIF.
Acho que em 64 não havia nenhum vácuo de poder. Isso foi desculpa dos golpistas para derrubarem o Governo Goulart . E, independentemente do que Afonso Arinos dizia, estávamos, sim no Auge da Guerra Fria. Recém saídos da Crise dos Mísseis em Cuba. O golpe de 64 tinha apoio efetivo dos Estados Unidos. Hoje, a Guerra é Cambial, como diz nosso Ministro MANTEGA. E, embora os Estados Unidos estejam reagindo ao nosso suposto protecionismo, nada indica que estará financiando a derrubada de Dilma Roussef.
Isso significa, pois, que a atual CRISE tem origem interna.
E, à diferença de 1954 e 1964, tem um caráter não de LUTAS DE CLASSES, mas da consequência de elas se terem deslocado do campo POLITICO ( praças e Congresso) , para o INSTITUCIONAL (Justiça) . Aliás, uma consequência do que se tem denominado JUDICIALIZAÇÃO da LUTA DE CLASSES, ou LUTA POLÍTICA. Um grande perigo.
Getúlio, severamente combatido pela Imprensa que o acusava de estar mergulhado num MAR DE LAMA, refugiou-se no suicídio e deixou uma CARTA TESTAMENTO que entrou para a História como o testemunho das causas reais da crise: a defesa da economia nacional com respeito à soberania e direitos dos trabalhadores. Jango, reflugiou-se no exílio e deixou à História sua presença altiva no Comício da Central do Brasil no dia 13 de março, quando promulgou a REFORMA AGRÁRIA, no contexto das Reformar de Base, plataforma de seu Governo. Nos dois casos, o que estava em jogo náo era nem um Presidente, muito menos seus aliados, nem um Partido, mas uma Instituição: a Presidência da Republica.
Nos dois casos, contrariamente ao que afirma NASSIF havia Governos democraticamente eleitos, institucionalmente funcionando, sem qualquer vazio de Poder, nem ambiguidades. O que sim, havia, era uma forte Oposição aos respectivos Governos no Congresso Nacional, o que hoje não existe, em função, até, da habilidade da CONCERTAÇAO da Governabilidade pela cúpula dos Partidos. Nos casos de JANGO, VARGAS e DILMA é certo, porém, que a grande imprensa OPERA COMO PARTIDO POLÍTICO jogando pesado a favor do conservadorismo. . O próprio NASSIF , entretanto, ressalta a diferença: O alvo, agora, náo é nem a Presidente, nem seu Governo. O alvo agora é o PT, portanto, o jogo não tem caráter propriamente GOLPISTA, mas político. Pretende debilitar o PT, atingir algumas de suas mais importantes figuras e o próprio LULA, que , aliás, încovenientemente, a meu juízo, procura se defender em campo aberto, coordenando o apoio de setores da sociedade não em apoio ao Governo, que náo está em causa, mas a acusados em um processo em curso. Tem todo o direito, mas é um jogo extremamente perigoso porque cria, sim, uma fratura na autoridade da Presidente da República. Fica evidente que há um PODER FORMAL no Planalto, com grande prestígio de Opiniáo Pública e respeitabilidade da Imprensa e até Oposiçao e OUTRO PODER, DE FATO, no Ex-Presidente, já visivelmente desgastado, seja pela doença, seja pelo afastamento do Poder, seja até pela própria insistência em se manter no HIT PARADE, seja, enfim, pelo efeito da mídia. Isto, sim, cria um vazio de Poder que o autor náo assinala.
O cachorro louco de agosto, parece, pois, que continua solto pelas veredas de setembro. Esperemos outubro...

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