As enchentes de 2006, 2008, 2010(25/novembro)
e 2012(02/janeiro) deixaram, a seu tempo, um rastro de lama, prejuízo e
vítimas, com duas fatais. E revelaram o grande problema social do surgimento de
uma variada quantidade de áreas de risco.
Áreas de risco - Rio Chopotó
Áreas de risco - Rio Piedade
Áreas de risco - Rios Chopotó e Piedade
As principais se encontram amplamente
visíveis às margens dos rios Piedade e Chopotó, onde há obras residenciais
instaladas em plano avançado nas valas destinadas ao curso das águas das cheias
e da estiagem.
As enchentes conhecidas desde 1932 eram evidente advertência
sobre os limites de risco para construções principalmente para moradia. Mas as obras públicas também teriam que
respeitar o espaço necessário à preservação das matas ciliares, protetoras
contra assoreamento por sujeira ambiental, assim como o lixo e entulho que as
pessoas irresponsavelmente jogam nos rios.
Imagem: Alexandre Peluso
Enchente de nov. de 2010. Imagem: Edgard Amin
Enchente de 02 de janeiro de 2012. Av. Beira-Rio - Posto de Saúde. Barreiro. Imagem: Edgard Amin/Jefferson Coelho
Essas matas ainda dão consistência
às margens, com suas raízes penetradas no solo, e impedem erosão diante das
águas volumosas.
A abertura de vias públicas, e concessão de alvarás de
construção no seu curso, agrediram sobremaneira a Natureza e expuseram vidas a perigo, nos níveis historicamente atingidos pelas enchentes.
Essas áreas de risco são fáceis de
perceber, porque se encontram em pleno centro da cidade, onde a movimentação é
constante. Mas há muitas outras, menos
perceptíveis, por se encontrarem nos altos dos morros loteados, onde faltou
considerar graus de aclividade com segurança contra desmoronamentos. Estão espalhadas em locais de pouca
visibilidade, esparsos, onde somente os moradores percebem o perigo.
A falta de planejamento, diante do
crescimento urbano previsível, provocou esses problemas. Teriam de ser regulamentas as construções e
loteamentos dentro de um Código de Posturas e do Plano Diretor, com prioridade
para o plano horizontal, fora e acima dos níveis atingidos pelas enchentes do
passado.
Do mesmo modo, a preservação de espaços
ecológicos teria de ser formalizada em cada bairro e áreas loteadas. Para cada lote a ser construído, teria de
haver um para vegetação, onde as águas de chuva caíssem e fossem absorvidas pela
flora e pelo solo. Seria o equilíbrio da
produção de oxigênio, e da consistência da terra pela umidade, que seria
liberada vagarosamente, na alimentação dos lençóis freáticos para minas e poços
artesianos, cujas águas chegariam ao leito dos rios na estiagem. É um ciclo
natural que evita a morte dos rios.
Nossos Chopotó e Piedade já foram
caudalosos e serviram, no passado, até
para a prática do esporte de barco e canoagem. E muita gente nadava nas suas
águas, quando a cidade nem conhecia o uso das piscinas particulares e dos
clubes sociais. Os açudes da
Cachoeira(Colônia) e do Matucho eram pontos de movimento no verão, como as
praias das cidades litorâneas. O volume de águas desses rios de agora não chega
a 20% daquilo que foi há mais de meio século.
A criação de vias públicas às margens
do Chopotó teria que ser precedida de um cálculo da sua capacidade cúbica.
Bastaria olhar para o passado e saber do perigo presente. Se houvesse condições de aumentar a sua vala
por todo o perímetro urbano até desaguar na zona rural de Pombal, até as
divisas guidovalenses, essas passagens para veículos seriam viáveis, e as
construções possíveis às suas margens, desde que mantidas as matas ciliares.
Largura não
existe para esse aumento. Somente poderia
ser pensado no plano vertical de duvidosa possibilidade.
Se se concluísse pelo impedimento das duas hipóteses, essas
vias públicas não poderiam ter sido abertas onde foram.
Os resultados mostram o erro daquelas obras. Cada enchente destrói vários dos seus trechos.
Os trabalhos de recuperação ficam caros e demorados. E o tempo útil de sua utilização entre uma
enchente e outra é pequeno. Chega-se a um ponto que a relação custo/benefício
não compensa. Sai cara e perigosa para a
população. E, ecologicamente nociva.
Obras de recuperação da Av.Beira-Rio, depois da enchente de 2006
Obras de recuperação da Av.Beira-Rio, depois da enchente de 2006
Av.Beira-Rio, depois da enchente de 02/01/2012
Continua, portanto, a dúvida: se os futuros prefeito e câmara
de vereadores vão enfrentar esta soma de problemas, ou se vão virar as costas
para eles, e deixar seus efeitos se multiplicarem.
(Franklin
Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
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