sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Queda de temperatura tranquiliza a cidade


            

         As altas temperaturas que tivemos no começo deste mês trouxeram desconforto de um modo geral, e pânico localizado em alguns pontos da cidade, em plena vigência teoricamente do Inverno que só termina na transição de 22 para 23 de Setembro, quando começa a Primavera.

         Vínhamos das baixas temperaturas, de quando precisávamos usar agasalhos, para, de repente, vermos os termômetros passarem dos 30ºC,  que realmente não são comuns nesta época do ano, e com plena falta de chuvas.

         O tempo seco diante do calor insuportável trouxe problemas respiratórios a muita gente que teve de ir ao médico, e influiu na movimentação dos hospitais.

         Embora este fato faça parte da rotina das pessoas, altera o estado de ânimo, provoca despesas e incômodo.

O pânico ficou por conta das queimadas na Chácara, no Bairro Nova Rio Branco e no Sito da família Vianna, situado na colina do lado direito do Rio Chopotó(Xopotó), em frente ao início do Bairro de Lourdes.   
Fogo no Bairro Nova Rio Branco. Imagem: Ivone Barros.
Fogo no Bairro Nova Rio Branco. Imagem: Jefferson Coelho

Fogo no Sítio da Família Vianna. Imagem: Roberta Melo



         Felizmente, na última quarta-feira houve uma queda de temperatura, coincidente com formação de nuvens escuras, o que chega a ser um contraste dentro da evolução normal do processo climático.  Mas, seja lá por que cargas d’água, para nosso alívio aconteceu uma tímida precipitação pluviométrica.  

Às árvores  ressecadas e nuas tiveram leve recuperação e exibem folhas novas para vivificante respiração e exalação do oxigênio como em ato de solidariedade aos outros elementos animais e vegetais que dependem desse equilíbrio para uma existência saudável.

         Se olharmos o ceu, vem aquela impressão que os poetas chamam de “cara feia” por causa das nuvens plúmbeas, algumas escuras.  Pode ser sinal de mais chuva. Mas a temperatura está boa, agradável, leve, sem depender de agasalho ou ventilador. Está confortável e permite uma respiração natural, suave.

         Não se pode negar que, no Município, o tempo nublado traz certa preocupação que pode parecer paranóia para quem não se lembra das últimas enchentes e suas consequências.  Vivemos diante de um contraste: a falta de chuvas, com a baixa umidade do ar, diante de calor intenso, ameaça o surgimento de queimadas; o excesso traz o transbordamento dos rios Chopotó e Piedade, cheios de áreas de risco, com tantas construções habitacionais avançadas no seu leito.  Os bairros e loteamentos erguidos nos píncaros dos morros que circundam a zona urbana estão cheios de áreas sujeitas à erosão e desmoronamento.  

         Talvez por causa mesmo do crescimento urbano desordenado e sem planejamento, tenha deixado de haver estudos sobre a topografia, os graus de aclive sem risco, a preservação de espaços ecológicos para retenção de parte da águas de pluviais e permeabilidade do solo para manter a umidade e consistência da terra. 

         Esses e outros fatores vêm tornando mais volumosas as enchentes e estreitando o espaço entre uma e outra. Por isto, a população vive uma preocupação constante.  Quase sempre, o período das chuvas começa em plena Primavera, no mês de Outubro, que se aproxima.  Basta olhar o céu: nuvens escuras parecem mau prenúncio, principalmente para quem mora ou tem atividades às margens dos rios.  É uma tensão constante. 

         O tempo que passa, depois das enchentes, parece pequeno para se ter tranquilidade.  Esta tensão faz muita gente esquecer que as chuvas são importantes para a lavoura, na produção dos bens de primeira necessidade. As pessoas somente dão valor à água quando ela falta.  Há outras regiões do País, sobretudo o Nordeste, onde a calamidade é a Seca –  morrem gado, plantações; rios secam, o solo racha, o sertanejo vai embora, as aves desaparecem.     A letra do Xote Asa Branca, de Luiz Gonzaga, é uma boa mostra para se entender o drama da seca naquela região. 

Aqui em Visconde do Rio Branco há necessidade de os administradores públicos fazerem um levantamento dos problemas provocados pelas chuvas, corrigir o que for possível.  Delimitar as áreas de risco e criar alternativas para seus ocupantes em lugares seguros. Se houver condições técnicas e econômicas, a medida principal seria aumentar a capacidade cúbica dos rios Chopotó e Piedade para, no mínimo o dobro da atual, desde o início do perímetro urbano até chegar à zona rural nos limites de Guidoval.

Dentro de uma lógica natural, esta cidade não deveria ter problemas com enchentes.  Estamos a apenas 15 quilômetros(aproximadamente) das nascentes da Serra da Piedade e da de São Geraldo. De Guidoval em diante vão se somando afluentes e os problemas crescem.   

No momento, estamos vivendo a bonança, depois do susto do fogo, e antes da probabilidade das enchentes, quase previsíveis.  Compensa tomarmos uma atitude existencialista: Viver o presente. O passado não interessa. E o futuro ninguém sabe.

Segue a letra original do xote, no linguajar do sertanejo,  para reflexão sobre a realidade nordestina.

     Asa Branca

Quando "oiei" a terra ardendo
Qual a fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de "prantação"
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
"Intonce" eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
"Intonce" eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
Hoje longe, muitas légua
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar pro meu sertão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar pro meu sertão
Quando o verde dos teus "óio"
Se "espaiar" na prantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu vortarei, viu
Meu coração
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu vortarei, viu
Meu coração
(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)

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