É uma boa notícia a divulgação de que a
Prefeitura está trabalhando na capacitação dos professores. A má qualidade do
ensino vem de longe. E os que se formam para essa nobre missão chegam ao
momento de exercer o magistério despreparados não por sua culpa. Ninguém pode
ensinar o que não aprendeu. A aprovação automática traz esses resultados. Há
exigência de formação superior. Isto pouco acrescenta diante do critério das
faculdades particulares, que emitem diplomas condicionados mais à capacidade de
pagamento do que a provas efetivas de conhecimento técnico pedagógico e da
cultura geral no domínio da gramática, das redações de qualidade, da
matemática, geografia, história e disciplinas correlatas.
Da sucessão de professores sem base resulta
uma educação cada vez mais deficiente, a partir do Ensino Fundamental, sem o
qual nenhum aluno chega capacitado aos graus médio e superior. E a escola pública sucateada pelo tempo deixa
como única opção para se aprender um pouco nas escolas particulares, que sofre
os vícios do mercantilismo, e se encontra à altura de poucos, em uma população
de baixa renda onde a grande maioria de trabalhadores recebe remuneração muito
inferior a suas necessidades básicas de sobrevivência.
Os professores estão incluídos entre
esses trabalhadores mal pagos diante de uma responsabilidade árdua: preparar
jovens à cidadania e à aquisição de conhecimentos que dependem de avaliações
periódicas que determinem se se encontram capacitados à promoção para séries
seguintes.
Esses mestres são colocados diante de
situações constrangedoras: qualquer atitude que supostamente coloquem os
discípulos em situação constrangedora, coloca-os sujeitos a repreensões,
processos criminais e até a ameaças físicas e humilhações morais. Os jovens não compreendem no tempo certo a
necessidade do aprendizado. E se sentem muito à vontade para atribuir seus
fracassos a perseguições de quem está ali para ensinar. Muitas vezes os próprios pais de alunos
cobram mais dos mestres os fracassos que deveriam cobrar dos filhos. Deixam de reconhecer que faltaram no
acompanhamento à rotina escolar sobre as faltas, ao “matar de aulas”, à falta
do cumprimento dos deveres de casa, ao estudo específico para provas.
Os professores ficam impedidos de
reprovar pela exigência das próprias escolas de produzir estatísticas sem
repetência para satisfazer organismos nacionais e estrangeiros que avaliam a
evolução do ensino baseado em números e não e comprovação de conhecimento. São, afinal, estatísticas falsas, e que
influem na distribuição de verbas para as contas dos órgãos “responsáveis”.
Bons tempos aqueles em que o Curso de
Formação da Escola Normal Oficial de Visconde do Rio Branco preparava professores
para os Cursos Primários, e que lecionavam até para o Ginasial. E a Escola era
um a instituição de referência para além do Estado. Vinham estudantes de fora para se preparar
naquele Educandário. Com o Ginasial bem
feito e um pequeno complemento de cursinho, muitos estariam habilitados para
prestar vestibular.
Havia base bem fundamentada em Português(eliminatória), em
Matemática, Latim, Inglês, Francês, Física e Química, História, Geografia. Um
Português que chegava a Figuras de Linguagem, Metáforas, Semântica; Matemática
com imensas expressões geométricas, com razões inversas, diretas, potenciação, teoremas;
Latim a contribuir com a cultura universal em páginas a traduzir baseados em
conjugação de verbos, e a desinências de substantivos(nominativo, genitivo,
dativo....), e que muito ajudavam no conhecimento da origem, grafia e variações
das palavras em Português.
Tendo em mãos programas de qualidade elaborado por um
Ministério da Educação com filosofias elevadas, os professores eram valorizados
diante dos alunos como alguém importante na formação de sua personalidade. As
sentenças de grandes filósofos e pensadores, dadas para interpretar em redações
em aulas de Português, muito influíram na formação de gerações que vinham a
entender aquelas reflexões depois que saíssem da escola para entrar na vida. “Dize-me
com quem andas e dir-te-ei quem és”; “O presente é a bigorna onde se forja o
futuro”; “Aquele que hoje fala de mim contigo, amanhã falará de ti comigo”.
Por volta de 1957, a palavra “hodierno” derrubou um grupo de
vestibulandos em Juiz de Fora. Uns não
sabiam o seu significado, outros escreviam sem h.
No dia seguinte o Sinhô Drumond levou ao quadro negro a
expressão “hoc die” = este dia = hoje.
Hodierno = de hoje, atual.
A Escola Normal Oficial tinha o ensino de qualidade, e era de
graça, à altura de qualquer estudante. Seus professores recebiam o respeito dos
alunos e da população. O notório saber
bastava para a credibilidade.
Falar hoje em “capacitação dos professores” coloca-os
em posição inferior, como se quadro de analfabetos absolutos e funcionais fosse
resultado de sua incapacidade. Deixam de
considerar que estão inseguros na vida particular pelos miseráveis vencimentos
que recebem; e na vida profissional pela falta de segurança que a impunidade do
ECA garante aos alunos e pais agressivos.
A ignorância e a violência vêm de fora para dentro, e das autoridades da
Educação na cobrança sobre os professores que se sentem indefesos, coagidos e
violentados na sua missão nobre de ensinar.
Recebem, na maioria, um salário e meio, cerca de R$ 1.000,00. Nem o piso
salarial de R$ 1.567 por mês, para uma jornada de 40, recebem. Muito abaixo do Salário mínimo necessário
de R$ 2.824,92 (55,5%), praticamente a metade do determinado pela Constituição
Federal. Esses reais R$ 1.000,00 não
chegam a 17% do que recebe um vereador por 8 horas de trabalho mensal. E dos valores nada se exige de formação pedagógica,
além de uma declaração rudimentar de que “sabe ler e escrever”. Muitos não sabem redigir um projeto de Lei. Têm
assessores para ajudá-los cumprir as oito horas de trabalho por mês. Enquanto o professor tem que preparar toda a
aula em casa para cumprir em sala as 40 horas semanais.
“O maior
inimigo de um governo é um povo culto.” Jô Soares foi quem disse. E não era piada. Pelo procedimento que vemos
nossos governantes tratar a educação e os educadores, percebemos que matêm distância
da ideia de levar educação ao povo, a partir do Fundamental, que seria o
irradiador para se chegar a uma cultura popular maciça. Governantes e os que giram em torno do poder,
a sugar os recursos públicos que a população paga com o sacrifício dos impostos,
têm que manter o povo de olhos vendados para esta expropriação indébita que
tira dos pobres para acumular nos concentradores da riqueza. Os 10% mais ricos do país ficam com 75% da
renda nacional.
Para eles, o povão deve estar ocupado com novela, futebol,
carnaval e os noticiários distorcidos das grandes redes de comunicação, seus
sócios e cúmplices. De acordo com
Balzac, “por trás de toda fortuna há um crime”
(Franklin
Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
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