quarta-feira, 24 de abril de 2013

Lavoura ativa baixa preços dos alimentos


                  


         Quando as usinas de açúcar se encontravam em plena atividade, ficava a impressão de que os canaviais ocupavam terras onde deveriam ser cultivados gêneros alimentícios.  Curiosamente, naqueles tempos havia os produtores de grãos(arroz, feijão, milho) hortaliças e frutas.  Esses produtos cobriam os terrenos, onde não houvesse cana, desde o alto dos morros até a beira das estradas. Criadores de galinha atravessavam uma vara no ombro e traziam a pé, ou de bicicleta, várias cabeças para vender de porta em porta, ou no meio da rua a quem se habilitasse. E traziam ovos em cestas cuidadosamente preparadas com palhas e outros meios para evitar a quebra.
Muitos usavam charrete e traziam no porta-bagagem caixas de tomate.  Carros de bois transportavam sacos de arroz, feijão, milho.  Havia os moinhos para transformar o milho bruto em fubá grosso, fubá fino e até creme.  Laranjas, banana e hortaliças eram oferecidas em dúzias ou em poções rusticamente amarradas por fitas de embira de bananeira e por meios semelhantes a barbante.

Pudera! Em 1970, metade da nossa população morava na zona rural.  E quanto mais distante no tempo, maior era a porcentagem dos habitantes da roça. Depois houve a migração para as grandes cidades, sobretudo São Paulo, e o campo ficou vazio.  A busca por melhores condições de vida, com emprego e gozo dos direitos trabalhistas, a proximidade  aos centros de saúde, à escola provocou o êxodo rural.  Era um fenômeno nacional.  O pleno emprego principalmente na indústria automobilística atraía.  Quem ia, ficava bem e influenciava para a ida de parentes e amigos esquecidos no campo.  Depois, aconteceu o inchaço nas capitais, juntamente com a robotização das grandes indústrias.  As máquinas substituíram a mão de obra humana. Muita gente desempregada perdeu o encanto pela cidade grande.  Quem pôde, voltou.  Pegou as indenizações, vendeu casa e outros valores acumulados durante os bons momentos, e procurou o caminho de volta.  Mas não para a roça, onde as pequenas propriedades haviam sido vendidas para os grandes proprietários de terra e passavam a fazer parte dos latifúndios. O jeito era empatar os recursos na compra de um lote e construir uma casa na cidade mesmo.  Abria-se um mercado para a criação de novos bairros, o que fez crescer o perímetro urbano sem critério e sem planejamento. Os altos dos morros foram ocupados, lado a lado com as margens dos rios Chopotó(Xopotó) e Piedade.  Surgiram muitas áreas de risco.

         Resultado: menos de 20% da população se encontram na zona rural, em alguns aglomerados populacionais ou em habitações isoladas, muito distantes uns dos outros. Poucas são as famílias que ainda cultivam suas terras para plantar e colher o necessário para seu consumo, e ter um excedente para vender e gerar recursos para adquirir outros bens que não saem da terra: roupa, sapatos, eletrodomésticos e tudo aquilo necessário a qualquer grupo familiar. Grandes extensões de terras férteis se encontram ociosas por falta das condições básicas de bancar os custos com o cultivo e esperar a colheita para gerar receita.  E ainda há a incerteza do tempo: chuva e sol na hora certa quando as sementes plantadas precisam de irrigação na medida para germinar.  Cada produto com suas características específicas.

         O fenômeno migração atingiu principalmente os pequenos municípios que, de produtores, passaram a consumidores desses bens primários.  Ficou a produção reservada apenas para o agronegócio que, como todo negócio tem o objetivo do lucro, oriundo da rentabilidade, dos baixos riscos, da produtividade e dos menores custos.   Para atingir essas metas, via de regra, buscam meios em desequilíbrio com a garantia da saúde dos consumidores.  Recorrem avidamente aos agrotóxicos e à adubação química.  Os insumos orgânicos, naturais, são descartados.  Vem o paradoxo: os municípios com terras férteis não cultivadas têm de consumir produtos vindos de longe, sob temperaturas incompatíveis com sua conservação e sujeitos aos choques inevitáveis das longas viagens.  Devido aos custos de transportes, à busca do lucro de produtores e intermediários, e ao risco de deterioração rápida a porcentagem  sobre os custos é muito alta e os alimentos chegam muito caros aos consumidores.  Feijão com alta de  25,85% apenas na primeira semana de abril, puxa o arroz e demais grãos para cima.  Tomate que esteve a R$  10,00 em nosso mercado, mesmo estando em baixa, nunca voltará aos patamares anteriores.  As pesquisas mostram que a inflação tem sido mais cruel com as camadas populares de menor renda, porque sua base de consumo está nos alimentos.  E neste ano estamos vendo, mês a mês, que o salário mínimo tem perdido valor na comparação real com o mesmo mês do ano anterior. 

Imagem: oregionalpr.com.br

         Os poderes do Município precisam colocar em sua agenda uma política voltada para a produção de alimentos na sua própria base territorial, para arrefecer os preços e melhorar a qualidade desses produtos primários na defesa não só da economia popular, como da saúde das pessoas.  Tem de haver uma ação que leve as terras ociosas a produzir, em parceria com seus proprietários, com o fornecimento de mão de obra, máquinas, insumos e garantia de preços mínimos.

         Para os proprietários que não desejarem cultivar seus terrenos, os poderes municipais podem propor o arrendamento de suas terras e assumir o cultivo desde a plantação até a distribuição.  São formas de atingir dois objetivos: aproveitar a mão de obra ociosa, desempregada, dar-lhe trabalho, garantir o sustento dessas pessoas e agregar a produção de cada propriedade à de todo o município. Isto garantirá maior oferta e fartura, distribuída em feiras, no comércio e até nas portas dos consumidores.

         Os poderes públicos podem e devem tomar essa iniciativa com o uso de mecanização e da mão de obra direta. Nossa topografia é pouco favorável para a lavoura mecanizada. E, em um sistema socialmente justo, a máquina produz para o ser humano, e não por ele.  Nunca o homem deve ser excluído da produção. Tem que ser o beneficiário.  Toda terra que produz matagal, produz alimento.  O trabalho inteligente determina seu melhor aproveitamento.

(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)

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