Lamentamos constatar que as relações de trapaças, exploração
do trabalho, a servidão forçada e o espírito de vingança dos poderosos com os
despossuídos vêm desde os latifundiários das sesmarias com os índios.
Este 19 de abril conduziu-nos à
reflexão de uma leitura dinâmica sobre o começo da chegada do homem branco, “civilizado”
a estas terras das Matas Proibidas de São João Batista do Presídio, nos seus
arredores e no Brasil. São situações que a intuição já previa, mas as pesquisas
em várias fontes precisavam comprovar para evitarmos atribuir a concepções de
um “imaginário doentio”.
Nós vemos atualmente como algumas
pessoas privilegiadas de conhecimentos específicos enganam tantas outras
pessoas simples, na sua falta de imaginar o tamanho da maldade humana, com
promessas mirabolantes para atingir seus objetivos, principalmente de alcançar
o poder. E, tão logo conquistem seu
intento, transformem os iludidos em objetos de trabalho forçado pelas
circunstâncias, para produzirem riquezas a serem acumuladas pelos enganadores,
e sobrar migalhas para seus geradores.
“Voltando um pouco no tempo,
constatamos que, em 1811, o governo da Capitania havia arquitetado um ardiloso
plano para “trazer os índios à civilização”. Atraiu 2000 Puri a Vila Rica com promessas de
ferramentas de ferro e, uma vez lá reunidos estes índios, cercou-os com a tropa
de linha, dividindo suas famílias para que, por dez anos servissem em casas de
particulares. Revoltados, os índios trabalharam forçados por apenas cerca de
oito dias, submetendo-se às pancadas dos senhores de escravos da região. Logo
todos os homens haviam fugido, aproveitando-se de seus conhecimentos da mata
que cercava a cidade.”
(Mnemosine
Revista – Vol. 1, N. 102, julho/dez.2010. – Pág. 124)
Imagem: Site da Prefeitura de Ubá-MG
Aqueles índios tiveram melhor sorte,
quando a mata era seu mundo, sua intimidade, seu céu, sua vida. Sabiam viver na
simplicidade da natureza, nas suas ocas e tabas. O trabalho do grupo era dividido para todos,
sem preocupação de acumular mais do que o necessário para viver. Cada tribo vivia em território comum. E procurava
outro lugar quando aquele estivesse inóspito e improdutivo. Desses deslocamentos costumava haver conflito
com outras tribos que buscassem o mesmo lugar.
Aconteciam guerras e vinganças.
Dos braços, cabeças e pernas dos vencidos faziam troféus. Algumas dessas tribos comiam as carnes,
outras punham os ossos em água quente e chupavam.
Na área do Presídio, que ia dos limites
de Piranga até Campos dos Goitacazes(RJ), existiam Botocudos, Croatas, Coropós Puris, Jês e muitos outros. Mas às margens do Rio Xopotó predominavam os
Croatas – chamados Coroados, por causa de seu cabelo cortado em forma de coroa;
e Coropós. Os Puris eram mais encontrados às margens do Rio Bagre,
que deságua no Xopotó na Barra de Guiricema, próximo à divisa com Guidoval. Os
Botocudos viviam nas áreas de onde se encontra hoje Viçosa, as cidades de seu
entorno e até o litoral do Espírito Santo. Segundo o cineasta Geraldo Santos
Pereira, Guido Marlière teria conquistado a amizade dessa etnia, e conseguiu
sua ajuda para trazer de canoa o material para construção da primeira
siderúrgica de Minas Gerais, do Espírito Santo para Monlevade.
Quando a produção do ouro entrou em
decadência nas cercanias de Ouro Preto, os faiscadores vieram para estas áreas
com objetivos de explorar a lavoura.
Nessas vindas de aventura, ora clandestinamente, ora beneficiados por sesmarias,
entravam em choque com os homens livres da região, quando as doações das terras
consideradas devolutas coincidiam com áreas ocupadas pelos naturais donos das
terras. Há historiadores que afirmam terem
existido somente na área do Xopotó em torno de 2.000 indígenas ao tempo da
chegada dos aventureiros. E a cultura de
escravização chegava junto diante de um povo habituado a viver com a natureza
nas asas da liberdade. Alguns citam
tímidas determinações da Coroa para serem respeitados os direitos dos nativos.
Mas predominavam os choques entre desiguais na luta do fogo e ferro contra a
flecha. Por mais que tentem passar a imagem de que a miscigenação e a doença
ocasional da presença do homem branco tenham levado à extinção dos índios, a
lógica não deixa prevalecer essa versão.
Quando constatamos que os afro-descendentes aceitaram docilmente a
escravidão e constituem hoje metade da população brasileira, concluímos que a
rebeldia dos índios à escravidão custou-lhes a existência. São raros os sobreviventes. O Censo de 2012 do IBGE informa que em Visconde
do Rio Branco existem 5 pessoas de “cor ou raça Indígena”, mesmo assim com “rendimento
de ¼ a ½ salário mínimo. Isto para uma
população de 37.942 habitantes, ou seja:
0,013%.
Na história do Brasil, Os Quilombolas foram os negros que
resistiram à escravidão. Mais famoso o Quilombo dos Palmares. Foram dizimados
como os índios.
Mesmo tendo sido dóceis à servidão, com a Abolição da
Escravatura, os libertos deveriam ter recebido sesmarias para cultivarem e
tirar o seu sustento. Na verdade, ficaram livres para mendigar, ou aceitar o
trabalho com a remuneração que os donos de terra quisessem pagar. Às vezes a troco de um prato de comida.
Os latifundiários, beneficiados com as terras de graça das
sesmarias, ficaram livres das despesas com a manutenção das senzalas. Com a
vinda da mão de obra estrangeira, aumentou a busca de emprego, de trabalho
remunerado, que baixou o valor da remuneração.
O tempo alterou a semântica, mas a relação do trabalho com o
capital ficou sendo a mesma, com forma diferente. O campo se transformou em fábricas, em
indústrias, em empresas. A enxada virou
máquinas. Os navios negreiros se
transformaram em urnas eleitorais.
As “promessas de
ferramentas de ferro” viraram cestas básicas, dinheiro e palavras enganosas; e
cerco “com a tropa de linha” virou altos impostos e baixos salários. Este contraste visa transferir patrimônio de todos para alguns.
Desde as capitanias hereditárias, as sesmarias, a reforma
agrária ao contrário, os beneficiários eram os membros da Corte, as Grandes Famílias,
favorecidas pela Monarquia. No conjunto
formavam Dinastias, as linhas de sangue azul que forçavam o povo a acreditar
que eram descendentes dos deuses.
Agora vivemos tempos de outras Grandes Famílias, que formam
as oligarquias, que tentam fazer o povo acreditar que eles são os próprios
deuses. Deuses raivosos a exalar ira com
espírito de vingança a trucidar prováveis “tribos rivais”.
(Franklin
Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
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