sexta-feira, 19 de abril de 2013

Promessas enganosas, exploração e vingança vêm desde as relações com os indígenas




      Lamentamos constatar que as relações de trapaças, exploração do trabalho, a servidão forçada e o espírito de vingança dos poderosos com os despossuídos vêm desde os latifundiários das sesmarias com os índios.

         Este 19 de abril conduziu-nos à reflexão de uma leitura dinâmica sobre o começo da chegada do homem branco, “civilizado” a estas terras das Matas Proibidas de São João Batista do Presídio, nos seus arredores e no Brasil. São situações que a intuição já previa, mas as pesquisas em várias fontes precisavam comprovar para evitarmos atribuir a concepções de um “imaginário doentio”.

         Nós vemos atualmente como algumas pessoas privilegiadas de conhecimentos específicos enganam tantas outras pessoas simples, na sua falta de imaginar o tamanho da maldade humana, com promessas mirabolantes para atingir seus objetivos, principalmente de alcançar o poder.  E, tão logo conquistem seu intento, transformem os iludidos em objetos de trabalho forçado pelas circunstâncias, para produzirem riquezas a serem acumuladas pelos enganadores, e sobrar migalhas para seus geradores. 

         “Voltando um pouco no tempo, constatamos que, em 1811, o governo da Capitania havia arquitetado um ardiloso plano para “trazer os índios à civilização”.  Atraiu 2000 Puri a Vila Rica com promessas de ferramentas de ferro e, uma vez lá reunidos estes índios, cercou-os com a tropa de linha, dividindo suas famílias para que, por dez anos servissem em casas de particulares. Revoltados, os índios trabalharam forçados por apenas cerca de oito dias, submetendo-se às pancadas dos senhores de escravos da região. Logo todos os homens haviam fugido, aproveitando-se de seus conhecimentos da mata que cercava a cidade.”
(Mnemosine Revista – Vol. 1, N. 102, julho/dez.2010. – Pág. 124)
Imagem: Site da Prefeitura de Ubá-MG


         Aqueles índios tiveram melhor sorte, quando a mata era seu mundo, sua intimidade, seu céu, sua vida. Sabiam viver na simplicidade da natureza, nas suas ocas e tabas.  O trabalho do grupo era dividido para todos, sem preocupação de acumular mais do que o necessário para viver.  Cada tribo vivia em território comum. E procurava outro lugar quando aquele estivesse inóspito e improdutivo.  Desses deslocamentos costumava haver conflito com outras tribos que buscassem o mesmo lugar.  Aconteciam guerras e vinganças.  Dos braços, cabeças e pernas dos vencidos faziam troféus.  Algumas dessas tribos comiam as carnes, outras punham os ossos em água quente e chupavam. 

         Na área do Presídio, que ia dos limites de Piranga até Campos dos Goitacazes(RJ),  existiam Botocudos, Croatas, Coropós  Puris, Jês e muitos outros.  Mas às margens do Rio Xopotó predominavam os Croatas – chamados Coroados, por causa de seu cabelo cortado em forma de coroa; e Coropós.  Os Puris  eram mais encontrados às margens do Rio Bagre, que deságua no Xopotó na Barra de Guiricema, próximo à divisa com Guidoval. Os Botocudos viviam nas áreas de onde se encontra hoje Viçosa, as cidades de seu entorno e até o litoral do Espírito Santo. Segundo o cineasta Geraldo Santos Pereira, Guido Marlière teria conquistado a amizade dessa etnia, e conseguiu sua ajuda para trazer de canoa o material para construção da primeira siderúrgica de Minas Gerais, do Espírito Santo para Monlevade.

         Quando a produção do ouro entrou em decadência nas cercanias de Ouro Preto, os faiscadores vieram para estas áreas com objetivos de explorar a lavoura.  Nessas vindas de aventura, ora clandestinamente, ora beneficiados por sesmarias, entravam em choque com os homens livres da região, quando as doações das terras consideradas devolutas coincidiam com áreas ocupadas pelos naturais donos das terras.  Há historiadores que afirmam terem existido somente na área do Xopotó em torno de 2.000 indígenas ao tempo da chegada dos aventureiros.  E a cultura de escravização chegava junto diante de um povo habituado a viver com a natureza nas asas da liberdade.  Alguns citam tímidas determinações da Coroa para serem respeitados os direitos dos nativos. Mas predominavam os choques entre desiguais na luta do fogo e ferro contra a flecha. Por mais que tentem passar a imagem de que a miscigenação e a doença ocasional da presença do homem branco tenham levado à extinção dos índios, a lógica não deixa prevalecer essa versão.  Quando constatamos que os afro-descendentes aceitaram docilmente a escravidão e constituem hoje metade da população brasileira, concluímos que a rebeldia dos índios à escravidão custou-lhes a existência.  São raros os sobreviventes.    O Censo de 2012 do IBGE informa que em Visconde do Rio Branco existem 5 pessoas de “cor ou raça Indígena”, mesmo assim com “rendimento de ¼ a ½ salário mínimo.  Isto para uma população de  37.942 habitantes, ou seja: 0,013%.  

Na história do Brasil, Os Quilombolas foram os negros que resistiram à escravidão. Mais famoso o Quilombo dos Palmares. Foram dizimados como os índios.

Mesmo tendo sido dóceis à servidão, com a Abolição da Escravatura, os libertos deveriam ter recebido sesmarias para cultivarem e tirar o seu sustento. Na verdade, ficaram livres para mendigar, ou aceitar o trabalho com a remuneração que os donos de terra quisessem pagar.  Às vezes a troco de um prato de comida.

Os latifundiários, beneficiados com as terras de graça das sesmarias, ficaram livres das despesas com a manutenção das senzalas. Com a vinda da mão de obra estrangeira, aumentou a busca de emprego, de trabalho remunerado, que baixou o valor da remuneração. 

O tempo alterou a semântica, mas a relação do trabalho com o capital ficou sendo a mesma, com forma diferente.  O campo se transformou em fábricas, em indústrias, em empresas.  A enxada virou máquinas.  Os navios negreiros se transformaram em urnas eleitorais.   

As  “promessas de ferramentas de ferro” viraram cestas básicas, dinheiro e palavras enganosas; e cerco “com a tropa de linha” virou altos impostos e baixos salários. Este contraste visa transferir patrimônio de todos para alguns.

Desde as capitanias hereditárias, as sesmarias, a reforma agrária ao contrário, os beneficiários eram os membros da Corte, as Grandes Famílias, favorecidas pela Monarquia.  No conjunto formavam Dinastias, as linhas de sangue azul que forçavam o povo a acreditar que eram descendentes dos deuses. 

Agora vivemos tempos de outras Grandes Famílias, que formam as oligarquias, que tentam fazer o povo acreditar que eles são os próprios deuses.  Deuses raivosos a exalar ira com espírito de vingança a trucidar prováveis “tribos rivais”.  

(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)

Nenhum comentário:

Postar um comentário