segunda-feira, 15 de abril de 2013
Capriles não reconhece vitória de Maduro e põe a Venezuela em clima de guerra
Reação está dentro do plano golpista que começou com o câncer de laboratório inoculado em Chávez
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Nicolás Maduro é o novo presidente da Venezuela. Às9h30 da noite, horário de Caracas, a presidente do Conselho Nacional Eleitoral, Tibisay Lucena, anunciou o resultado das eleições, que tiveram a participação de 78,71% dos eleitores, apontoando-o como irreversível. Lá o voto não é obrigatório.
Com 99,12% dos votos apurados, Maduro teve maioria absoluta, com 50,66% da preferência do eleitorado, ou 7.505.338 votos. O oposicionista Henrique Capriles tinha 49,07%, com 7.270.403. A diferença entre os dois candidatos era de 234.935 sufrágios.
O candidato da coligação oposicionista de centro-direita, Henrique Capriles Radonski, se pronunciou às dez da noite (hora de Caracas), afirmando que não reconhece a derrota até que seja feita uma auditoria voto por voto. Sua posição criou um clima de tensão e levou o comando das Forças Armadas a se manifestar, primeiro, através do comandante militar estratégico, general Wilmer Barrientos, reafirmando seu apoio à manifestação do povo pelas urnas e à Constituição.
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Mais tarde, já depois de meia noite, o ministro da Defesa, general Diego Molero, conclamou a todos a respeitarem os resultados eleitorais, reafirmando que as Forças Armadas bolivarianas estão unidas como guardiãs da Constituição e da vontade popular.
A atitude de Capriles de não reconhecer a derrota levou também a uma mobilização da militância chavisata, sob a liderança de Jorge Rodrigues, que lembrou a vantagem de menos de 30 mil votos que fez de Capriles o governador do Estado de Miranda, nas eleições de dezembro, em que os chavistas ganharam em quase todos os Estados. Disse que a atitude de Capriles já era esperada, dentro de um plano que poderia levar a um gesto extremo e que teve grande influência na campanha eleitoral.
Em seu discurso logo após conhecido o resultado oficial, Nicolás Maduro, que enfatizou sua origem proletária como motorista de ônibus, disse que enfrentou todo tipo de sabotagem na campanha, principalmente no corte de energia elétrica nas cidades onde foi fazer campanha. No dia da eleição sua conta no twitter foi invadida, numa sequência de vários ataques de hakers para desestabilizar sua campanha.
Em seu discurso logo após conhecido o resultado oficial, Nicolás Maduro, que enfatizou sua origem proletária como motorista de ônibus, disse que enfrentou todo tipo de sabotagem na campanha, principalmente no corte de energia elétrica nas cidades onde foi fazer campanha. No dia da eleição sua conta no twitter foi invadida, numa sequência de vários ataques de hakers para desestabilizar sua campanha.
Relatou também que no próprio dia das eleições recebeu uma ligação do adversário Caprilles, propondo um pacto para que os resultados só fossem proclamados depois de uma segunda apuração manual.
Lembrou que 54% das urnas eletrônicas, escolhidas aleatoriamente são auditadas, mas se o Conselho Nacional Eleitoral quiser, apóia a auditoria em todas as urnas, sugerida pelo representante da oposição no CNE. Na Venezuela, ao contrário do Brasil, além do eletrônico, o eleitor imprime seu voto, confere e deposita numa segunda urna.
Enfatizou que em 14 anos de governo chavista, houve 18 consultas eleitorais e que em 2007, quando perderam um referendo por pouco mais de 20 mil votos, imediatamente o presidente Hugo Chávez reconheceu a derrota.
Assim, espera que a oposição respeite o resultado eleitoral. Mas já sentiu que não vai ser fácil. Quase todos os jornais da Venezuela e dos países vizinhos deram mais destaque à palavra de Capriles do que ao discurso do candidato vitorioso.
Maduro, líder sindical e ex-motorista de ônibus
O candidato do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) e presidente interino desde a morte de seu mentor, em 5 de março, iniciou sua carreira política longe dos quartéis, ao contrário de muitos dos homens que estiveram perto de Chávez em seus 14 anos de governo. Maduro foi motorista de ônibus e piloto de trem do metrô de Caracas, além de líder sindical. Conheceu o então tenente-coronel Hugo Chávez durante sua prisão, após o levante militar de 1992. Como muitos outros dirigentes de esquerda, buscou aproximar-se do oficial, que começava a surgir como liderança opositora. Foi nessa época que conheceu sua mulher, Cilia Flores, atual advogada-geral da nação e, em 1992, uma das defensoras de Chávez.
Maduro sempre foi um militante leal à revolução bolivariana. Hoje, atribui a ele tudo o que aprendeu sobre política. O atual presidente venezuelano nasceu em Caracas, numa família humilde que vivia na favela de El Valle. Não tem estudos universitários, e sua falta de formação acadêmica é um dos pontos mais questionados de seu currículo pela oposição. Nos últimos dias de campanha, o candidato do PSUV cometeu alguns erros de geografia, o que redobrou os ataques opositores.
Durante todo o tratamento realizado por Chávez para combater um câncer diagnosticado em junho de 2011, Nicolás Maduro acompanhou o presidente e sua família. O então ministro das Relações Exteriores da Venezuela, cargo para o qual foi designado em 2006, esteve com ele em Cuba e foi um dos poucos que tiveram acesso à intimidade do chefe de Estado. Aos 50 anos, Maduro tornou-se braço-direito do “comandante supremo” da revolução alardeada por Chávez e, em dezembro de 2012, foi escolhido seu sucessor.
Durante a campanha, Maduro recebeu o apoio de líderes como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente argentina, Cristina Kirchner. O candidato do Palácio de Miraflores tem um excelente relacionamento com muitos governos da região, principalmente de Brasil, Argentina, Bolívia, Peru e Cuba, o que lhe garante um importante respaldo. E, internamente, ganhou o polêmico apoio das Forças Armadas.
De família poderosa, Capriles é um golpista por vocação
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Sua família é proprietária do diário Últimas Notícias, de maior difusão nacional, além de cadeias de rádios e um canal de televisão.
Nos anos 80, militou no grupo de extrema direita Tradição, Família e Propriedade.
Em 2000, fundou o partido político Primero Justicia, com o conservador Leopoldo López, e se aliou ao International Republican Institute, braço internacional do Partido Republicano norte-americano. O presidente norte-americano à época era George W. Bush, que ofereceu um amplo apoio à nova formação política que fazia oposição a Hugo Chávez, principalmente mediante o NED (National Endowment for Democracy).
Uns dias antes do golpe de Estado de 2002, Capriles foi à televisão para exigir a renúncia de Hugo Chávez, dos deputados da Assembléia Nacional, do Procurador-Geral da República, do Defensor do Povo e do Tribunal Supremo de Justiça. Após o golpe de 11 de abril, a primeira decisão da junta golpista foi precisamente dissolver todos esses órgãos da República.
Em abril de 2002, o Primero Justicia foi o único partido político a aceitar a dissolução forçada da Assembléia Nacional, ordenada pela junta golpista de Pedro Carmona Estanga.
Durante o golpe de Estado de abril de 2002, Capriles também participou do assalto à embaixada cubana de Caracas, organizado pela oposição venezuelana e pela direita cubano-americana.
Por todo esse currículo e considerando que o processo eleitoral na Venezuela está dentro de um sofisticado plano golpista, que começou com a eliminação de Hugo Chávez através de um câncer produzido em laboratório, tudo pode acontecer nesse país que tem hoje a maior reserva de petróleo do mundo. E que exerce um grande influência na América Latina e entre os países da OPEP. Para o sistema internacional, Maduro não é o mesmo que Chávez, isto é, é mais vulnerável às pressões de uma elite que não engole o projeto do socialismo bolivariano.
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