Desde algum tempo atrás, os arredores
da Praça 28 de Setembro vêm sendo abalados pela ação predatória da especulação
imobiliária.
A cidade, que teve status definido de
uma cultura de época, com sua arquitetura neoclássica, passa por uma agressão
intempestiva na violação das formas marcantes de uma identidade que fazia da
área central uma das mais bonitas das cidades da região. Aquele aspecto harmonioso, histórico, bonito,
serviu de inspiração para cenários de filmes quando outra cidade não oferecia
igual. “O Menino e o Vento” e “Eu Dou o que Ela Gosta” foram rodados nestas ruas e morros, emoldurados pelas obras
que contavam história de uma mentalidade
iluminista que inspirava os construtores de pensamentos de liberdade e de
avanço. Era uma cultura de gente que pensa.
Cenário de O Menino e o Vento. Imagem: Luiz Orlando de Oliveira.
Balaústre, Prefeitura, Matriz, Grupo Carlos Soares. Imagem: Mauro Afonso
O próprio nome do município Visconde do
Rio Branco é homenagem ao autor da Lei do Ventre Livre, a mais importante que
conduzia à Abolição da Escravatura.
Entre demais iluministas estavam Tiradentes e os outros
inconfidentes.
O ímpeto destruidor dessa cultura e
desses valores manifestou-se com mais intensidade nos últimos tempos com a
tentativa de destruir verdadeiras relíquias e valores de nossa gente, como
aconteceu na ameaça de transformar o Estádio da Boa Vista Joseph Lambert, campo
do Nacional Atlético Clube, em um condomínio fechado. O tombamento realizado sob a presidência da
Professora Theresinha de Almeida Pinto foi que salvou aquele palco de nosso
futebol da fúria deletéria dos especuladores.
No início do ano passado, ocorreu a demolição de três prédios
inventariados na Rua Floriano Peixoto, o que sofreu embargo judicial, suspenso
recentemente por influências de bastidores alheias aos trâmites legais. A Professora
renunciou à presidência do Conselho Consultivo do Patrimônio Público Municipal,
por não ter conseguido preservar ao menos uma porta da histórica Casa Telles.
Estádio da Boa Vista Joseph Lambert. Imagem: Romilda Aparecida Pereira
Casa da Marizainha. Imagem: Isah Baptista
Casa do Chicre Amin. Imagem: Isah Baptista
Os defensores dessa destruição do
patrimônio histórico chamam a isto de progresso. Um progresso que sufoca a
cultura tem ingredientes de prepotência e megalomania. Há muito espaço na Zona Urbana para se
desenvolver, crescer o patrimônio dos investidores e contribuir para o
desenvolvimento do município. Mas o filé
mignon se encontra na área do metro
quadrado mais caro do município. O
material de construção custa o mesmo preço para uma obra realizada na
periferia, ou na área nobre do perímetro urbano. Mas o lucro é maior para as
construções onde o preço de venda atinge os patamares mais altos. O retorno do capital aplicado é tentador.
A inconveniência dessa febre imobiliária
no centro decorre do fator da alta densidade demográfica. Mora muita gente em espaço pequeno. As ruas
se encontram congestionadas. A pista de rolamento não comporta maior número de
veículos transitando nesse espaço. O calçamento de asfalto e paralelepípedo se
encontra trincado, danificado. Quanto
mais edifícios se levantam, mais apartamentos, mais veículos na garagem, e
menos lugar para estacionamento. Cada garagem é um trecho a menos.
Pelo que vemos até agora, a paisagem
urbana já está duramente violentada. As novas construções vão surgindo sem
qualquer disciplina de conjunto. O
individualismo leva ao comportamento egoísta de cada um por si. A vista coletiva vira um caos, uma desarmonia
arquitetônica de uma cidade sem regras, porque os poderes públicos deixaram de
estabelecer em tempo hábil um código de construções e edificações, que
preservasse estética entre o novo e o antigo.
Há, na verdade, um sufoco da expressão da liberdade coletiva pela
imposição da prepotência individual, ou de grupos econômicos que buscam o
interesse imediato, que se torna tirânico diante do bom senso e da inteligência.
Praça 28 de Setembro: congestionamento e desarmonia arquitetônica. Imagem: Isah Baptista
Desta vez, a agressão chegou ao coração
da Praça 28 de Setembro, onde a área suspeita de desabamento do Hotel Braga foi
simplesmente demolida, anexa ao lote da Casa Telles. Ficou aquele vazio lúgubre, que nos parece a
vista de um Titanic, quando a orquestra começa a ver esvoaçarem suas
partituras.
Hotel Braga. Imagem: Site da Prefeitura
Esquina de Rua Presidente Antônio Carlos com Praça 28 de Setembro. Espaço vazio pela demolição da Casa Telles e parte do Hotel Braga. Imagem: Paulo César Cardoiso
(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)
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