quinta-feira, 4 de abril de 2013

Centro histórico da cidade sofre ação predatória da especulação imobiliária




                


         Desde algum tempo atrás, os arredores da Praça 28 de Setembro vêm sendo abalados pela ação predatória da especulação imobiliária. 

         A cidade, que teve status definido de uma cultura de época, com sua arquitetura neoclássica, passa por uma agressão intempestiva na violação das formas marcantes de uma identidade que fazia da área central uma das mais bonitas das cidades da região.  Aquele aspecto harmonioso, histórico, bonito, serviu de inspiração para cenários de filmes quando outra cidade não oferecia igual. “O Menino e o Vento” e “Eu Dou o que Ela Gosta” foram rodados  nestas ruas e morros, emoldurados pelas obras que contavam  história de uma mentalidade iluminista que inspirava os construtores de pensamentos de liberdade e de avanço. Era uma cultura de gente que pensa.
Cenário de O Menino e o Vento. Imagem: Luiz Orlando de Oliveira.
Balaústre, Prefeitura, Matriz, Grupo Carlos Soares. Imagem: Mauro Afonso



         O próprio nome do município Visconde do Rio Branco é homenagem ao autor da Lei do Ventre Livre, a mais importante que conduzia à Abolição da Escravatura.  Entre demais iluministas estavam Tiradentes e os outros inconfidentes. 

         O ímpeto destruidor dessa cultura e desses valores manifestou-se com mais intensidade nos últimos tempos com a tentativa de destruir verdadeiras relíquias e valores de nossa gente, como aconteceu na ameaça de transformar o Estádio da Boa Vista Joseph Lambert, campo do Nacional Atlético Clube, em um condomínio fechado.  O tombamento realizado sob a presidência da Professora Theresinha de Almeida Pinto foi que salvou aquele palco de nosso futebol da fúria deletéria dos especuladores.  No início do ano passado, ocorreu a demolição de três prédios inventariados na Rua Floriano Peixoto, o que sofreu embargo judicial, suspenso recentemente por influências de bastidores alheias aos trâmites legais. A Professora renunciou à presidência do Conselho Consultivo do Patrimônio Público Municipal, por não ter conseguido preservar ao menos uma porta da histórica Casa Telles.
Estádio da Boa Vista Joseph Lambert. Imagem: Romilda Aparecida Pereira
Casa da Marizainha. Imagem: Isah Baptista

Casa do Chicre Amin. Imagem: Isah Baptista





         Os defensores dessa destruição do patrimônio histórico chamam a isto de progresso. Um progresso que sufoca a cultura tem ingredientes de prepotência e megalomania.  Há muito espaço na Zona Urbana para se desenvolver,  crescer o patrimônio dos investidores e contribuir para o desenvolvimento do município.  Mas o filé mignon se encontra na área do metro quadrado mais caro do município.  O material de construção custa o mesmo preço para uma obra realizada na periferia, ou na área nobre do perímetro urbano. Mas o lucro é maior para as construções onde o preço de venda atinge os patamares mais altos.  O retorno do capital aplicado é tentador.

         A inconveniência dessa febre imobiliária no centro decorre do fator da alta densidade demográfica.  Mora muita gente em espaço pequeno. As ruas se encontram congestionadas. A pista de rolamento não comporta maior número de veículos transitando nesse espaço. O calçamento de asfalto e paralelepípedo se encontra trincado, danificado.  Quanto mais edifícios se levantam, mais apartamentos, mais veículos na garagem, e menos  lugar para estacionamento.  Cada garagem é um trecho a menos. 

         Pelo que vemos até agora, a paisagem urbana já está duramente violentada. As novas construções vão surgindo sem qualquer disciplina de conjunto.  O individualismo leva ao comportamento egoísta de cada um por si.  A vista coletiva vira um caos, uma desarmonia arquitetônica de uma cidade sem regras, porque os poderes públicos deixaram de estabelecer em tempo hábil um código de construções e edificações, que preservasse estética entre o novo e o antigo.  Há, na verdade, um sufoco da expressão da liberdade coletiva pela imposição da prepotência individual, ou de grupos econômicos que buscam o interesse imediato, que se torna tirânico diante do bom senso e da inteligência.
Praça 28 de Setembro: congestionamento e desarmonia arquitetônica. Imagem: Isah Baptista


         Desta vez, a agressão chegou ao coração da Praça 28 de Setembro, onde a área suspeita de desabamento do Hotel Braga foi simplesmente demolida, anexa ao lote da Casa Telles.  Ficou aquele vazio lúgubre, que nos parece a vista de um Titanic, quando a orquestra começa a ver esvoaçarem suas partituras.   
Hotel Braga. Imagem: Site da Prefeitura
Esquina de Rua Presidente Antônio Carlos com Praça 28 de Setembro. Espaço vazio pela demolição da Casa Telles e parte do Hotel Braga. Imagem: Paulo César Cardoiso



(Franklin Netto – viscondedoriobrancominasgerais@gmail.com)        

Nenhum comentário:

Postar um comentário