31/03/2013 00h00
1984 : O DIA QUE DUROU 21 ANOS
A triste história da derrubada militar do Governo Constitucional de J.Goular no dia 31 de março de 1964
O dia 31 de março de 1964 alongou-se
em apreensões, durante alguns dias, quando as tropas do General Mourão
Filho saíram de Minas Gerais, em direção ao Rio, para derrubar o Presidente
João Goulart. Ele proclamava:
MANIFESTO DO
GENERAL OLYMPIO MOURÃO, DEFLAGRADOR DO GOLPE MILITAR, EM 31 DE MARÇO DE 1964
À Nação e às Forças
Armadas:
Faz mais de dois
anos que os inimigos da Ordem e da Democracia, escudados na impunidade que lhes
assegura o Senhor Chefe do Poder Executivo, vêm desrespeitando as instituições,
enxovalhando as Forças Armadas, diluindo nas autoridades públicas o respeito
que lhes é devido em qualquer nação civilizada, e, ainda, lançando o povo em
áspero e terrível clima de medo e desespero.
Organizações espúrias
de sindicalismo político, manobradas por inimigos do Brasil, confessadamente
comunistas, tanto mais audaciosos quanto estimulados pelo Senhor Presidente da
República, procuram infundir em todos os espíritos a certeza de que falam em
nome de um Estado estrangeiro, a cujos interesses imperialistas estão servindo
em criminosa atividade subversiva, para traírem a Pátria Brasileira, tão
generosa e cavalheiresca.
E o atual governo,
a cujos projetos que negam a soberania do Brasil vêm servindo essas organizações,
dá-lhes até mesmo a faculdade de nomear e demitir ministros, generais e altos
funcionários, objetivando, assim, por conhecido processo, a desfazer as
instituições democráticas e instituir, aberrantemente, o totalitarismo que nega
a Federação, a República, a Ordem Jurídica e até mesmo o progresso social.
Tentaram revoltar o
disciplinado e patriótico “Círculo de Sargentos”, e, recentemente, essas
organizações e esse governo tudo fizeram para desmoralizar e humilhar a Marinha
de Guerra do Brasil, na mais debochada e despudorada ofensa à sua disciplina e
hierarquia, que nela devem predominar.
O povo, governos
Estaduais e Forças Armadas, animados de fervoroso sentimento patriótico,
repelem esse processo caprichosamente executado pelo Senhor Presidente da República,
o qual, divorciado dos preceitos constitucionais, negando solene juramento,
pretende transformar o Brasil, de Nação soberana que é, a um ajuntamento de
sub-homens, que se submetem a seus planos ditatoriais.
Na certeza de que o
Chefe do governo está a executar uma das etapas do processo de aniquilamento
das liberdades cívicas, as Forças Armadas, e, em nome delas, o seu mais humilde
soldado, o que subscreve este manifesto, não podem silenciar, diante de tal
crime, sob pena de com ele se tornarem coniventes.
Eis o motivo pelo
qual conclamamos todos os brasileiros e militares esclarecidos para que, unidos
conosco, venham ajudar-nos a restaurar, no Brasil, o domínio da Constituição e
o predomínio da boa-fé no seu cumprimento.
O Senhor Presidente
da República, que ostensivamente se nega a cumprir seus deveres
constitucionais, tornando-se, ele mesmo, chefe de governo comunista, não merece
ser havido como guardião da Lei Magna, e, portanto, há de ser afastado do Poder
de que abusa, para, de acordo com a Lei, operar-se a sua sucessão, mantida a
Ordem Jurídica.
Juiz de Fora, 31 de
março de 1964.
Assinado por mim
Olympio Mourão Filho, General-de-Divisão, Comandante da 4a Região
Militar a da 4a Divisão
de Infantaria.
Fonte: MOURÃO,
Laurita. Mourão: o general do pijama vermelho. Rio de Janeiro: Francisco Alves,
2002
Hoje se sabe que o Golpe foi
apenas um dos tristes episódios da Guerra Fria, que opunha União Soviética de
um lado – comunista – e Estados Unidos – capitalista-, de outro, levando
este último a inúmeras e condenáveis intervenções na América
Latina na sua suposta “defesa”. Mas naqueles dias de 64 ninguém
sabia o que poderia ocorrer. Resistência, tal como ocorrera em agosto de 1961,
quando Leonel Brizola, Governador do Rio Grande, se opôs à tentativa de
golpe com idênticas intenções com a “Luta pela Legalidade”? Adesão dos
Governadores dos Estados com grande peso político como São Paulo – Ademar de
Barros – e Guanabara (RJ), onde pontificava o vociferante Carlos Lacerda
e consagração do golpe? Guerra Civil, alimentada por facções militares...?
Distúrbios e instabilidade política...?
Poucos dias depois a expectativa
assustava-se diante do inevitável: O golpe prosperara, quase sem resistências,
embora com episódios de extrema violência, no próprio âmbito das forças
armadas, como o que vitimou o Comandante da 5ª Zona Aérea, em Canoas, Cel.
Alfeu de Alcântara Machado, pai de uma velha amiga – Malena- , quem luta
até hoje pela sua memória, junto com outros amigos do referido coronel:
“Em 4
de abril de 1964, o então tenente-coronel da Aeronáutica Alfeu de Alcântara
Monteiro, comandante da Base Aérea de Canoas, Rio Grande do Sul, foi morto a
tiros por outros militares, dentro de seu próprio gabinete, por recusar-se a
apoiar o golpe militar que derrubara o então presidente da República João
Goulart em 31 de março. Há uma versão, adotada pelo livro "Tortura Nunca
Mais", de que ele foi morto com 16 tiros de metralhadora, pelas costas. A
versão defendida por ex-militares que apoiaram a ditadura é de que ele foi
morto com um único tiro, após ter ferido com dois tiros o major-brigadeiro que
fora à base assumir seu comando, em nome dos golpistas.
Agora, um ex-colega de colégio e amigo do militar assassinado, o fotógrafo aposentado Hindemburgo Almeida Flores, 85 anos, lidera praticamente sozinho uma campanha para que o coronel Alfeu seja reconhecido como Herói da Pátria. Ele passou dias na Câmara dos Deputados, onde instalou cartazes com a história do primeiro assassinato político cometido pelos militares de 64, pedindo que a Câmara e o presidente Lula revejam o processo do ex-oficial morto por defender o Estado de Direito em 64.
A Comissão de Direitos Humanos se interessou pela história de Hindemburgo Almeida Flores e agora quer incluir o caso do coronel Alfeu em um trabalho mais amplo, de resgatar a história dos militares que resistiram ao golpe de 64, como o militar Sergio "Macaco", da FAB, que se recusou a jogar presos políticos no mar e também foi punido (faleceu alguns anos atrás).
Há mais de 30 anos, todo mês de abril Hindemburgo manda espalhar na cidade gaúcha de Itaqui, fronteira com a Argentina, onde nasceu Alfeu, faixas, cartazes e distribui material com informação sobre o que ocorreu com o ex-comandante da 5.ª Zona Aérea em 64.
Agora, um ex-colega de colégio e amigo do militar assassinado, o fotógrafo aposentado Hindemburgo Almeida Flores, 85 anos, lidera praticamente sozinho uma campanha para que o coronel Alfeu seja reconhecido como Herói da Pátria. Ele passou dias na Câmara dos Deputados, onde instalou cartazes com a história do primeiro assassinato político cometido pelos militares de 64, pedindo que a Câmara e o presidente Lula revejam o processo do ex-oficial morto por defender o Estado de Direito em 64.
A Comissão de Direitos Humanos se interessou pela história de Hindemburgo Almeida Flores e agora quer incluir o caso do coronel Alfeu em um trabalho mais amplo, de resgatar a história dos militares que resistiram ao golpe de 64, como o militar Sergio "Macaco", da FAB, que se recusou a jogar presos políticos no mar e também foi punido (faleceu alguns anos atrás).
Há mais de 30 anos, todo mês de abril Hindemburgo manda espalhar na cidade gaúcha de Itaqui, fronteira com a Argentina, onde nasceu Alfeu, faixas, cartazes e distribui material com informação sobre o que ocorreu com o ex-comandante da 5.ª Zona Aérea em 64.
(http://www.orkut.com/CommMsgs?cmm=11431697&tid=5567882640998687601)
Foram, aliás, os militares
legalistas, os primeiros perseguidos “em massa” pelo novo regime. Até hoje não
se sabe ao certo quantos deles foram expulsos – caso dos praças - , expurgados
– por atos administrativos e institucionais ou simplesmente punidos por se
negarem a cumprir ordens criminosas de seus superiores. Foram muitos e
eles abrem a galeria dos patriotas que se negaram a rasgar a Constituição
para implantar um regime de força que duraria 21 anos. No dia 03 de abril o
Presidente Jango, evitando o confronto de sangue, se retira para o exílio
que só acabaria com sua própria morte, até hoje suspeita e proclama em
Manifesto :
“Brasileiros!
Na capital da
República, numa noite em que forças reacionárias desencadearam u mais uma
vez o golpe contra as instituições democrática e contra a libertação
econômica da pátria, na plenitude de meus poderes constitucionais, que o povo
outorgou, que o povo ratificou, em pronunciamentos memoráveis, reafirmo a minha
inabalável decisão de defender intransigentemente , numa luta sem
tréguas, esse povo, mesmo contra as arremetidas da prepotência da pressão do
poder econômico.
Sei que o povo não
ignora o verdadeiro significado das pressões a que meu governo está sendo
submetido desde que, para salvaguardar o mais legítimos interesses da Nação,
tive que adotar no plano internacional uma política externa independente e no
plano interno medidas inadiáveis de proteção à sua espoliada economia. Arrastei
a fúria insensata e odienta dos impatrióticos interesses contrariados. Não
acreditavam que fosse capaz de regulamentar a lei de remessa de lucros. Fui
ameaçado e intimidade. Não cedi e não cederei na sua rigorosa aplicação.
Preguei a reforma
agrária quando elas estava vitoriosa na cosciência e no espírito do povo,
negaram-me os meios legais para efetivá-la. Apelei para as minhas atribuições
constitucionais. E o decreto da Superintendência de Reforma Agrária –
SUPRA - que possibilitou o acesso à terra a todos que dela carecem para
sua subsistência, embora não consubstanciasse uma reforma agrária verdadeira,
uma reforma reclamadas pelos princípios cristãos de justiça social, foi
lavrada. O que determinou o recrudescimento de ódios e paixões.
O monopólio da
importação do óleo cru, a encampação das refinarias como desdobramento
indispensável da nossa política petrolífera, conquista definitiva da vontade e
da consciência soberana do nosso povo, tantas vezes adiadas por governos que me
antecederam foram atos que pratiquei com serena coragem na certeza de que
servia ao Brasil, mas certo tam bem de que outra poderosa frente de luta se
abril dentro de mi.
Quando meu governo
se impunha vitoriosamente na repressão da ganância dos exploradores da
economia popular, quando o governo se levantou contra a exploração dos preços
da distribuição dos genros de primeira necessidade, quando se levantou em
defesa do povo, tabelando os medicamentos, fixando aluguéis, assisti
mancomunar-se novamente contra mim uma ação insidiosa dos que sempre se
locupletaram com a miséria do nosso povo..
Quanto à inflação
pela qual não se pode responsabilizar o meu governo , que tudo tem feito para
debelá-la, procurando inclusive atacar as suas causas estruturais através das
reformas de base, quando essa inflação corroia salários e vencimentos e
ampliava a área de miséria entre as famílias da classe média, remuneração do
trabalho, enviando ao Congresso mensagem solicitando escala móvel dê de
salários.
Levantou-se a grita
da incompreensão e do egoísmo, do capitalismo intolerante, desumano,
anticristão.
Tais medidas e tudo
o mais substanciado na política autenticamente popular decorrente da minha
fidelidade ao ideário de Vargas e as compromissos do meu passado, em lutas
nacionalistas, somaram-se forças políticas e econômicas desavindas entre si,
mas que se uniam , entretanto, na impatriótica tentativa de impedir que ao povo
brasileiro fosse assegurado melhores padrões de cultura, de segurança
econômica, de bem estar social. Exploraram o sentimento religiosos, como se meu
governo não fosse daqueles que na história da República mais se empenharam em
cercar de prestígio, de conciliação e de respeito os dignitários do Episcopado
da Igreja Católica e dos demais credos religiosos. Mistificam-se com a
supervalorização do perigo comunista, como se não fôssemos uma democracia
plantada irremovivelmente no coração de nossa gente.
Estou firme da
defesa e ao lado do povo. Do povo em que acredito e em quem deposito a certeza
da vitória de nossa causa.
Não recuarei, não
me intimidarão. Reagirei aos golpes dos reacionários , contando com a lealdade
e a honra das forças militares e com a sustentação das forças populares do
nosso país.”
João Goulart , 03
de abril de 1964
O Golpe de 1964 impressiona por
várias razões. A primeira, pela sua duração, até 1985. Ninguém acreditava que
ele sobrevivesse politicamente até o final de 64, tanto entre seus
protagonistas, que esperavam “restaurar a democracia”, como entre os
derrotados, inclusive comunistas. Era voz corrente que a falta de apoio
popular, a crise econômica que se pensava fosse “estrutural” e não apenas
conjuntural – mito que só se desfez muitos anos mais tarde, graças, aliás a um
famoso artigo de Maria de Conceição e José Serra (Mas Allá de la estagnación)
que tive a honra de ler em manuscrito no Chile, alimentavam ilusões sobre a
transitoriedade do feito. Guardo na memória apenas uma advertência: Luiz
Treiguer, pai do meu grande e saudoso amigo Cláudio, economista, disse-nos :
“Vai durar 30 anos...! Quase durou, Luiz...! V. tinha razão...Veja-se o “estado
de espírito” que se estava preparando junto à opinião pública:
Editorial do jornal "O Globo" do Rio de
Janeiro, em sua edição de 02 de setembro de 1964.
RESSURGE A DEMOCRACIA
Vive a Nação dias
gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente de
vinculações políticas, simpatias ou opinião sobre problemas isolados, para
salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao
heroísmo das Forças Armadas, que obedientes a seus chefes demonstraram a falta
de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil
livrou-se do Governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos
contrários à sua vocação e tradições. Como dizíamos, no editorial de anteontem,
a legalidade não poderia ser a garantia da subversão, a escora dos agitadores,
o anteparo da desordem. Em nome da legalidade, não seria legítimo admitir o
assassínio das instituições, como se vinha fazendo, diante da Nação
horrorizada.
Agora, o Congresso
dará o remédio constitucional à situação existente, para que o País continue
sua marcha em direção a seu grande destino, sem que os direitos individuais
sejam afetados, sem que as liberdades públicas desapareçam, sem que o poder do
Estado volte a ser usado em favor da desordem, da indisciplina e de tudo aquilo
que nos estava a levar à anarquia e ao comunismo. Poderemos, desde hoje,
encarar o futuro confiantemente, certos, enfim, de que todos os nossos
problemas terão soluções, pois os negócios públicos não mais serão geridos com
má-fé, demagogia e insensatez.
Salvos da
comunização que celeremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos
bravos militares, que os protegeram de seus inimigos. Devemos felicitar-nos
porque as Forças Armadas, fiéis ao dispositivo constitucional que as obriga a
defender a Pátria e a garantir os poderes constitucionais, a lei e a ordem, não
confundiram a sua relevante missão com a servil obediência ao Chefe de apenas
um daqueles poderes, o Executivo. As Forças Armadas, diz o Art. 176 da Carta
Magna, "são instituições permanentes, organizadas com base na hierarquia e
na disciplina, sob a autoridade do Presidente da República E DENTRO DOS LIMITES
DA LEI.
No momento em que o Sr. João Goulart ignorou a
hierarquia e desprezou a disciplina de um dos ramos das Forças Armadas, a
Marinha de Guerra, saiu dos limites da lei, perdendo, consequentemente, o
direito a ser considerado como um símbolo da legalidade, assim como as
condições indispensáveis à Chefia da Nação e ao Comando das corporações
militares. Sua presença e suas palavras na reunião realizada no Automóvel
Clube, vincularam-no, definitivamente, aos adversários da democracia e da lei.
Atendendo aos anseios nacionais, de paz, tranqüilidade e progresso,
impossibilitados, nos últimos tempos, pela ação subversiva orientada pelo
Palácio do Planalto, as Forças Armadas chamaram a si a tarefa de restaurar a
Nação na integridade de seus direitos, livrando-os do amargo fim que lhe estava
reservado pelos vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal.
Este não foi um
movimento partidário. Dele participaram todos os setores conscientes da vida
política brasileira, pois a ninguém escapava o significado das manobras
presidenciais. Aliaram-se os mais ilustres líderes políticos, os mais
respeitados Governadores, com o mesmo intuito redentor que animou as Forças
Armadas. Era a sorte da democracia no Brasil que estava em jogo. A esses
líderes civis devemos, igualmente, externar a gratidão de nosso povo. Mas, por
isto que nacional, na mais ampla acepção da palavra, o movimento vitorioso não
pertence a ninguém. É da Pátria, do Povo e do Regime. Não foi contra qualquer
reivindicação popular, contra qualquer idéia que, enquadrada dentro dos
princípios constitucionais, objetive o bem do povo e o progresso do País.
Se os banidos, para
intrigarem os brasileiros com seus líderes e com os chefes militares, afirmarem
o contrário, estarão mentindo, estarão, como sempre, procurando engodar as
massas trabalhadoras, que não lhes devem dar ouvidos. Confiamos em que o Congresso
votará, rapidamente, as medidas reclamadas para que se inicie no Brasil uma
época de justiça e harmonia social. Mais uma vez, o povo brasileiro foi
socorrido pela Providência Divina, que lhe permitiu superar a grave crise, sem
maiores sofrimentos e luto. Sejamos dignos de tão grande favor.
Mas dentre outras impressões, entre
elas o terror de Estado implantado nos “Anos de Chumbo – 1968-1974”
interposto pelo famigerado Ato Institucional nº5, de 13 de dezembro de
1968, com o velado apoio dos órgãos da grande imprensa e de grandes
empresários, o Golpe de 64 impressiona, principalmente,
apesar de seu longo predomínio na vida nacional, pela inconsistência ideológica
e pelo seu hibridismo. Não “reproduz”...Ao contrário da Revolução de 1930,
cujas emanações políticas ele pretendeu abolir e que prosperam, seja como
reconhecimento, seja como herança política em personagens como Lula. Apesar de
seu suposto caráter “liberal”, o regime de 64 não se impôs como tal , nem na
economia, muito menos na política. Roberto Campos, seu primeiro mentor
econômico, criador do IPEA, do BNH e do Estatuto da Terra, sucumbiu à crise e
cedeu lugar a um novo Czar, Delfim Neto, um intervencionista, hoje conselheiro
de Lula-Dilma. O General Castelo Branco, oficial de escol, quem assumiu a
Presidência da República pelo voto indireto de um Congresso Nacional
emasculado, com o intuito de “completar” o mandato de Jango, considerado vago,
cedeu lugar à “cavalaria rusticana” de inteligência formal -
mas duvidosa- dos aparelhos de segurança do Estado. Tanto que o último
Presidente, João Figueiredo, fora, antes, Chefe do temível Serviço Nacional de
Informações – SNI, extinto por Fernando Collor. Assim, o liberalismo econômico
de mercado teria que esperar redemocratização com Collor e mais enfaticamente
Fernando Henrique Cardoso, este franco opositor do regime, para instaurar-se
como inspiração governamental. E o liberalismo político...? Este jamais vingou.
Virou maldição. Tanto que o Brasil é o único país moderno no qual nenhum
Partido é “liberal”. Todos são mais ou menos social-democratas, de centro,
centro-esquerda, centro-direita, distantes do ideário clássico do liberalismo.
A ARENA, partido do “sim” à ditadura, mesmo metamorfoseando-se em PDS, Frente
Liberal, PP, DEM etc não tinha, rigorosamente, nenhuma consistência
ideológica, apenas “interesses”. O regime militar ficou, assim, à deriva da
História, defendido apenas por alguns de seus protagonistas, alguns honrados,
como Jarbas Passarinho, outros, simplesmente caricaturais, dos quais descende o
Deputado Coronel Bolsonaro.
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